O país sem Eusébio

Ao longo da semana vários artigos têm servido para pontuar o fenómeno vivido. O calendário que se segue é reinventar um país sem Eusébio.

O jornal PÚBLICO como parte integrante deste País não passa incólume à celebração dos fenómenos que fazem um país viver horas de exaltação ou momentos de esmorecimento. A morte de Eusébio provocou esse duplo sentimento.

Alguns leitores exprimiram posições contrárias na forma como o PÚBLICO acompanhou este acontecimento. Um leitor, por exemplo, apresentou o seguinte protesto: “Como é possível que às 12.30 horas de hoje, domingo, (5.01.2014) ainda não haja qualquer simples referência ao falecimento de Eusébio no PÚBLICO online? Inacreditável!”

Contactei a jornalista Simone Duarte, até há pouco Directora do PÚBLICO ONLINE, que me informou do seguinte: “Nós fomos um dos primeiros a dar a notícia às 8.05 da manhã. O Leitor consultou o site ao meio-dia. Então a explicação é que na mudança de um dos destaques (costumamos mudar algumas vezes ao longo do dia) tenha havido um atraso tecnológico. Ao meio-dia já tínhamos mais de sete destaques na página. Depois passaram a ser 17”.

Um outro Leitor escreve: “Como é evidente Eusébio representou Portugal, 'lá fora', como poucos o têm feito. Para a grande maioria dos portugueses… a ideia de falar, e tanto, em Eusébio, é intuitiva”. “Achando que todos os meios de comunicação social portugueses, mormente as televisões, utilizaram demasiado tempo e espaço com a morte de Eusébio, penso, por certo erradamente, que o PÚBLICO fez exactamente o mesmo. Não sendo o jornal, supostamente sensacionalista, não deveria ter tido mais contenção? Ou é apenas para vender?”.

Como provedor do Leitor do PÚBLICO não me compete obviamente analisar o comportamento dos outros media. Contudo, genericamente julgo poder afirmar que houve um exagero. Principalmente por parte dos media audiovisuais. Como dizia o Leitor “todos os meios de comunicação (ficaram) bloqueados em Eusébio”.

 Decerto, não houve país ou mundo noticiados para além de Eusébio. É natural que no meio desta “avalancha” informativa que se desencadeou em Portugal e no Mundo, onde a notícia da morte do lendário Eusébio teve ecos de grande destaque, quer nos media escritos, quer nos media audiovisuais e digitais, os leitores mais críticos não tenham dissociado o PÚBLICO desse exagero. Além do Editorial do dia, contabilizei 13 páginas sobre as 45 do total desta edição com artigos, reportagens e depoimentos de várias personalidades dedicados a Eusébio. Efectivamente, pode transparecer um certo excesso. Mas creio que a percepção do exagero resulta, sobretudo, do “cerco informativo” em que o país se viu sitiado no assunto que se fez único do dia.

Importa porém situar o porquê deste maremoto de mediatização a Eusébio na hora da sua morte. Até por que esta sobredosagem de informação nunca aconteceu durante a vida do próprio Eusébio. E é pena que os heróis não se celebrem durante a vida.

Dinheiro e futebol são, hoje por hoje, “as coisas reais” mais globalizadas. O dinheiro, como dizia o sociólogo alemão, Niklas Luhmann, é um “meio de comunicação” que pouca gente o entende como tal. O dinheiro circula entre todos, disputado por ricos e pobres. Esta disputa porém está envolta num conjunto de regras que só uns tais senhores manipulam. Estes podem ser peritos individuais, mas normalmente, agem em nome ou integrados nas grandes organizações que regem o mundo financeiro. O futebol não. È verdade que para além de um jogo é uma enorme e forte indústria, igualmente manejada por alguns senhores, chamem-se eles Platini ou Blatter. Mas não foi neste campo que Eusébio, como excepcional jogador, actuou, se fez grande ídolo, personagem lendária, mítica. Era, de facto, um jogador de futebol extraordinário. Num tempo em que o futebol não estava tão “cientificado”, como hoje, desenvolvido em estratégias, tácticas e técnica, Eusébio reunia todas aquelas qualidades raras que faziam dele um eleito pelo povo na arte de jogar futebol. Tudo nele era intuitivo, puro, natural.

O futebol, como jogo jogado, é “coisa” entendida, vivida pelo povo. É verdade com paixão e emoção que deturpam abstractas racionalidades. Nele, como adeptos, se cruzam iletrados e letrados. Com regras simples e universais, é transversal às ideologias, às classes sociais. Aqueles que nele se distinguem têm um lugar privilegiado no firmamento das estrelas. E Eusébio tem esse pedestal. Como símbolo de um Benfica, o clube mais popular do Portugal, e astro de uma selecção nacional que, nos anos sessenta, escreveram epopeias de vitórias na Europa e no Mundo, num país, por circunstâncias históricas e políticas, exilado desses espaços territoriais.

Ora, como vários estudiosos desta matéria confirmam, neste contexto, clubes e selecções nacionais, facilmente concorrem para a fabricação de representações identitárias de um país. (Ler a este propósito o livro de Nuno Coelho, A equipa de todos nós, Porto, Afrontamento, 2001).

Mas acresce ainda uma outra realidade. Hoje, os grandes desportos têm uma relação genética, quase diria incestuosa com os media. Entre eles, desporto e media, há um cordão umbilical. Pelo quinhão de negócio que produzem, sustentam e mutuamente auferem.

Não admira que os media tivessem “esticado” ao máximo a morte de Eusébio. Assim, entraram e aumentaram a repercussão do ritual da celebração de um evento que sobreleva os heróis, num país, neste momento histórico, desalentado de grandes convicções colectivas, sem “coisas reais” para acreditar. Eusébio era e recorda epopeia (futebolística, é certo) de sentimentos que sobrelevam um povo.

Tudo somado, caros Leitores, o PÚBLICO acompanhou esta onda. Mas, sinceramente, considero sem exageros. E ao longo da semana vários artigos têm servido para pontuar o fenómeno vivido. O calendário que se segue é reinventar um país sem Eusébio.

 

A PROPÓSITO DOS ERROS E DAS GRALHAS

Esta "maldição" dos erros e gralhas na Imprensa já se arrasta muito antes do tempo em força do online. Num texto publicado no El PAIS, 30 de Outubro de 1997, sob o título «Una vista sorda», Vicente Verdú, como "defensor do leitor" desse jornal, escrevia: "Falar e escrever com clareza, mas também com a capacidade de seduzir, é um requisito da era da informação. Neste "cosmos", os neologismos, as negligências, os defeitos ortográficos ou gramaticais e os disparates converteram-se em poluição mediática e a ecologia geral rejeita este lixo como um tóxico de primeiro grau". 

 

DO CORREIO DO LEITOR /PROVEDOR

O PÚBLICO no dia 4 deste mês, na rubrica “O PÚBLICO ERROU” rectificava o seguinte:

“Na edição de 2 de Janeiro escreveu-se que o montante da dívida a reembolsar por Portugal é de 167 milhões de euros, quando o valor correcto é de 167 mil milhões”.

Escreve-me um Leitor a dizer que a respectiva rectificação deveria indicar o título do texto, pois caso contrário é difícil localizar o erro.

Neste caso, acrescento o título do dito texto: “FIM do RESGATE. Governo tenta financiamento nos Mercados para evitar segunda volta”. PÚBLICO, 12.01.2014, pp.4.

Outro erro pequeno que é enorme:

Aponta-o o Leitor: Na mesma edição de 2.01.2004, na notícia comentada sob o título “Crédito bancário em risco aumenta para 11,2% do total”, pp.16, quando se escreve que “a rentabilidade dos activos registou alguma melhoria, passando de – 8,4 % para 7,8%”, o correcto seria “para -7,8%”.

Um grande desabafo

Um outro Leitor, reagindo à “capa falsa” da edição do dia 08.01.2014, embora com a indicação de publicidade, misturando título e marca da entidade publicitada, escreve: “Senhor Provedor, esta capa envergonha o PÚBLICO”.

Comentário do provedor: Tenho em agenda a análise a este delicado tema.
 

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