Zona do Campo Pequeno é apontada como a melhor para viver em Lisboa

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A aplicação informática evidencia a avaliação de cada parâmetro em função do perfil de interesses de cada utilizador Ricardo Jorge Carvalho

Carlos Sousa, um dos fundadores da empresa Streetics, está ligado ao mercado imobiliário há 15 anos e foi dele que partiu a ideia. "Percebi que uma pessoa quando vai à procura de uma casa numa zona que não conhece tem dificuldades em aceder a informações sobre essa área", diz o empresário. "As alternativas são quem habita na zona ou o próprio agente imobiliário." Para resolver o problema, Carlos Sousa e Mauro Nunes apostaram numa plataforma informática onde é possível obter dados sobre as ruas.

O objectivo da empresa consiste em estabelecer parcerias com sites imobiliários "para que as pessoas, quando procuram as características do imóvel possam ver a classificação que é dada por nós à zona do imóvel." Carlos Sousa não receia que uma avaliação menos positiva afaste as futuras parcerias pois acredita que a ferramenta irá agilizar o processo de arrendamento ou compra de imóveis, uma vez que uma maior partilha de informação evitará que "ambas as partes percam tempo com algo que não é o que pretendem".

A equipa estabelece a sua classificação com base numa avaliação, através da qual é calculada uma média global que servirá de indicador, de 0 a 20, sendo que o 20 corresponde à classificação máxima (StreetRank). Os responsáveis por esta classificação habitam nas cidades que avaliam e "têm alguma ligação ao sector imobiliário, um background relacionado com urbanismo ou geografia e têm um grande conhecimento destas áreas", frisa Carlos Sousa. "É uma classificação factual, são parâmetros que confirmamos." Para além disso, a empresa tem em consideração quatro parâmetros (de cariz pessoal) que podem ser votados por qualquer pessoa através de registo gratuito no site, surgindo assim o CrowdRank.

Os critérios de classificação baseiam-se na centralidade (sendo que no caso de Lisboa ela é calculada tendo como ponto de referência a zona do Saldanha, a partir da qual foram estabelecidos círculos concêntricos, com um determinado valor), espaços de estacionamento, áreas verdes, abundância de comércio, disponibilidade de vários serviços, facilidade de transportes, espaço para exercício seguro e ambiente - sendo que os últimos quatro são de cariz pessoal da equipa e dos CrowdRanks.

Para além desta avaliação, a plataforma acrescenta informações relativas à esperança de vida, que Carlos Sousa diz serem disponibilizadas pelo Banco Mundial e pelo Instituto Nacional de Estatística, e relativas ao coeficiente de localização (que é determinante para o cálculo do Imposto Municipal sobre Imóveis e é estabelecido pela Autoridade Tributária e Aduaneira).

Finalmente, o risco sísmico e o risco de inundação são aqui usados a partir de dados da Protecção Civil. A avaliação está em permanente actualização, face às constante alterações verificadas nos centros urbanos, seja a abertura de uma nova estação de metro ou o encerramento de um supermercado.

Acerca deste tipo de índices, o professor e geógrafo João Seixas, apesar de louvar a existência de "cada vez mais preocupações com a qualidade de vida e uma tendência em Portugal para olhar com mais atenção para a qualidade de vida urbana", alerta para o perigo dos rankings.

"Os rankings segregam ideias. Qualificam generalidades. Escamoteiam diversidades. As suas visões são de design demasiado básico, e só para alguns. Embora estes contem, e muito, para propor tendências, a economia e a qualidade de vida não se fazem apenas com meia dúzia de linhas", escreveu recentemente João Seixas. A preocupação do geógrafo reside na falta de rigor científico com que é normalmente feita a maior parte destes indicadores e sublinha que "é importante que haja abrangência, referências e representatividade".

"Mesmo quando há muitas pessoas a dar uma opinião, essas pessoas têm que ter uma determinada representatividade. Não é representativo do bairro se as pessoas que dão a sua opinião vivem todas no mesmo prédio" exemplifica. "É necessário avaliar as dimensões da vida humana e a vida nas cidades é uma delas. Não tem de haver só a avaliação de uma entidade pública e é importante que existam outras entidades que se dediquem a isso."

No ranking disponível no site da empresa surgem 22 cidades de vários países. Lisboa é referida como a décima oitava melhor para se viver, sendo a zona do Campo Pequeno a mais bem classificada.

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