Seca deixa milhões a sofrer de escassez alimentar no sul de Angola

A pior seca dos últimos 40 anos está a criar milhares de “refugiados climáticos” nas províncias da Huíla e do Cunene, diz a Amnistia Internacional.

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©BwalaMidia

A grave seca no sul de Angola está a deixar milhões de pessoas em risco de vida, sem acesso a comida, e obrigou milhares a abandonar as suas casas e a procurar refúgio na Namíbia, revela a Amnistia Internacional num relatório publicado esta quinta-feira.

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A grave seca no sul de Angola está a deixar milhões de pessoas em risco de vida, sem acesso a comida, e obrigou milhares a abandonar as suas casas e a procurar refúgio na Namíbia, revela a Amnistia Internacional num relatório publicado esta quinta-feira.

A criação de quintas para a criação de gado com fins comerciais expulsou as comunidades pastorícias das suas terras, algo que acontece desde o final da guerra civil, em 2002, explica a organização. “Milhões de pessoas no sul de Angola estão à beira da fome, presas entre os efeitos devastadores das mudanças climáticas e o desvio de terras para a pecuária comercial”, disse o director da Amnistia Internacional para a África Oriental e Austral, Deprose Muchena.

A seca que dura há já três anos, a pior das últimas quatro décadas, agravou a situação destas comunidades que já se viam privadas das terras onde trabalhavam há várias gerações. A situação mais grave tem sido registada nas províncias do Cunene e da Huíla, que enfrentam uma seca sem precedentes.

Em Maio de 2021, o Programa Alimentar Mundial (PAM) estimava que seis milhões de pessoas em Angola tinham alimentos insuficientes, principalmente no sul do país e que mais de 15 milhões utilizavam estratégias de sobrevivência baseadas em crises ou emergências, como economizar ou reduzir despesas não alimentares.

A Amnistia pede às autoridades governamentais para que tomem medidas para proteger a população nas regiões mais afectadas. “O Governo angolano deve assumir a responsabilidade pelo seu próprio papel nesta terrível situação, garantir soluções às comunidades afectadas e tomar medidas imediatas para resolver a insegurança alimentar nas áreas rurais das províncias do Cunene e da Huíla”, disse Muchena.

As organizações humanitárias angolanas estimam que sete mil pessoas, sobretudo mulheres acompanhadas de jovens e crianças, fugiram para a Namíbia nos últimos meses, e identificam-nos como “refugiados climáticos”. A gravidade da seca é vista como uma consequência directa das alterações climáticas sobre o ciclo das chuvas no continente africano.

A Amnistia cita as conclusões do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas que mostram que a “frequência e a intensidade das secas aumentaram em algumas regiões”, incluindo o sul de África, as projecções para os próximos anos é de um agravamento desta tendência. “A situação no sul de Angola é um aviso gritante de que as mudanças climáticas já estão a causar sofrimento e morte”, afirmou Muchena.