Mulher de político curdo preso condenada a dois anos e meio de cadeia por uma gralha

Basak é a mulher de Selahattin Demirtas, o co-líder do partido turco pró-curdo HDP que está preso desde 2016. A formação política considerou a sentença contra a professora como “um ataque vingativo”.

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Basak Demirtas teve “graves problemas de saúde” e passou por duas cirurgias depois de ter sofrido um aborto espontâneo, em 2015. A 11 de Dezembro desse ano, um médico passou-lhe uma baixa de cinco dias. Por engano, na cópia do certificado enviado para a escola onde dava aulas, surge a data de 14 de Dezembro. A gralha acaba de lhe valer uma sentença de dois anos e meio de prisão na Turquia, algo que só se consegue explicar por Basak ser casada com Selahattin Demirtas, advogado e defensor dos direitos humanos no Curdistão, ex-líder do Partido Democrático do Povo (HDP), preso desde 2016.

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Basak Demirtas teve “graves problemas de saúde” e passou por duas cirurgias depois de ter sofrido um aborto espontâneo, em 2015. A 11 de Dezembro desse ano, um médico passou-lhe uma baixa de cinco dias. Por engano, na cópia do certificado enviado para a escola onde dava aulas, surge a data de 14 de Dezembro. A gralha acaba de lhe valer uma sentença de dois anos e meio de prisão na Turquia, algo que só se consegue explicar por Basak ser casada com Selahattin Demirtas, advogado e defensor dos direitos humanos no Curdistão, ex-líder do Partido Democrático do Povo (HDP), preso desde 2016.

A condenação da mulher de Demirtas “por um mero erro administrativo relativo a um relatório médico é chocante e ultrapassa o bom-senso. Parece simplesmente política. Dá a medida do estado preocupante do sistema judicial turco”, reagiu no Twitter Nacho Sánchez Amor, eurodeputado e relator do Parlamento Europeu para a Turquia.

A defesa de Demirtas vai recorrer da decisão do tribunal de Diyarbakir, uma das principais cidades do Sudeste turco, que os curdos consideram a sua capital. Para já, ela e o seu médico, condenado igualmente a 30 meses de prisão pelo mesmo crime de “fraude” por “apresentação de relatório médico falsificado”, ficam em liberdade.

Numa declaração depois da sentença, os advogados notaram que, apesar de terem conseguido que o livro de registos do hospital (onde se podem consultar as datas em que Basak Demirtas lá esteve) fosse apresentado como prova, a decisão foi tomada sem ninguém o consultar. 

“Embora a verdade seja óbvia, condenar Basak Demirtas como resultado de um julgamento destes é abertamente ilegal e grosseiramente injusto. É o produto de uma mentalidade de punição colectiva”, reagiu a equipa de defesa. “Ainda acreditamos que a decisão será anulada e que a justiça será cumprida.”

O HDP também reagiu, descrevendo a sentença contra a professora como “um ataque vingativo”. “Vamos derrotar estes ataques lutando juntos. Basak Demirtas não está sozinha, há uma grande luta feminina por trás dela.”

Basak Demirtas tinha sido recentemente atacada por políticos e media turcos, depois de ter dito numa entrevista que o marido não se arrepende do que fez enquanto foi co-presidente do HDP, denunciando ainda que desde o início da pandemia de covid-19 nem ela nem os dois filhos conseguem visitar Selahattin.

“As turbas de linchamento, que a noite passada atacaram a minha família nos ecrãs, devem saber que serão responsáveis se alguém fizer mal a algum membro da minha família”, escreveu Selahattin, o mês passado, no Twitter.

Demirtas foi o principal rosto do HDP, o partido que em 2015 se tornou a primeira formação pró-curda a apresentar-se a votos (até aí, os candidatos concorriam como independentes) elegendo 80 deputados (o terceiro maior grupo parlamentar) e roubando a maioria absoluta ao AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), do todo-poderoso Presidente Recep Tayyip Erdogan.

Mais do que um partido pró-curdo, o HDP conseguiu unir a oposição de esquerda num partido com 50% de candidatas e portas abertas às minorias culturais e à comunidade LGBTQ+, um movimento herdeiro da revolta popular que ficou conhecido com os protestos do Parque de Gezi ou da Praça Taksim, de Istambul.

Preso em 2016, Demirtas foi acusado de mais de 100 crimes, a maioria relacionados com o terrorismo e com alegados laços ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que combate o Estado turco). O ano passado, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos ordenou a sua libertação imediata, considerando que a sua detenção vai contra “o próprio âmago do conceito de uma sociedade democrática”.