It takes two to tango? O papel das minorias e a literacia em saúde

Debatemo-nos todos os dias com a necessidade de uma comunicação não-violenta e inclusiva por parte dos profissionais, das organizações e, também, de quem se assume como minoria.

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Há evidência do sofrimento e do estigma que acompanham as minorias, entre as quais a LGBT, pela falta de acesso e pela falta de atendimento adequado e investimento nos seus problemas. Revemos nas leituras e debates que as minorias sexuais e de género (que se identificam como sendo LGBTQIA+ — lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer, intersexo, assexuais e outros) têm condições de saúde piores do que as outras pessoas. O que acontece neste grande carrossel da vida, das identidades e da saúde?

Temos, por um lado, um sistema cheio de problemas existenciais e estruturantes que tenta combater a falta de tempo, a remuneração inadequada, a falta de recursos, sejam eles humanos, materiais ou financeiros, entre outros. Algumas vezes, mesmo que sem intenção dolosa, isto é, sem intenção de prejudicar, usam-se microagressões, discretas, invasivas na autoestima e incisivas no reforço do estigma. Como um lençol curto que, quando puxamos para a cabeça, ficam os pés destapados.

Então, como conjugar, por um lado, um sentimento evidente de falta de investimento no trabalho para diminuir as carências e estigmas bem definidos, que obviam a equidade e o tratamento da pessoa num sistema complexo; e, por outro, um sistema cujas pilhas estão enfraquecidas para a máquina que deve por a funcionar?

Uma solução que a literacia em saúde reforça e ajuda no processo de transparência e eliminação do estigma é o investimento em competências, isto é, a aposta em mais conhecimento, maior capacidade (autoeficácia) e um investimento nos atributos pessoais (o que as pessoas têm de melhor deve ser valorizado).

É através deste desenvolvimento de competências (um constructo), feito através de treino on-job ou de formação, seja nas áreas da saúde, na escola, na vida social ou na cultura, que se consegue abraçar a diferença, mas tendo sempre em mente que “é preciso ser diferente”. Este viajar pela consciência da natureza diversa de uns e de outros e o desenvolvimento de competências acordam mentalidades e despertam os sentidos — através dos princípios e práticas da comunicação não-violenta, do respeito mútuo, da clareza de linguagem na explicação dos factos técnicos e da construção positiva dos comportamentos.

Debatemo-nos todos os dias com a necessidade de uma comunicação não-violenta e inclusiva por parte dos profissionais, das organizações e, também, de quem se assume como minoria. No Mês do Orgulho LGBTQIA+, lembremo-nos que não há minorias que impliquem um rebaixamento da qualidade do ser humano. A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia e a Constituição da República Portuguesa são determinantes: todos iguais perante a lei.

Esta foi também uma das conclusões da ronda de miniassembleias e conferências com debate que foram feitas pela Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde: vamos eliminar o estigma. Todos nós.

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