Quando La Masia não basta, os cofres culé podem dar uma ajuda

Tempos houve em que o Barcelona se apresentou em campo com 11 jogadores da cantera. Agora, o fracasso da última época impõe uma política mais gastadora: são já 143 os milhões investidos em reforços, um novo recorde no clube.

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O guarda-redes alemão Marc-André ter Stegen foi contratado por 12 milhões de euros LLUIS GENE/AFP

A noite de 25 de Novembro de 2012 ficará para sempre guardada na memória colectiva dos adeptos do Barcelona: não tanto pela vitória gorda sobre o Levante (4-0), mas porque, nesse encontro, se cumpriu da forma mais perfeita um ideal antigo – a partir dos 14’, o minuto em que Montoya rendeu Daniel Alves, lesionado, estiveram em campo nada mais do que onze jogadores formados na La Masia. Menos de dois anos depois, não se pode dizer que esta lógica tenha sido abandonada, mas é incontestável que o fracasso desportivo da época passada, aliado a um fim de ciclo anunciado (que tem na possível saída de Xavi o seu expoente), tem feito o presidente culé, Josep Maria Bartolomeu, pensar além da prata da casa.

A prova está lá, nos muitos milhões que o emblema catalão já investiu para garantir que annus horribilis como o que passou não se repetem. É certo que os 81 milhões de euros desembolsados para garantir os serviços do uruguai Luis Suárez preenchem grande parte da quantia gasta pelo clube, mas não será por acaso que o valor despendido na aquisição de jogadores alheios à cantera constitui recorde absoluto no conjunto blaugrana (e, a avaliar pelos ecos da imprensa espanhola, novos reforços poderão estar a caminho, entre os quais Juan Cuadrado, da Fiorentina). Seja como for, o montante gasto já vai nuns impressionantes 143 milhões de euros, que incluem a contratação de cinco novos atletas – além de Suárez, os catalães garantiram Jérémy Mathieu (defesa central do Valência), por 20 milhões, Ivan Rakitic (médio do Sevilha), por 18, e os guardiões Claudio Bravo (R. Sociedad) e ter Stegen (Bor. M’gladbach), por 12 milhões cada.

Os números não asseguram títulos, mas, até ver, conferem ao Barcelona o estatuto de emblema mais gastador do mundo nesta pré-temporada. Isto, apesar de, em Espanha, a equipa de Luis Enrique concorrência de peso – com a contratação de James Rodríguez e Toni Kroos, os “merengues” já investiram 110 milhões de euros, ao passo que o campeão em título espanhol, o Atlético de Madrid, também está bem lançado na contenda, com 88 milhões investidos em contratações até ao momento (a chegada do francês Antoine Griezmann, da R. Sociedad, por 30 milhões de euros, foi até agora a mais dispendiosa, seguida de Mandzukic, do Bayern, por 22 milhões).

No Camp Nou, a época em que mais se tinha investido, até agora, tinha sido a de 2009/2010, quando o clube gastou 113 milhões de euros, muito por culpa da aquisição do sueco Zlatan Ibrahimovic, por 69,5 milhões. No outro oposto, o arranque da temporada 2005/2005 constituiu a mais perfeita antítese do que tem acontecido esta época, na medida em que, nesse Verão, os catalães não gastaram nem um cêntimo para reforçar o plantel (chegaram Van Bommel e Ezquerro, mas a custo zero) e, curiosamente, isso não impediu que a equipa festejasse o campeonato no final da temporada.

Na verdade, este parece ser o ano dos recordes no Barcelona, visto que não é só o montante investido em novos jogadores que já superou todos os registos anteriores – o mesmo aconteceu com a venda de atletas. A transferência de Alexis Sánchez para o Arsenal (a segunda maior de sempre do clube, só superada pela saída de Figo para o Real, por 60 milhões), por um valor que ronda os 38 milhões de euros e a mudança de Cesc Fàbregas para o Chelsea, por 33, às quais se juntam a cedência de Bojan Krkic ao Stoke City, por cinco milhões, e de Jonathan dos Santos ao Villarreal por dois milhões, asseguram um novo recorde (78 milhões) no que às vendas diz respeito.

A estas saídas, somam-se a de Carles Puyol, que acabou a carreira no final da época passada, a de Valdés, a de Tello (emprestado ao FC Porto), a de Cuenca (ingressou no Deportivo da Corunha, a custo zero) e possível saída de Xavi (ontem, em Espanha, voltaram a surgir notícias que asseguram que o El-Jaish, do Qatar, continua a oferecer 7,5 milhões/ano ao médio). O resultado de tudo isto parece lógico – ainda que os jogadores formados no clube continuem a estar em maioria no plantel (até ver, são 13 atletas da casa “contra” 11 vindos de fora), a realidade é que se tentarmos estabelecer um “onze” provável para a nova temporada, Piqué, Jordi Alba, Busquets, Iniesta e Messi são os únicos jogadores da “La Masia” que sobram, ao passo que Claudio Bravo, Mathieu, Dani Alves, Rakitic, Neymar e Suárez não cresceram com a filosofia culé.

Dirão os defensores da cantera que com Luis Enrique, que foi treinador do Barcelona B durante três épocas, como técnico principal, haverá razões para continuar sonhar com uma equipa made in catalunha – e as inclusões de Deloufeu, Rafinha Alcântara, Jordi Masip, Pedro Rodríguez, Sergi Roberto, Marc Bartra e Martín Montoya no plantel para a nova época conferem legitimidade ao argumento. Mas não será menos verdade que com um tridente ofensivo formado por Messi, Suárez e Neymar, dificilmente nomes como Pedro ou Deloufeu terão o espaço desejado.

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