“Passou por aqui uma guerra. ” Como se cuida de uma comunidade em risco de colapso psicológico
A saúde mental das pessoas afectadas pelos incêndios de há um ano foi tema de discussão ao longo de meses. Os cuidados foram ou não suficientes? E o que foi feito? No último ano, o PÚBLICO foi falando com utentes e com as psiquiatras que coordenam as equipas que fizeram mais de cinco mil consultas. Este é o retrato de uma comunidade em sofrimento prolongado a tentar erguer-se do luto e do trauma.
“Não lhe chamem estrada da morte.” Era Setembro, as festas de Verão tinham sido todas suspensas naqueles três concelhos, mas houve uma que, pela tenacidade das gentes da Moita, Castanheira de Pêra, e pela devoção à Nossa Senhora do Bom Sucesso, se manteve. Era gente triste a dançar com lágrimas, ali mesmo à beira da N236-1, que ficou com um rótulo que ninguém quer ouvir. “Ainda ontem passaram aqui uns turistas a perguntar pela estrada para verem onde morreram pessoas. Não têm vergonha”, ouve-se da conversa entre duas amigas no beiral da igreja onde dizem que se salvou uma família, no trágico dia 17 de Junho de 2017.
A conversa constante em torno da estrada e de todos os outros locais onde a tragédia aconteceu é uma faca de dois gumes. Na visão dos psiquiatras que têm acompanhado o evoluir da situação mental dos utentes naqueles concelhos, o facto de as vítimas falarem, contarem o que se passou ajuda-as a conviver com o sentimento de dor, a fazer a “catarse”. Contudo, ouvirem falar de constantes responsabilidades que caem em saco roto e dos rótulos postos a locais onde vivem todos os dias acentua a dor e provoca o reavivar de memórias, que têm de estar guardadas “num sótão”, na parte de trás do cérebro, um lugar onde, quem sofre, só lá vai para as arrumar, nunca apagar.
Não havia experiência em Portugal de como tratar a nível psicológico e psiquiátrico uma vasta comunidade fustigada por uma catástrofe como os incêndios do ano passado. Entre-os-Rios tinha sido um trabalho duro (a queda da ponte, em 2001, causou 59 mortos); Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos elevaram os problemas e riscos para a saúde mental a uma escala nunca vista e que permanecerá por muito tempo. Os especialistas socorreram-se de experiências noutros países, aplicaram muita da literatura que estudaram e admitem falhas, que constituem o pilar das recomendações que servirão de guia para melhorar trabalhos semelhantes no futuro.
“Um destes dias oferecemos um galo a um paciente. Todos os dias acordava com o galo que morreu nos incêndios”, conta a psiquiatra Ana Araújo, coordenadora da equipa de saúde mental dos três concelhos afectados em Junho. A alteração da rotina matinal descoordenou as horas de sono daquele doente e o sono é elemento fundamental para a recuperação em saúde mental. Havia quem não dormisse. “Iam para a cama, reviviam momentos com as chamas, havia pessoas que nos descreviam que ouviam os estalidos das chamas, que sentiam o calor. Se a pessoa não dorme bem, tem de ser ajudada a dormir. O sono reparador é fundamental para que tudo o resto seja recuperado”, explica Célia Franco, uma das médicas psiquiatras coordenadora de equipas nos concelhos atingidos pelos incêndios de 15 de Outubro.
A intervenção no dia-a-dia da comunidade, com pequenos gestos como a recuperação de animais ou consultas ao domicílio, fazem parte do trabalho que já estava no terreno pelas equipas de Saúde Mental Comunitária, uma experiência dos hospitais universitários de Coimbra em Leiria Norte (nos três concelhos afectados em Junho) e no Pinhal Interior Norte (que abarca os concelhos de Oliveira do Hospital, Tábua e Arganil). O conhecimento prévio do terreno facilitou a intervenção neste último ano. Estas equipas seguem o conhecido “modelo de Avilés”, que herdou o nome da localidade das Astúrias onde está sedeado o hospital que criou este tipo de intervenção, baseada no tratamento de doentes a partir da sua vida em comunidade.
Há anos no terreno, estas equipas tinham uma lista das pessoas que acompanhavam com vários problemas, mas os incêndios trouxeram-lhes centenas de outras pessoas, com dificuldades diferentes, sem doença mental anterior associada. Gente com dificuldade em lidar com a dor, o sofrimento, em fazer o luto. No total, foram realizadas cinco mil consultas entre psicologia e psiquiatria, um trabalho considerado “suficiente” por dois inquéritos realizados pela comissão de acompanhamento da população afectada pelos incêndios, presidida por António Leuschner. “Há quem diga que há aspectos que têm sido abordados de forma superficial, não há nada de mais falso. Vamos dimensionar as coisas. As pessoas têm de ser respeitadas no seu espaço. Há pessoas que precisam de ajuda profissional, mas não podem ser obrigadas a tê-la. O processo de luto é muito individual. A natureza individual do luto tem de ser enfatizada”, defendeu.
De acordo com o relatório desta comissão, mais de um terço dos inquiridos (750 no total) evidenciava “sintomas de luto complicado”. Para a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), houve desde sempre uma confusão entre o “luto” e “trauma”, que fez com que esta associação apresentasse várias queixas ao modo como estava a ser prestado apoio psicológico e psiquiátrico na zona. “Se o luto começa ao fim de meses, o trauma é no próprio dia. Se não se trabalha o trauma rapidamente, ele pode ficar crónico e cada vez é pior. No luto tem de se dar tempo”, diz Nádia Piazza, a presidente da AVIPG, associação que teve a ajuda de outros profissionais em saúde mental ao longo dos meses que discordam da abordagem que foi feita pelas entidades do Serviço Nacional de Saúde. “Nós não somos especialistas em nada: somos vítimas. O que sentimos – e hoje comprova-se – é que nós somos uma comunidade de desastre, com vários níveis de trauma. Não era uma depressão, era um trauma. Foi preciso que as entidades o percebessem e foi a muito custo. Passou por cá uma guerra que durou uma semana”, descreve.
A abordagem das equipas de saúde mental foi diferente. Depois do rastreio inicial, que contou com a ajuda dos psicólogos dos Fuzileiros, e que permitiu cruzar listas de pessoas em risco, da ida porta a porta, começando por quem perdeu familiares, foi sendo feita uma intervenção de psicólogos e psiquiatras (se fosse necessário), conforme os níveis de prioridade. “Em termos da comunidade, tentámos de algum modo intervir no sentido de criar mecanismos e actividades com as pessoas que pudessem ajudar a perceber a tragédia, e [ver] como se podia melhorar e evoluir nas situações de desgosto. Criar expectativas positivas, alternativas, esperança [, como o retomar da rotina com o galo]”, diz Ana Araújo. “Agora temos de lhe dar um contexto de normalidade nesta dimensão: não queremos ‘psiquiatrizar’ a sociedade”, acrescenta.
O que era melhor para uns não era válido para todos, uma vez que este é um processo muito individual: houve quem estivesse em luto profundo por ter perdido familiares e amigos, quem ficasse em stress pós-traumático por ter vivido os acontecimentos, quem já tivesse doenças mentais associadas, entre outros casos. Por isso, foi decidido pelas entidades do SNS que, depois da abordagem inicial, seria reforçado o trabalho que já era feito pelas equipas de Coimbra. E estas intensificaram a sua presença nos centros de saúde, alargaram as horas de “porta aberta”, em que qualquer pessoa podia pedir para ir a uma consulta, e aumentaram as visitas domiciliárias. Tudo com um reforço destas equipas multidisciplinares, mas que em número deixou a desejar. Foram sempre grupos pequenos com um ou dois psiquiatras, e um ou dois psicólogos, enfermeiros de saúde mental e assistentes sociais. No entanto, se o apoio psicossocial de emergência qualquer um destes técnicos pode fazer, o acompanhamento no tempo é um trabalho que implica um profissional de referência. Um exemplo: a enfermeira de saúde mental de Oliveira do Hospital é técnica de referência de duas centenas de doentes, quando o máximo é de oito a dez.
A resposta inicial conta
A recuperação em saúde mental tem particularidades que só o tempo foi revelando, ainda mais no caso das pessoas que sofreram com os incêndios, cada qual com uma resposta inicial diferente. “Aquilo que temos percebido é que as pessoas que participaram, que foram pró-activas, acabaram por lidar melhor com a situação do que os que foram mais passivos, que ficaram com mais dificuldade em processar o sofrimento”, conta a médica psiquiatra Célia Franco, coordenadora da equipa do Pinhal Interior Norte. A reacção inicial de ajudar o outro, de tentar recompor a vida foi a “cura” para muitas pessoas, mas escondeu o sofrimento de outras, que só mais tarde se manifestou. Se houve quem aceitasse logo “que estava em sofrimento”, outros só mais tarde, depois de meses a ocuparem-se com outras actividades, “acabaram por reconhecer que precisavam de ajuda”. E para isso ajudou, acredita Ana Araújo, a presença constante dos psicólogos e psiquiatras naqueles concelhos: “Estar aqui diminui o estigma de vir ao centro de saúde procurar ajuda em termos psicológicos e emocionais.”
A braços com o sofrimento e com o trauma causado pelos fogos, muitas destas pessoas enfrentaram esse outro problema, o estigma. Se esta é ainda uma realidade em geral, quando se trata de zonas menos povoadas, esta marca é agravada. “Passou um ano e houve quem não tivesse recorrido à ajuda de psicólogos e psiquiatras. Aqui, é um pouco como ser louco ou ter problemas mentais. Acho que por isso uma grande parte ainda não fez o luto, dedicaram-se à terra [como escape]”, diz João Carvalho Viola. “As pessoas deviam pôr isso de parte e falar com um psicólogo ou psiquiatra. E, se for necessário, tomar medicação também”, diz o pintor e jardineiro da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, que recorre às consultas no centro de saúde da vila.
Mas nem todas as pessoas tomaram a iniciativa de procurar ajuda. “O que sentimos é que éramos nós que tínhamos de nos dirigir às entidades, passado o momento do porta a porta, de perguntar se as pessoas precisavam de apoio”, diz Nádia Piazza, que ficou preocupada com “quem precisava verdadeiramente de apoio, aquelas pessoas que estão de tal ordem fechadas em si a viver a sua dor que não procuram ajuda, elas rechaçam ajuda”. Depois da primeira reunião geral da associação, conta que se apercebeu que havia quem precisava de apoio e não o estava a ter. “Havia pessoas que iam às nossas reuniões de óculos de sol, não abriam a boca. Na segunda reunião tinham um colapso emocional. Cada vez que fazíamos uma reunião era como se fosse uma terapia de alcoólicos anónimos, alguém contava a sua história.”
Estes casos mais complicados de seguir pelos profissionais de saúde são também aqueles que mais os preocupam. No início, foi importante a facilitação das emoções, para que essa “expressão do sofrimento a posteriori não se transforme em doença”. Quem o conseguiu fazer está, nas palavras de Célia Franco, a “fazer a sua catarse”. “O que me preocupa são os que estão a um canto calados e que não falam com ninguém. A esses é que temos de estar atentos”, diz.
Para encontrar melhor estes casos escondidos nos vales e montes, esta médica contou com um parceiro inusitado: o carteiro da vila de Oliveira de Hospital, que nas suas voltas do correio e na troca de palavras à ombreira das portas ia percebendo como estavam aqueles que moram nos recantos mais isolados. Ao ritmo da distribuição das cartas pelas aldeias e pequenos aglomerados, ia avisando ou, em linguagem médica, ia “sinalizando” às técnicas de saúde mental do centro de saúde os casos de risco que encontrava.
Essa cumplicidade na comunidade foi um pilar importante para chegar a quem sofria em silêncio. “Uma comunidade que perde muitas pessoas é uma comunidade que está toda em sofrimento e é preciso uma grande interajuda. Há comunidades que são muito resilientes, apesar de tudo, e são capazes de se superar nesta amargura toda que se construiu”, acredita Ana Araújo. Nesse sentimento de comunidade foi muito importante toda a informação dos vizinhos e amigos. Ainda hoje, estas médicas pedem atenção aos “sinais de alarme”.
Sinais que podem manifestar-se agora. A passagem do ano da tragédia pode pôr a nu mais algumas situações preocupantes e por isso estas profissionais pedem que as comunidades estejam atentas a alterações profundas de comportamentos. João Viola é um dos elementos que ajudam nesse processo de identificação de sinais de alarme em conhecidos e é, ele próprio, um “pró-activo”.
Durante meses ocupou-se a ajudar os vizinhos, tentando afastar o trauma dando cor à aldeia de Nodeirinho, que saiu de Junho pintada a negro. Diz que não quis baixar os pincéis, mas durante algum tempo a vontade de pintar sucumbia ao desalento de não ver os vizinhos e amigos, de não ouvir pássaros e de não ver o verde das árvores a não ser no jardim da vila de Pedrógão de que é o obreiro. “Ficámos todos afectados psicologicamente. Uns disfarçam, outros tentam calcar essas imagens e enganar-se a si próprios. Nós [ele e a mulher, Dina Duarte] andámos até Setembro numa correria. Chegou Setembro e fui-me abaixo e comecei a ressentir-me de tudo.”
Depois da tal “correria”, houve dificuldades acrescidas em lidar com o regresso à normalidade. “Nestas situações há uma primeira fase de reacção aguda em que todos nós somos activados, para nos defendermos destas situações. Daí que as pessoas tenham a tendência de ir apagar os fogos, serem pró-activas [a ajudar os outros]”, conta Célia Franco. Mas depois, foi tudo mais difícil, “sobretudo porque as pessoas queriam criar rotinas e não conseguiam”, acrescenta Ana Araújo.
Esta situação é mais grave nos adultos. As crianças passam melhor por estes traumas. No início foi feita uma avaliação nas escolas pelos psicólogos e professores, que tinham indicações para sinalizar uma criança, se houvesse sinais de alarme. “As crianças, regra geral, têm uma capacidade de resposta a situações de stress muito boa, assim os adultos com quem vivem reajam bem. Respostas eventualmente menos adequadas são um sintoma da situação familiar em que as crianças vivem”, explica a psiquiatra Célia Franco.
Isso mesmo defende o pedopsiquiatra José Garrido, que numa conferência em Coimbra, em Novembro do ano passado, explicou que “a melhor maneira de ajudar a criança é ajudar o adulto que está com ela”.
Há algumas crianças que estão actualmente a ser acompanhadas por psicólogos, porque viveram situações-limite naqueles dias, ou porque sofrem com a perda de familiares. Contudo, os mais pequenos são mais resilientes a catástrofes. “A maior parte das crianças recupera bem das catástrofes, desde que tenha apoio de adultos. O que é preciso é que os adultos expliquem à criança o que está a acontecer. Ainda não vi nenhuma criança em que o incêndio tenha sido a causa do trauma. Foi sempre outra coisa paralela”, defendeu o mesmo especialista durante um encontro para debater a saúde mental das vítimas das catástrofes dos incêndios.
No entanto, o estudo Pinhal de Futuro ontem divulgado - uma iniciativa de rastreio e acompanhamento de saúde mental de crianças e jovens dos 6 aos 18 anos nas escolas das áreas afactadas pelos incêndios que deflagraram a 17 de Junho - revela que 7,9% das crianças e adolescentes de Pedrógão sofre de síndrome pós-traumático. A coordenadora do estudo, Cristina Canavarro, explica que, dos 139 jovens acompanhados, o maior grupo de casos de stress pós-traumático encontra-se do segundo ao terceiro ciclo, ou seja, dos 10 aos 14 anos. Estas crianças apresentam “maior dificuldade de concentração” ou “alguma sintomatologia depressiva” e “ficam com uma espécie de filme mau, que é este dos incêndios, com o medo a ele associado”.
O sol ajuda, o fogo não
A ajudar a retomar essas rotinas – que fazem parte do modelo de Avilés seguido por estas psiquiatras – esteve o longo Verão do ano passado. Pode parecer um contra-senso, mas as voltas da saúde mental não se coadunam com aparentes realidades. “Tivemos dias soalheiros, com temperatura agradável até Dezembro, o que penso que foi protector, porque as pessoas conseguiam ir organizando as coisas”, diz Célia Franco. “É sempre bom ter sol em termos das emoções e da saúde mental. Foi uma mais-valia no ano passado”, acrescenta a colega psiquiatra.
O tempo muito quente pode, no entanto, reavivar memórias e trazer ao de cima traumas que estavam debaixo do tapete. “A sirene, qualquer fumo, as pessoas ficam em alerta máximo. Isso arrasta atrás de si as emoções que tiveram há um ano. Se a situação evoluir num contexto de normalidade, esta vulnerabilidade começa a apaziguar-se”, diz a médica de Pedrógão. A colega de profissão de Oliveira do Hospital sintetiza: “Sinto que as pessoas têm medo do fogo e muitas estão a hiper-reagir a qualquer fogueirinha ou situação que implique fogo. Estão fragilizadas.”
A fragilidade manifesta-se de muitas maneiras – nas crianças com a desatenção às aulas ou em reacções mais bruscas, nos adultos com mudanças de atitude. “Nós sentimos que estamos mais desatentos, com flashes. Aqui há dois tipos de pessoas, as que viram e as que imaginam. Não se pode ver um fumo ao longe que se recorda tudo”, diz Nádia Piazza.
José Carlos Santos é um dos que viveram muito de perto os incêndios e que sobrevive com marcas na pele que não o deixam esquecer. É um dos cinco feridos graves de Pedrógão Grande, que esteve internado em Coimbra em coma e que passou os últimos meses do ano numa cama nos cuidados continuados na Santa Casa de Pedrógão Grande. Foi aí que recebeu acompanhamento psicológico mais frequente, pago pelos seguros, que o tem ajudado. “Na televisão só passava fogos. Consigo passar ao lado sem me preocupar com isso. Agora reviver… tenho de ir falando. Mas esquecer não esqueço. Vou ficar com as marcas. Falando é que vamos ultrapassando as coisas”, diz.
Esta insistência no assunto foi difícil para aquelas gentes. “Este discurso prolongado de quem tem a culpa não ajuda as pessoas. É importante que se apurem responsabilidades, mas que não se fale nisso todos os dias”, diz o professor Leuschner.
E, para piorar, aconteceu a vaga de incêndios de 15 de Outubro.
“Foi péssimo. As pessoas caíram de novo em si. O não dormir, o estar sempre alerta, o acordar de madrugada”, sintetiza Nádia Piazza.
Mais do que as palavras, foram alguns actos ou falta deles que serviam de gatilho para sentimentos mais dolorosos. Além dos incêndios de Outubro, a própria situação nos concelhos do incêndio de Junho arrastou-se mais do que deveria. Em Pedrógão Grande, por exemplo, as placas de sinalética nas estradas e aldeias ficaram queimadas durante 11 meses, foram mudadas no final de Maio. E mesmo antes, muito antes, logo no rescaldo daquela noite, houve muito que contribuiu para a dificuldade em ultrapassar o trauma. “Houve carros que estiveram aqui [Nodeirinho] um mês”; foi “uma semana inteira de funerais”.
João Viola: “Nenhum de nós sabia se o que estava a acontecer era real ou um pesadelo.”