Ano Novo?

Ano Novo? Só quando ele envelhecer o saberemos. Ou talvez não…

Mandam as convenções que o Ano Novo seja diferente do Velho Ano, ainda que o tempo não tenha paredes. Nesta passagem de testemunho, unem-se a memória do que já foi e a renovação do que esperamos possa acontecer. E, entre as duas, a pedagogia do erro ultrapassado e a luminosidade da esperança.

Por mim, espero que 2017 seja um tempo mais para ser do que para estar. Mais para dar do que para receber. Mais para contemplar do que para passar por. Mais para saber do que para conhecer. Mais para serenar do que para vibrar. Mais para viver o importante do que ser martirizado pelo (fingido) urgente.

Gostaria que o mote global para 2017 fosse uma luta sem tréguas para erradicar a indiferença, essa arma letal que tudo corrompe e aniquila, e a insensibilidade da cultura (?) de morte que medra desde o ventre materno até ao “homicídio suicida” e ao “suicídio homicida”. Gostaria que houvesse uma aproximação religiosa no mundo, sem contrafacções espirituais e que se riscasse da humanidade o paradoxo descrito por Régis Debray de “um só Deus para tantos ódios, mas tantos ódios por haver um só Deus”. Agora que as tragédias são medidas em distância (Alepo é longe, Nice é perto), conforta-me saber que há, na liderança da ONU, um português e um humanista que pode contribuir para o todo ao serviço da parte (tempo de paz) em vez da parte ao serviço do aparente todo (tempo de guerra).

2017: ainda Francisco, o Papa. Em Fátima e no Mundo. Por cá, continuaremos a ter a inultrapassável fusão da institucional Presidência da República com a singular idiossincrasia de Marcelo Rebelo de Sousa. Vai haver autárquicas com ou sem dinossauros, mas ainda e sempre com o tique dinossauro de extrapolação para eleições gerais. Gostava que Miguel Torga (110 anos após o seu nascimento), depois dos 100 anos relativos a Vergílio Ferreira (em 2016) fosse mais lido, em vez dos livrinhos de escrevedores (que não escritores) que por aí abundam em egos fotografados.

Ah! E a economia, claro. São rosas? São espinhos? Provavelmente, nem uma coisa nem a outra. Será uma questão de flagelar os números para encontrar uma terceira opinião no meio do maniqueísmo de opiniões compulsivamente partidárias.

Ano Novo? Só quando ele envelhecer o saberemos. Ou talvez não…

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