Hoje de manhã cedo comecei o dia com a notícia de centenas de pessoas a morrer no Congo após inundações repentinas que deixaram a região submersa. A semana do Azul foi agitada. Sabemos agora, oficialmente, que 2023 foi o ano mais quente das nossas vidas. Ouvimos mais um alerta sobre os invisíveis nanoplásticos que estão em todo o lado, desta vez olhando para a água que bebemos e que está dentro de garrafas de plástico. Soubemos da descoberta de novas espécies em 2023: desde uma orquídea encontrada num vulcão adormecido até uma árvore que vive debaixo do solo. Houve mais, muito mais.

Mas há notícias preocupantes sobre um outro "ambiente" ameaçado.

O Azul não pode fugir do inevitável tema que nos tem afectado a todos. E, na verdade, não estamos a desviar-nos do território do Azul. O Azul fala-nos sobre o ambiente em que vivemos, muitas vezes minado de ameaças e agentes tóxicos. A crise no Global Media Group tem todos estes ingredientes e toca-nos a todos, ao Azul também.

Há, como no clima, uma crise nos media. E, como no clima, esta crise não começou agora. Há, como no clima, uma ameaça séria, agentes tóxicos, uma inquietante demora na procura de soluções e uma inacção exasperante. Como no clima, o futuro e viabilidade deste ecossistema está nas mãos de todos, sejam eles os empresários e outras entidades que nele investem, os jornalistas que dele cuidam ou os leitores que o alimentam.

Assim, apesar de todas as notícias que publicámos no Azul esta semana, faltou-nos esta sobre a crise nos media aqui mesmo ao lado e que nos afecta a todos. Com mais ou menos coragem, temos de a enfrentar. Porque com menos informação, menos histórias, menos vozes, sem concorrência, ficamos todos mais fracos, mais pobres. O leitor também.

Esta quinta-feira, não temos os nossos companheiros de banca de jornais. Não temos as notícias do DN e do JN que nos acompanham e tantas vezes nos inspiram a olhar para algo que nos escapou. Ontem a TSF calou-se, não nos fez ir atrás das vozes que contam histórias que não temos. E que nos últimos meses tem insistido em dar com todo o sacrifício e sem salário. São a concorrência que nos completa, para seu benefício: do leitor. E faz falta.

Como escreveu a jornalista Mariana Correia Pinto, ontem, na Avenida dos Aliados, no Porto, os jornalistas do grupo Global Media fizeram-se notícia para se oporem ao anunciado despedimento colectivo de 150 a 200 trabalhadores e contestarem o atraso no pagamento dos salários e subsídio de Natal.

A greve, com adesão total, paralisou meios de comunicação social como o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, a TSF ou O Jogo e contou com a solidariedade de dezenas de jornalistas de outros órgãos, entre eles o PÚBLICO, que se juntaram aos protestos no Porto e em Lisboa e fizeram uma greve solidária de uma hora.

Assim, neste momento, mais do que falar-vos das notícias que vos demos no Azul ao longo da semana, queremos apenas lamentar o silêncio das notícias dos outros e que vos faltaram. Esta carta é sobre as notícias que não leram.