Distribuição e produtores

Ficando as cadeias de distribuição com a fatia de leão da riqueza gerada pelo sector, o desaparecimentodos pequenos e médios produtores da fileira agroalimentar parece inevitável.

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A sustentabilidade económica dos agricultores e dos empresários da indústria agroalimentar, em Portugal, é difícil de ser atingida. As limitações nas margens brutas da sua atividade económica, impostas pelas cadeias de distribuição – meia dúzia de cadeias controlam mais de 70% do mercado e há deficiente regulação do Estado a esta prática económica “do rolo compressor de preços” –, a juntar à concorrência no mercado nacional de produtos importados, sobretudo de Espanha, com baixos valores de transporte das produções que não tiram competitividade aos custos de produção também mais baixos (gasóleo, eletricidade, fertilizantes, seguros, etc.), são fatores de risco.

O agroalimentar tem feito fortes investimentos, nomeadamente na digitalização, automação, etc., tem cumprido as regras de sustentabilidade ambiental, descarbonização, economia circular, respeito pela biodiversidade, sustentabilidade social, emprego local, formação dos trabalhadores, harmonização entre vida profissional e privada, etc.

As cadeias de distribuição adotam, e bem, práticas sustentáveis exigidas pelos consumidores, quer na própria organização, quer nas imposições aos seus fornecedores, os agricultores e o agroalimentar.

Estes nem sempre conseguem repercutir nos preços de venda dos seus produtos estas exigências do mercado. Este elo da fileira alimentar, a distribuição alimentar organizada, está muito focado na sua comunicação pública, da sustentabilidade ambiental e social, sendo omisso, nos seus relatórios públicos de sustentabilidade, quanto aos lucros que consegue, em comparação com os lucros dos seus fornecedores. Há dúvidas, por omissão da informação à sociedade, se a respetiva robusta sustentabilidade económica não é conseguida pondo em causa este tipo de sustentabilidade em players do elo da fileira a montante, com quem têm relações comerciais.

A fileira do agroalimentar está a acompanhar com sucesso as políticas europeias de sustentabilidade ambiental e social. O esforço organizacional e financeiro por parte dos agricultores e dos empresários do agroalimentar devia ser acompanhado por uma mais justa distribuição da riqueza gerada por todos os elos da fileira.

Ficando as cadeias de distribuição com a fatia de leão desta riqueza, o desaparecimento, paulatino e a médio prazo mais acentuado, dos pequenos e médios produtores parece inevitável. A não ser que se lancem políticas de nova geração, obrigando a uma justa distribuição da riqueza gerada. Tendo em conta o interesse público deste facto para o desenvolvimento, coeso e equilibrado, do território de Portugal, será justo questionar, em nome do superior interesse público, se os interesses dos produtores serão acautelados pelas políticas públicas para os próximos quatro anos, se o tema irá constar e ver reconhecida a sua importância nos programas eleitorais dos principais partidos que concorrem às eleições de 10 de março de 2024.

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