Reitores e sindicatos esperançados com chegada de Elvira Fortunato ao Governo

Profundo conhecimento do sector e sensibilidade para questões relacionadas com a precariedade do emprego científico são alguns dos aspectos que deixam os representantes do ensino superior com algumas expectativas em relação ao desempenho da futura ministra

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A investigadora, independente, deverá assumir as novas funções a 30 de Março Nuno Ferreira Santos

Uma escolha “surpreendente”, mas também “uma lufada de ar fresco” e depositária de uma “grande expectativa”. É assim que é vista a escolha da cientista Elvira Fortunato para ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, por parte dos reitores e das estruturas sindicais representantes do sector. A independente, uma das mais reconhecidas investigadoras nacionais, já tem à sua espera um conjunto de reivindicações por parte destes organismos.

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Uma escolha “surpreendente”, mas também “uma lufada de ar fresco” e depositária de uma “grande expectativa”. É assim que é vista a escolha da cientista Elvira Fortunato para ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, por parte dos reitores e das estruturas sindicais representantes do sector. A independente, uma das mais reconhecidas investigadoras nacionais, já tem à sua espera um conjunto de reivindicações por parte destes organismos.

António de Sousa Pereira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), manifestou optimismo quanto à prestação da futura ministra (a tomada de posse do novo Governo está agendada para a próxima quarta-feira), classificando a escolha de António Costa como “surpreendente” e “uma lufada de ar fresco”, em declarações à Lusa.

“É uma escolha surpreendente na medida em que não é um político que é escolhido para o lugar, mas acho que é uma lufada de ar fresco. A professora Elvira Fortunato vai constituir uma equipa para assessorar o exercício das funções e nós cá estaremos para ser parte da solução e não do problema”, disse o presidente do CRUP.

Animado por a futura ministra ter “um conhecimento ímpar da situação da ciência em Portugal”, o também reitor da Universidade do Porto disse acreditar que essa circunstância “pode ter um contributo absolutamente decisivo e diferenciador” na forma como esta área será tratada na próxima legislatura. “[Esta escolha] pode representar uma ruptura com aquilo que era o passado recente, e pode ser um ponto muito importante para que se tomem medidas que sejam também de ruptura com o passado e que permitam resolver alguns dos problemas que o sector enfrente desde há muitos anos”, referiu.

Entre eles estão, à cabeça, problemas de financiamento do ensino superior e também a precariedade associada ao emprego científico. António de Sousa Pereira adianta que assim que a equipa de Elvira Fortunato estiver constituída e em funções será convidada pelo CRUP para “uma reunião para ouvir ideias e discutir o futuro”.

Do lado dos sindicatos também há sinais de alguma esperança no futuro. A presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESUP), Mariana Gaio Alves, já disse ter “grande expectativa” em relação ao trabalho que Elvira Fortunato irá desenvolver, sobretudo no que diz respeito a “mudanças de políticas do ministério”.

Par a o SNESUP é essencial que a nova ministra encerre temas que ficaram por concretizar, nomeadamente “a regulamentação para o ensino superior privado, os estatutos das carreiras docentes das universidades e politécnicos”.

Emprego e financiamento no topo das preocupações

Contratações precárias e “subfinanciamento estatal” do sector são também problemas identificados por este sindicato, que alerta: “Há dificuldade em estabilizar os investigadores e por vezes é preciso um tempo longo para haver investigação com resultados”.

Mais comedida no entusiasmo, a presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), Bárbara Carvalho, disse à Lusa que “mais do que a nomeação da professora Elvira Fortunato, o importante é que tipo de políticas públicas serão seguidas”. “A luta da ABIC é o combate à precariedade, a integração dos investigadores nas carreiras, a dignificação das carreiras e o fim da ciência a prazo, que prevalece enquanto cultura”, afirmou.

Bárbara Carvalho admitiu que o programa do novo governo deverá ser de continuidade, mas a ABIC “espera que o novo ministério tenha como prioridade essas reivindicações”, sobretudo “a revogação do estatuto do bolseiro e a substituição das bolsas por contratos de trabalho”.

Mudar políticas na área do emprego e investir são, portanto, as duas grandes áreas com que Elvira Fortunato deverá ser confrontada logo nos primeiros dias de mandato. O presidente do CRUP lembra, nas declarações à Lusa, que o ensino superior “tem hoje níveis de financiamento que são cerca de 25% inferiores aos que tinha em 2009". E deixa um aviso: “Se queremos ser um país competitivo, se queremos ter inovação que nos aproxime da média europeia e que faça com que Portugal produza cada vez mais produtos de valor acrescentado isto implica investir não só em ciência, mas no ensino superior como um todo.”

Sobre o emprego precário na área científica as palavras dirigidas à ministra são também de exigência, mas alguma esperança: “Precisa de ser resolvido de uma vez por todas, porque há pessoas que têm as suas vidas suspensas e precisam de ter as suas situações resolvidas. Estou certo de que a professora Elvira Fortunato terá uma particular sensibilidade para isso”.