Cinquenta activistas detidos em protestos contra abate de árvores sagradas na Austrália

Há dois anos que activistas estão acampados na área onde o Governo estatal quer construir um troço de uma auto-estrada.

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Pelo menos 50 pessoas foram detidas em protestos contra o abate de árvores com importância espiritual e cultural para um povo aborígene na Austrália. Muitas delas, segundo a polícia de Vitória, por não obedecerem às regras impostas para travar a pandemia da covid-19, noticia o The Age. Todas foram libertadas temporariamente, mas deverão comparecer em tribunal numa data ainda a decidir. 

Há dois anos que aborígenes e activistas acampam num terreno em Vitória para proteger as árvores que o Governo estatal quer remover para construir um novo troço de uma auto-estrada.

As tensões escalaram na segunda-feira, 26 de Outubro, quando as autoridades estatais destruíram um Eucalyptus melliodor conhecido como a “árvore das direcções”. Segundo as tradições Djab Wurrung, depois de um parto, a placenta seria misturada com as sementes de uma árvore e, a partir daí, cada criança teria uma “árvore das direcções”.

“Não consigo exprimir o quanto me dói o coração. É um pedaço de nós, é a forma como nos relacionamos e sobrevivemos. As minhas matriarcas Djab Wurrung estão devastadas”, escreveu a senadora do Partido Verde Lidia Thorpe, que pertence a esse mesmo povo aborígene, numa mensagem nas redes sociais, na segunda-feira.

A senadora divulgou também vários vídeos dos protestos e acções, no meio de receios de que outras árvores sagradas para este povo nativo sejam cortadas, enquanto se procuram formas legais de as proteger. Os manifestantes estimam que a árvore tenha 350 anos.

Por outro lado, a ministra dos Transportes e das Infra-estruturas de Vitória, Jacinta Allan, disse que a árvore identificada como “árvore das direcções" não era aquela, mas uma outra, que se mantém em pé e que não será removida. A Eastern Maar Aboriginal Corporation, que tem negociado com o Governo a protecção do património dos Djab Wurrung, disse que a árvore cortada na segunda-feira não foi identificada como “culturalmente significativa”. 

Os vídeos partilhados por activistas nas redes sociais mostram agentes da polícia a remover manifestantes, incluindo algumas pessoas que tinham trepado para as árvores. 

A Polícia do Estado de Vitória confirmou a remoção de tendas e manifestantes das áreas onde esta auto-estrada, com um custo de 112 milhões de dólares (98 milhões de euros), está a ser construída, entre as cidades de Buangor e Ararat.

Os incidentes em terras do povo Djab Wurrung ocorrem mais de quatro meses após a empresa mineira Rio Tinto ter feito explodir duas cavernas aborígenes com 46 mil anos para expandir as suas operações de mineração de ferro na região de Pilbara, no noroeste da Austrália.

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