110 Histórias, 110 Objectos: a estátua da Engenharia

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.

No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 23.º episódio do podcast, conhecemos a história da estátua da Engenharia.

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No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 23.º episódio do podcast, conhecemos a história da estátua da Engenharia.

Junto à torre norte do campus Alameda do IST, ergue-se bem alta a estátua conhecida como a “Estátua de Engenharia”, que permaneceu durante décadas de origem e autor desconhecidos na literatura disponível ao público. Fernando António Baptista Pereira, professor, historiador, museólogo e presidente da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa não teve, contudo, dúvidas quando a viu pela primeira vez: “Quando olhei para a parte posterior da escultura, eu não tive qualquer dúvida: é [Salvador] Barata Feyo. Isto é como se fosse uma assinatura. Quando analisamos uma obra de arte de um grande artista vamos procurar os traços invariantes da sua obra, que passam de umas para as outras e que caracterizam o estilo desse mestre”, explica. Baptista Pereira faz mesmo uma proposta de texto para placa identificativa para que a estátua não caia no esquecimento: “Salvador Barata Feyo, Alegoria à Engenharia, 1947”. E depois, se quiserem pôr uma frase: “Obra colocada no Instituto Superior Técnico por ocasião da Exposição “Quinze Anos de Obras Públicas” realizada em 1948”. 

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A estátua da Engenharia Débora Rodrigues

Baptista Pereira estudou a fundo a estátua e seus detalhes, a convite do podcast “110 Histórias, 110 objectos”, e ajudou-nos a iluminar as muitas dúvidas que rodeavam a única escultura em espaço público do IST, no topo da Alameda da entrada Norte, olhando para o Pavilhão Central. “É uma mulher, porque na tradição clássica as alegorias são sempre representadas por figuras femininas, uma mulher que ostenta na mão direita os símbolos históricos da engenharia (um compasso e um esquadro) e na mão esquerda está uma espécie de papel de desenho de projecto, em que se vêm um grande viaduto e depois ficamos perceber que esse desenho está representado aos pés da estátua através de uma secção da maquete desse grande viaduto. E essa secção é o seu pilar, neste caso o pilar oriental da famosa secção central do viaduto Duarte Pacheco, que liga a cidade de Lisboa ao monte de Monsanto”.

A estátua, criada em plenos anos de ouro da estatuária pública portuguesa (anos 30 e 40), revela já alguns detalhes do modernismo de Barata Feyo, que o autor aprofundará em obras posteriores. “Nesta escultura, quando rodeamos e vamos ver o seu manto, que está na parte posterior de uma forma muito clara, ele representa aí todo o ziguezagueado geométrico, assim como os folhos da túnica da figura feminina também geometrizadamente tratados”, descreve Baptista Pereira. “Nos anos 50, nas quatro esculturas da fachada da Faculdade de Letras de Coimbra, que representam a História, a Eloquência, a Filosofia e a Poesia, têm um tratamento que lembra esta. Isso vai voltar também a acontecer no seu grande projecto de monumento ao Infante Dom Henrique e na estátua dedicada a Almeida Garrett, que está em frente à Câmara Municipal do Porto, onde toda esta geometrização atinge o auge”, complementa.

A estátua da Engenharia chegou então ao IST em 1948, por ocasião da exposição “Quinze anos de Obras Públicas”, que a instituição albergou, e que pretendia propagandear as obras realizadas até então pelo Estado Novo. “O regime pretendia mostrar a obra de renovação do país que assentava em dois grandes pilares: numa nova concepção da Engenharia, que estava agora a sair daqui desta mesma escola, e de uma nova concepção de Arquitectura que estava a acompanhar essa evolução do ensino da Engenharia e da capacidade sobretudo da Engenharia Civil estar a transformar o país”, resume Baptista Pereira.

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Em 1948, o Técnico enchia-se de pavilhões e preenchia os seus edifícios com maquetes e fotografias de edifícios. A Alameda do IST foi inundada por estátuas, muitas delas bem conhecidas do público e que entretanto se espalharam pela cidade e pelo país. Duas delas, também de Barata Feyo, estão na Avenida da Liberdade, e representam as figuras de Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Também do mesmo autor, e depois de passar pelo IST, é a estátua de Antero de Quental, situada no Jardim da Estrela. Em frente à “Estátua da Engenharia”, durante a exposição, estava uma muito especial: a sua “irmã afastada”, a alegoria da Arquitectura, da autoria de Álvaro de Brée, esculpida em granito. “A da Arquitectura foi um mistério. Demorou-me algum tempo a descobrir”, conta Baptista Pereira. Mas já tem placa, não precisa de proposta de texto para a mesma, e encontra-se assinalada nos roteiros da escultura pública do Porto. Está no Jardim da Faculdade de Belas Artes do Porto, e segura nas mãos os símbolos da Arquitectura, que não são muito diferentes dos da Engenharia.

O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.

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