Fazer pela Saúde

Como conciliar um acesso universal à saúde com uma conjuntura demográfica e económica adversa?

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Celebrámos na terça-feira, 12 de Dezembro, o Dia Mundial do Acesso Universal à Saúde, proclamado pelas Nações Unidas. Isto acontece num momento em que, tanto o Sistema Nacional de Saúde português, como também os de outros países europeus, se encontram em crise. O caso do Reino Unido, que dispõe do mais antigo sistema de saúde de caráter universal, é paradigmático. Segundo o reputado jornal The Guardian, o sistema britânico “está a cair aos pedaços”.

As causas por detrás desta crise, aquém e além-fronteiras, são diversas, mas apresentam, pelo menos, dois denominadores comuns: (i) o aumento das necessidades da população no que toca à prestação de cuidados de saúde, sobretudo em razão do seu envelhecimento; e (ii) a insuficiência ou ineficiência do investimento público, seja em virtude de constrangimentos orçamentais, seja por inadequação de meios, seja por motivos de índole ideológica. Face a esta exigente conjugação de circunstâncias, alguns governos europeus têm-se visto sem mãos a medir para satisfazer necessidades crescentes com recursos cada vez mais limitados.

O Dia Mundial do Acesso Universal à Saúde convoca-nos a reconhecer que esta é uma crise que cumpre resolver com base numa visão política coordenada. Desde logo, porque as deficiências no acesso à saúde expõem os cidadãos a enormes riscos, o que é especialmente sensível para os mais vulneráveis. Além disso, a garantia de acesso a cuidados de saúde é um instrumento-chave de coesão social. Ao assegurar que ninguém é deixado para trás, o Estado promove um espírito de solidariedade e entreajuda entre os cidadãos que constitui a base de uma democracia inclusiva. Por estas razões, o acesso universal deve ser protegido.

Portanto, a questão que se coloca é a seguinte: como conciliar um acesso universal à saúde com uma conjuntura demográfica e económica adversa?

Todavia, quando analisado segundo o prisma da inovação, este dilema pode ser ultrapassado. É que o uso de novas ferramentas digitais tem um enorme potencial para transformar a prestação de cuidados de saúde, tornando-os, simultaneamente, mais acessíveis ao público e mais eficientes do ponto de vista económico.

Para ilustrar este ponto, vale a pena referir alguns exemplos. Veja-se o caso da Inteligência Artificial, a qual poderá trazer uma maior rapidez e precisão nos diagnósticos por parte dos radiologistas, encurtando significativamente as listas de espera. Tal aplica-se, nomeadamente, ao cancro, cujo diagnóstico com recurso à Inteligência Artificial foi, recentemente, objeto de um projeto-piloto no Reino Unido com o intuito de reduzir os atuais 30 a 40 minutos necessários para analisar uma tomografia.

Da mesma maneira, a monitorização remota de utentes poderá eliminar a necessidade de internamento hospitalar em muitos casos, reduzindo os custos envolvidos.

Por sua vez, o recurso a aplicações digitais poderá possibilitar uma maior autonomia dos utentes ao nível dos cuidados primários, com importantes ganhos na prevenção e controlo de doenças crónicas. Neste sentido, um instituto britânico recomendou recentemente que seja atribuído aos indivíduos que sofrem de diabetes tipo I um sensor que permite controlar continuamente o nível de glucose do corpo, transmitindo, em direto, esses dados a uma bomba que nele injeta, automaticamente, insulina em caso de necessidade.

São apenas alguns exemplos de ferramentas digitais que poderão proporcionar, simultaneamente, um melhor nível de serviço e poupanças significativas.

É certo que a transição digital não vai resolver todos os problemas dos sistemas de saúde. Aliás, ela traz também os seus próprios desafios, como a necessidade de investir em novas infraestruturas e de capacitar os recursos humanos que com elas trabalham. Mas, se bem usada, poderá dar um contributo decisivo para evitar que o Dia Mundial do Acesso Universal à Saúde se transforme numa mera efeméride.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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