PSuperior Talks: nem toda a desinformação é fake news

“A tecnologia no combate à desinformação” foi o tema do segundo debate da nova edição das PSuperior Talks, que juntam estudantes, especialistas e jornalistas do PÚBLICO nas universidades portuguesas.

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PSuperior Talks Anna Costa

As fake news sempre existiram, tal como os rumores e boatos. Mas o que mudou quando os propagadores de notícias falsas ganharam a Internet e as redes sociais? Foi assim que começou, nesta terça-feira, 18 de Abril, o debate “A tecnologia no combate à desinformação”, que juntou Ana Rocha de Paiva, gestora de Programas de Inovação e Desenvolvimento para os Media na Europa, Médio Oriente e África (EMEA), na Google, Álvaro Figueira, director do mestrado em Data Science da Universidade do Porto e especialista em data mining, Carlos Alves, presidente da Associação de Estudantes da FEUP, e Dina Margato, professora universitária e membro do IBERIFIER.

A conversa na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, moderada por Manuel Carvalho, director do PÚBLICO, foi o segundo momento da nova edição das PSuperior Talks.

Desinformação vs. fake news

Numa primeira intervenção, Dina Margato começa por explicar que “as redes sociais funcionam como um megafone”, sendo fácil em poucos minutos fazer chegar uma informação a milhares de pessoas. A professora universitária acrescenta que a desinformação é “um fenómeno que sempre existiu” e que as consequências “sempre se fizeram sentir”. Um exemplo, comenta, foi o boato sobre a associação de Amália Rodrigues à PIDE, a polícia política da ditadura do Estado Novo (na verdade, a fadista apoiou a causa antifascista).

Mas nem tudo o que é desinformação pode ser classificado como fake news, uma vez que, em alguns casos, “uma pessoa pode dar uma informação errada sem a intenção de provocar danos”, refere Álvaro Figueira. A distinção entre os dois termos foi apoiada pelo restante painel de oradores.

Carlos Alves defendeu que os jovens “estão preocupados com a desinformação e há um cuidado naquilo que partilham nas redes”. O presidente da Associação de Estudantes da FEUP reflecte sobre a questão das redes sociais e conclui que estas ferramentas vieram dificultar a filtragem que se faz da informação — alertando para a importância de preparar os estudantes para esta realidade.

Falando em redes sociais e Internet, Ana Rocha de Paiva, em representação da Google, uma das promotoras do debate inserido nas PSuperior Talks, reconhece “o desafio enorme que é combater a desinformação”. A empresa fez parcerias com outras entidades e órgãos de comunicação, mas a gestora admite que ainda há um caminho longo a percorrer e que este é um problema “que nunca vai estar completamente resolvido”.

Literacia mediática

Tal como explora Dina Margato, a literacia mediática é cada vez mais importante no sentido em que “devemos dar mais instrumentos para as pessoas estarem preparadas para esta realidade” e saberem como agir. Já Carlos Alves explica que a própria faculdade tem vindo a desenvolver uma formação para os estudantes terem ferramentas que permitam explicar como se deve recolher e tratar a informação que encontram online.

Álvaro Figueira menciona o seu trabalho na área da ciência aplicada e acrescenta que também observa as consequências da desinformação, sendo que, apesar das várias ferramentas que existem, “nem sempre é fácil perceber se uma informação é falsa ou não”.

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A caminhar para o fim do debate, surge a questão da verdade, da sua importância e da forma como é hoje encarada. Dina Margato toca nos pontos da desvalorização da verdade e da desconfiança, que acredita serem “o grande problema da desinformação”. Esta visão é apoiada por Carlos Alves, que recorda que, “na pandemia, os jovens percebiam a questão da vacinação e das suas vantagens, mas muita da informação que circulava nas redes dizia o contrário”. Acrescenta ainda que é costume dizer-se que os jovens são desinteressados destes temas, pela política, mas que na verdade “estão interessados mas desacreditados e há sempre uma certa desconfiança”.

Ana Rocha de Paiva concorda e refere que “ainda não se conseguiu resolver a questão da partilha de desinformação através de canais privados, como o WhatsApp”. No final, Álvaro Figueira lembra que “as fake news também são uma indústria”. “É necessário formar bons leitores? Sim, mas isto é um problema de escala” onde existem vários emissores e múltiplos receptores, que vão invertendo os seus papéis, avisa.

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