Vitória do “cholismo”

Com golos de Griezmann, Correa e De Paul na segunda parte para o Atlético de Madrid, e Sérgio Oliveira para os portistas, os espanhóis venceram no Estádio do Dragão, e garantiram a qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões.

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A estratégia de Diego Simeone resultou no Porto Reuters/PEDRO NUNES

É uma receita antiga e tem patente registada, mas no dicionário do futebol, “cholismo” é um estilo de jogo guerreiro, pouco ou nada atractivo, quase sempre servido com generosas doses de cinismo. E tem um rosto por detrás: Diego Simeone. Nesta terça-feira, no Estádio do Dragão, assistiu-se a mais uma lição do argentino. Repetindo uma estratégia tantas vezes criticada por quem privilegia o “futebol-espectáculo”, o treinador de Buenos Aires montou uma teia, ficou à espera de um golpe de sorte e conseguiu apanhar a presa. Após uma hora de domínio do FC Porto, Griezmann colocou o Atlético de Madrid a vencer e, a partir daí, os “colchoneros” anestesiaram os “dragões”. Com quezílias a mais e futebol a menos, os últimos minutos tiveram duas expulsões e três golos no período de descontos. Com a vitória (3-1), o Atlético continua na Champions; o FC Porto cai para a Liga Europa.

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É uma receita antiga e tem patente registada, mas no dicionário do futebol, “cholismo” é um estilo de jogo guerreiro, pouco ou nada atractivo, quase sempre servido com generosas doses de cinismo. E tem um rosto por detrás: Diego Simeone. Nesta terça-feira, no Estádio do Dragão, assistiu-se a mais uma lição do argentino. Repetindo uma estratégia tantas vezes criticada por quem privilegia o “futebol-espectáculo”, o treinador de Buenos Aires montou uma teia, ficou à espera de um golpe de sorte e conseguiu apanhar a presa. Após uma hora de domínio do FC Porto, Griezmann colocou o Atlético de Madrid a vencer e, a partir daí, os “colchoneros” anestesiaram os “dragões”. Com quezílias a mais e futebol a menos, os últimos minutos tiveram duas expulsões e três golos no período de descontos. Com a vitória (3-1), o Atlético continua na Champions; o FC Porto cai para a Liga Europa.

Após um dia de chuva no Porto, o anúncio das equipas pareceu revelar que as condições meteorológicas não iriam condicionar as habituais preferências tácticas de Sérgio Conceição e de Simeone que, no papel, atacavam o último jogo em 4x4x2. No entanto, mesmo estando obrigado a vencer, Simeone foi Simeone e, fiel às suas ideias, tinha uma surpresa na manga.

Se no FC Porto, sem o influente Uribe, Conceição preferiu colocar o capitão e “futebolista do ano” fora de jogo (Sérgio Oliveira foi suplente e Vitinha jogou ao lado de Grujic), no Atlético Simeone tinha menos possibilidades de escolha e, talvez por isso, inovou.

Com Felipe, Savic e Giménez — as três primeiras opções para o centro da defesa —, indisponíveis, o argentino recuou um médio (Kondogbia), mas a surpresa foi que o jogador formado no Lens não formou uma dupla, mas um trio: ao seu lado, jogou um central (Hermoso) e um lateral adaptado (Vrsaljko). Com Llorente e Carrasco nas laterais e quase sempre dentro do seu meio-campo, o Atlético oscilava entre um 5x3x2 (a defender) e um 3x5x2 (a atacar).

Mesmo não conseguindo criar oportunidades, os espanhóis entraram com ligeiro ascendente perante um FC Porto aparentemente atordoado com o sistema táctico do rival. O resultado foi uma primeira dezena de minutos com níveis de agressividade elevados, com mais bola nos pés “colchoneros”.

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Sem querer correr riscos, Simeone parecia confiar na qualidade de um ataque formado por uma dupla que dispensa apresentações (Griezmann e Suárez), mas, aos 12’, a estratégia do argentino sofreu um abalo: com problemas físicos, Suárez foi substituído por Matheus Cunha.

O impacto na estrutura espanhola não se fez sentir de imediato e, aos 22’, Diogo Costa, por duas vezes, impediu que o Atlético marcasse, mas a notícia de que o AC Milan estava a ganhar ao Liverpool, pareceu ter espicaçado os “dragões”.

A partir da meia hora de jogo, o FC Porto dominou e esteve por três vezes perto de marcar (Diaz, aos 31’; Lamar na própria baliza, aos 40’; Grujic, aos 43’), mas o intervalo chegou com o “zero” no marcador do Dragão e uma boa notícia para os portistas vinda de Milão: um golo do Liverpool voltava a dar margem de erro aos “azuis e brancos”.

Sem substituições ao intervalo, o filme do jogo pareceu não mudar após o regresso dos balneários. Com mais FC Porto do que Atlético, os portuenses tiveram duas grandes oportunidades logo após o recomeço, mas Taremi continua com a sua má relação com a baliza e, pelo oitavo jogo consecutivo, ficou sem marcar.

Pouco mais do que inofensivo, o Atlético parecia até aí incapaz de beliscar a superioridade portista, mas o “cholismo” é isso mesmo e voltou a resultar. Aos 56’, na segunda aproximação espanhola à baliza de Diogo Costa, Griezmann aproveitou um mau desvio de Taremi após um canto e, no sítio certo, desviou para o fundo da baliza.

Com pouco mais de meia hora para jogar, Simeone estava como queria: vantagem do seu lado, sem ter de correr riscos. Nesse papel, o Atlético está como peixe na água, mas, num ápice, o jogo descontrolou-se. Com o árbitro francês Clément Turpin a mostrar desde o início pouca autoridade, as quezílias sucediam-se e, no intervalo de cinco minutos, Carrasco e Wendell foram expulsos.

O resultado de tudo isso foi a subida dos níveis de ansiedade dos portistas e o jogo que Simeone tanto gosta, com mais confrontos do que oportunidades. No “tudo ou nada”, Conceição colocou a equipa com três defesas, mas pagou caro o risco: em dois contra-ataques, em cima do minuto 90, o Atlético marcou por Correa e De Paul, e acabou com o jogo.

Na última jogada, Sérgio Oliveira ainda marcou de penálti, mas a festa já era espanhola. Para o FC Porto, a única boa notícia chegou de Milão, onde a vitória do Liverpool evitou estragos ainda maiores: os “dragões” caem para a Liga Europa, mas continuam nas provas europeias.