Marcelo numa palavra? "Proximidade", dizem (quase todos) os partidos

Para os partidos com assento parlamentar, Marcelo tem cumprido o que prometeu. E tem sido próximo e afectuoso. O resto é para ver nos próximos 100 dias.

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O Presidente no Porto, cidade para onde estendeu os festejos da sua tomada de posse Pedro Granadeiro/NFactos

Para alguém que tem pedido consensos desde a primeira hora do mandato, Marcelo Rebelo de Sousa deve ficar muito contente com o unanimismo que criou à sua volta. Do Bloco de Esquerda ao CDS, as opiniões não divergem: a marca de água do novo Presidente da República é ser um homem próximo, de afectos e que cumpre o que prometeu.

“O Presidente tem correspondido às expectativas com que foi eleito pela maioria dos portugueses. Tem sido um Presidente de proximidade, capaz de ir ao encontro dos portugueses, na linha do que foi a sua “campanha de afectos”, sabendo fazer interpretação correcta dos seus poderes na relação com os outros órgãos de soberania”, diz Ana Catarina Mendes, secretária-geral do PS, quando o PÚBLICO lhe pede para fazer um balanço da actuação do inquilino de Belém. “Tem tido consciência do contributo que deve e pode dar para a auto-estima de Portugal e dos portugueses, que não é uma função menor num Presidente”, acrescenta.

Do lado do PSD, o líder parlamentar da bancada também sublinha que “estes primeiros 100 dias foram marcados por uma postura de grande proximidade com os portugueses” e, já agora, “de grande respeito institucional pelos poderes”, assume Luís Montenegro, sem deixar perceber qualquer crispação em relação a um chefe de Estado que se tem mostrado quase íntimo do primeiro-ministro socialista. Para Montenegro, é importante referir que “também foram 100 dias de motivação e de puxar pelo que há de mais positivo na nossa sociedade”. “Para mim, que votei nele, acho que não está a defraudar as expectativas e está a conseguir o apreço dos que votaram noutros candidatos.”

Ainda à direita, cabe a João Almeida fazer o balanço pelo CDS: “O Presidente está a fazer aquilo que prometeu enquanto candidato. Está a ser fiel ao seu discurso”. Sobre a proximidade diz que esse laço “que estabeleceu com os eleitores é muito importante em democracias com índices de participação decrescentes, como a nossa”. Do ponto de vista político, o Presidente também está a cumprir aquilo que prometeu: ser um factor de estabilidade. “A estabilidade é sempre positiva, mas não pode apagar o espírito crítico”, refere ao PÚBLICO.

O PCP é o partido mais crítico: “Cem dias é pouco tempo para fazer um balanço do mandato do Presidente”, considera o líder da bancada parlamentar, para quem os primeiros tempos de Marcelo em Belém não trouxeram “novidade” sobre o seu posicionamento, opiniões e passado políticos. João Oliveira realça que do ponto de vista institucional não se registou qualquer “situação de conflito ou de confronto ou de dificuldades no relacionamento institucional com a Assembleia da República”. Por isso, a sua apreciação é “mais de projecção para o futuro”, na “esperança de que o mandato se paute pelo cumprimento da Constituição”.

José Manuel Pureza, vice presidente da AR e deputado do Bloco, acredita que foi “o desempenho distante de Cavaco Silva” que “tornou praticamente inevitável uma espontânea apreciação positiva “ de quem sucedesse. O bloquista regista ainda a “clara propensão para um protagonismo institucional no limite do aceitável num quadro do nosso regime constitucional” e o facto de Marcelo se posicionar “como foco de mobilização política em favor das regras europeias”, o que, “a prazo, virá a ser um factor de polarização política em favor das instituições europeias e contra os interesses da economia portuguesa”, conclui.

Apesar do distanciamento político em relação a Marcelo Rebelo de Sousa, a ecologista Heloísa Apolónia recorda com especial agrado as suas declarações sobre a necessidade de os alunos conhecerem a Constituição, lembrando mesmo a proposta do PEV nesse sentido. Ainda que tenha havido um “relacionamento institucional perfeitamente correcto” do chefe de Estado com o Parlamento, Heloísa Apolónia escolhe duas divergências políticas: “Pouco depois da tomada de posse desejou o reforço de Portugal junto da NATO quando a Constituição que jurou cumprir preconiza o fim dos blocos militarizados, e as considerações sobre as 35 horas mostram que tem uma preocupação maior com o défice do que com as questões sociais.” Para caracterizar o “estilo completamente diferente” de Marcelo, Heloísa cita o colega de partido, José Luís Ferreira, que na campanha eleitoral disse que “Marcelo é um Cavaco Silva a cores”.

Para o PAN, os primeiros meses de acção presidencial “têm-se pautado por uma manifesta vontade de união e de diálogo com o Governo no que concerne à estabilidade política e social do país e a uma pró-actividade na gestão e reforço das relações externas”, diz. E deixa um recado: “Acreditamos, no entanto, que num futuro próximo possa ser mais incisivo em questões de interesse nacional ligadas ao ambiente”. 

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