O fosso tem tendência para aumentar

O investimento dos três “grandes” está a agravar as diferenças face aos restantes clubes da I Liga. O Sp. Braga está mais contido, o Rio Ave terá de reinventar-se, o Boavista apenas se retocou.

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Alexandre Ribeiro/NFactos

No século XXI, Boavista, V. Guimarães, Paços de Ferreira e Sp. Braga conseguiram intrometer-se na luta dos três “grandes” e conseguiram acabar o campeonato num dos lugares do pódio, mas em 2015-16 é muito pouco provável que volte a surgir um intruso no topo da tabela. Apesar da redução do investimento, os bracarenses voltam a ser os principais candidatos a terminar a prova no quarto lugar.

Numa época em que Benfica e, principalmente, FC Porto e Sporting parecem ter riscado do dicionário a palavra contenção, os restantes 15 clubes do campeonato seguiram um caminho mais cauteloso e o melhor exemplo disso mesmo vem de Braga. Ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos, nesta época o presidente António Salvador esteve discreto no mercado de transferências e, para que os cofres do clube engordassem, Paulo Fonseca, novo técnico “arsenalista”, não contará com jogadores fundamentais em 2014-15 como Rúben Micael, Zé Luís, Pardo, Danilo ou Éder (o avançado mudou-se para o Swansea a troco de cerca de sete milhões de euros). Apesar das baixas, os minhotos estão na “pole” pela conquista da quarta posição.

Mexidas profundas
No grupo de principais ameaças aos bracarenses surgem V. Guimarães, Belenenses, Nacional e Paços de Ferreira. Órfãos de Rui Vitória, os vimaranenses tiveram um arranque de temporada traumatizante com o afastamento da Liga Europa às mãos do Altach e as próximas semanas serão decisivas para perceber o que vale esta equipa vitoriana, sem André André e Bernard, e agora com Armando Evangelista ao leme. No lote de reforços, destaque para o extremo Licá (emprestado pelo FC Porto) e para o avançado brasileiro Henrique Dourado, ex-Palmeiras.

Com novo treinador (Jorge Simão), o Paços de Ferreira promete. Os pacenses mostraram na pré-época que estão a formar uma boa equipa e, apesar de contarem com contratações de qualidade, como o guarda-redes Marafona e o médio Pelé, o grande reforço para Jorge Simão chama-se Diogo Jota. Depois de ter sido lançado por Paulo Fonseca na equipa principal na parte final da temporada passada, o jovem avançado, de 18 anos, promete ser uma das figuras do campeonato. Face à última época, destaque para a saída de três pedras influentes: os médios Seri (Nice) e Sérgio Oliveira (FC Porto) e o avançado Paolo Hurtado (Reading).

Na luta pela Europa devem voltar a estar, novamente, Belenenses, Nacional e Marítimo. O futuro dos “azuis”, agora sob o comando de Ricardo Sá Pinto, pode ser influenciado pela presença ou não para a fase de grupos da Liga Europa, competição que dá prestígio e dinheiro, mas que provoca muito desgaste. A grande dificuldade para o novo treinador, nesta altura, será colmatar a saída do ponta-de-lança Deyverson (Levante) — isto depois do regresso de Rui Fonte à Luz no final da época anterior.

No Nacional, Manuel Machado sofreu baixas muito significativas (Marçal, Gomaa, Marco Matias e Lucas João), mas a pré-época mostrou que os madeirenses souberam, mais uma vez, mexer-se bem no mercado. O médio Nenê Bonilha e o extremo Salvador Agra serão dois dos activos mais qualificados de um plantel que nesta semana viu chegar dois reforços para o ataque: o brasileiros Gustavo Henrique (Atlético Tubarão) e Wanderson (Paraná).

Mais difícil de prever é a época do Marítimo. A formação treinada por Ivo Vieira perdeu a grande referência do meio-campo (Danilo Pereira) e o futuro do atacante Marega continua indefinido. Do leque de sete contratações para 2015-16, há três que parecem partir na frente na corrida pela titularidade: o defesa Deyvison (Tondela) e os médios Tiago Rodrigues (FC Porto) e Gevorg Ghazaryan, internacional pela Arménia (jogava nos gregos do Kerkyra).

Revoluções tranquilas?
Para as restantes nove equipas, a época começa com a fuga à despromoção como objectivo. Com um plantel depauperado pelas saídas de jogadores como Diego Lopes, Ederson, Del Valle, Tiago Pinto e Ukra, o Rio Ave parece ter descido um degrau. O treinador Pedro Martins terá praticamente de reconstruir uma equipa de raiz, contando para isso com a experiência do lateral Pedrinho (Lorient), com a velocidade do extremo Heldon (emprestado pelo Sporting) ou com o poder de explosão de Yazalde (Sp. Braga), que regressa a uma casa que conhece.

Também o Estoril e o Moreirense perderam peças importantes. No caso da equipa da Linha, foi sobretudo do meio-campo para a frente que se deu o êxodo: Tozé, Filipe Gonçalves, Balboa e Kléber. No outro prato da balança, o das aquisições, a mais sonante é, de longe, a do médio criativo Bruno César, que já passou por Portugal para jogar no Benfica. Entre os minhotos, a preocupação de Miguel Leal passa por suprir as saídas de Marafona, Battaglia, João Pedro, André Simões ou Arsénio, sendo que no lote de mais de 15 reforços assegurado se destaca o regresso do médio Vítor Gomes.

Estabilidade no Bessa
Aparentemente mais forte do que na época anterior surgirá o Boavista. Depois de resistirem com tranquilidade ao regresso à I Liga na temporada passada, os “axadrezados” apenas perderam até ao momento um habitual titular (Brito) e o treinador, Petit, viu chegar bons reforços (Paulo Vinícius, Inkoom, Luisinho e Uche, por exemplo).

Tal como aconteceu em 2014-15, os adeptos de V. Setúbal e Académica preparam-se para uma época com previsíveis aflições. Sadinos e “estudantes” procuram nos empréstimos dos “grandes” reforços para fortalecerem o plantel (Gonçalo Paciência chegou a Coimbra e Rúben Semedo a Setúbal), mas a matéria-prima disponível não parece, à partida, suficiente para garantir uma temporada tranquila.

Finalmente, os promovidos Tondela e União da Madeira, com novos treinadores (Vítor Paneira e Norton de Matos) e plantéis muito renovados, surgem como as grandes incógnitas e principais candidatos aos últimos lugares. Um cenário para começar a confirmar a partir desta sexta-feira, no Estádio Municipal de Aveiro. com Nuno Sousa

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