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Sem caixa registadora e funcionários, na Livrearia pagas na loja ao lado
O espaço abriu no ano passado em Ponte de Lima. Aqui não há vigilância nem funcionários, se quiseres um livro pagas nas lojas vizinhas.
Quem entra pelas portas da Livrearia, no Largo da Matriz, em Ponte de Lima, vai encontrar livros em segunda mão. Mas com uma diferença: o espaço não tem caixa registadora, funcionários ou vigilância. Qualquer pessoa pode entrar no espaço, escolher um livro e ficar a apreciá-lo. Se o quiser levar para casa, tem de pagar nas lojas vizinhas -- o objectivo é promover o contacto com a comunidade local.
Já foi uma tasca, uma churrasqueira e uma loja de bicicletas. Agora, Manuel Pimenta quis dar uma quarta vida ao espaço que era propriedade do seu avô, com a ajuda dos arquitectos (e amigos) Paulo Vale Afonso e Joana Nunes e da designer Madalena Martins.
Queriam que fosse uma loja “económica, simples, que não fosse ambiciosa, nem um luxo”, explicou Paulo Vale Afonso ao P3. Decidiram privilegiar a qualidade do espaço, preservar algumas marcas de ocupações passadas e “não dar tanto valor a [elementos] artificiais” que poderiam enfeitar o local.
“Optámos por [criar] um espaço muito cru”, recorda. Por isso, fizeram o “mínimo”. As paredes foram pintadas e o chão foi refeito em betão. Aqui, o principal é a estante.
Criou-se um local “dedicado à palavra e à arte” centrado numa estante de madeira (que também serve de assento para quem quiser ficar a ler). Nesta estante, as luzes mereceram um “especial cuidado”, pois servem para “realçar os livros e as obras de arte” expostas.
“Numa biblioteca, numa livraria ou num espaço dedicado aos livros, é a estante o sítio natural onde [as obras] repousam”, começou por descrever Paulo Vale Afonso. Como tal, pareceu-lhes interessante fazer da estante o “elemento principal que gere” e que “unifica” o espaço; um elemento que ajuda a Livrearia a ser ainda mais “polivalente e multifuncional”, acrescentou.
“Esta estante pode ser uma coisa que se vai modificando ao longo do tempo”, afirma o arquitecto. Foi pensada para que desse lugar a leituras, a exposições e a outro tipo de eventos culturais. “Apesar de ser um espaço pequeno”, a Livrearia foi criada para vir responder “às necessidades" que vai ter "ao longo dos tempos”.
Embora este projecto tenha sido pensado para Ponte de Lima, Paulo Vale Afonso acredita que este conceito “pode funcionar em qualquer lado”. “Em tom de brincadeira, costumamos dizer que esta é a primeira Livrearia” e “que isto se podia tornar num franchise a nível mundial”, admitiu.
"Comece por desapertar o cinto que o prende à terra e sinta-se convidado a voar para dentro dos livros”, lê-se numa tabuleta à entrada da loja. “Caso se apaixone por algum, mantenha a calma e agarre-se bem a ele. Depois dirija-se a um dos comércios vizinhos para tratar das formalidades. Poderá fazê-lo na padaria ao lado, no pronto-a-vestir, duas casas à esquerda ou, na farmácia, também situada neste apolíneo largo".
O dinheiro angariado a partir da venda de livros é utilizado para a realização de eventos artísticos. O primeiro espectáculo de 2024 vai realizar-se já no próximo sábado, dia 20 de Janeiro, com Adolfo Luxúria Canibal, vocalista do grupo Mão Morta.
Texto editado por Inês Chaíça