Putin e a política externa de Marine Le Pen

Se Le Pen vier a tirar a máscara na noite do dia 24, declarando que venceu Bruxelas e Zelensky e enunciando as suas prioridades de política externa, teremos provavelmente de repensar o nosso futuro colectivo de europeus

1. A resposta das democracias ocidentais à guerra de Putin na Ucrânia fez-nos acreditar que, apesar da crise que lhes tem sido diagnosticada nos últimos anos - e tantas vezes comprovada pela realidade -, a sua capacidade de resistência continuava a ser notável. Há muito que não se via uma resposta conjunta tão determinada e tão sólida à agressão da Rússia a um país soberano cujo único “crime” era querer aproximar-se cada vez mais do mundo democrático. A Europa reagiu em uníssono, tomando decisões que pareciam antes impensáveis, como fornecer armamento letal à Ucrânia ou aplicar sanções económicas duríssimas à Rússia. Fê-lo em meia dúzia de dias. A relação transatlântica exibiu uma vitalidade igualmente inesperada e a NATO transformou-se, por isso mesmo, no mais forte dissuasor de novas aventuras belicistas do Kremlin. Em meia dúzia de semanas, a Finlândia e a Suécia preparam-se para formalizar o seu pedido de adesão à Aliança Atlântica. Os Estados Unidos aumentaram a sua presença militar na Europa. Os aliados estão a reforçar rapidamente as defesas dos países que estão na sua fronteira Leste, mais vulneráveis às tentações de Moscovo. Na Ásia, o Japão, Austrália, Coreia do Sul ou Singapura juntaram-se às sanções ocidentais contra Rússia. Dir-se-á que estamos a falar de democracias consolidadas e desenvolvidas, que aguentam razoavelmente os efeitos de ricochete das sanções e que o seu comportamento não poderia ser outro, diante da violação flagrante da lei internacional e da orgia de violência praticada pelas tropas russas em território ucraniano. Quando dizemos que “o mundo condena a Rússia”, estamos a falar apenas de uma parte do mundo, mesmo que ainda bastante poderosa, do ponto de vista político, económico e militar. E quando falamos em “mundo democrático”, verificamos que algumas democracias, como a Índia, a África do Sul, o Brasil ou o México, preferem, por enquanto, manter-se “em cima do muro”, até ver quem prevalece neste confronto: uma ditadura imperial, que vale pouco economicamente, para além da sua produção de energia, mas que dispõe de milhares e ogivas nucleares; ou o mundo livre liderado pelos Estados Unidos da América por vezes demasiado arrogante e exigente.

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1. A resposta das democracias ocidentais à guerra de Putin na Ucrânia fez-nos acreditar que, apesar da crise que lhes tem sido diagnosticada nos últimos anos - e tantas vezes comprovada pela realidade -, a sua capacidade de resistência continuava a ser notável. Há muito que não se via uma resposta conjunta tão determinada e tão sólida à agressão da Rússia a um país soberano cujo único “crime” era querer aproximar-se cada vez mais do mundo democrático. A Europa reagiu em uníssono, tomando decisões que pareciam antes impensáveis, como fornecer armamento letal à Ucrânia ou aplicar sanções económicas duríssimas à Rússia. Fê-lo em meia dúzia de dias. A relação transatlântica exibiu uma vitalidade igualmente inesperada e a NATO transformou-se, por isso mesmo, no mais forte dissuasor de novas aventuras belicistas do Kremlin. Em meia dúzia de semanas, a Finlândia e a Suécia preparam-se para formalizar o seu pedido de adesão à Aliança Atlântica. Os Estados Unidos aumentaram a sua presença militar na Europa. Os aliados estão a reforçar rapidamente as defesas dos países que estão na sua fronteira Leste, mais vulneráveis às tentações de Moscovo. Na Ásia, o Japão, Austrália, Coreia do Sul ou Singapura juntaram-se às sanções ocidentais contra Rússia. Dir-se-á que estamos a falar de democracias consolidadas e desenvolvidas, que aguentam razoavelmente os efeitos de ricochete das sanções e que o seu comportamento não poderia ser outro, diante da violação flagrante da lei internacional e da orgia de violência praticada pelas tropas russas em território ucraniano. Quando dizemos que “o mundo condena a Rússia”, estamos a falar apenas de uma parte do mundo, mesmo que ainda bastante poderosa, do ponto de vista político, económico e militar. E quando falamos em “mundo democrático”, verificamos que algumas democracias, como a Índia, a África do Sul, o Brasil ou o México, preferem, por enquanto, manter-se “em cima do muro”, até ver quem prevalece neste confronto: uma ditadura imperial, que vale pouco economicamente, para além da sua produção de energia, mas que dispõe de milhares e ogivas nucleares; ou o mundo livre liderado pelos Estados Unidos da América por vezes demasiado arrogante e exigente.