Covid-19. China rejeita termos da OMS para aprofundar as origens do coronavírus

EUA e outros países dizem que a China não foi transparente nas primeiras semanas da pandemia. Pequim acusa os críticos de politizar uma questão que deveria ser deixada para os cientistas.

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O vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde, Zeng Yixin, numa conferência de imprensa esta quinta-feira SHUBING WANG/Reuters

A China disse esta quinta-feira que a segunda fase da investigação sobre a origem da covid-19 é “inaceitável”, depois de o director da Organização Mundial da Saúde (OMS) ter admitido que pode ter sido prematuro descartar a hipótese de uma fuga a partir de um laboratório. O vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde, Zeng Yixin, descartou a hipótese de que terá havido um acidente e a fuga do coronavírus a partir do Instituto de Virologia de Wuhan como um “boato que vai contra o bom senso”.

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A China disse esta quinta-feira que a segunda fase da investigação sobre a origem da covid-19 é “inaceitável”, depois de o director da Organização Mundial da Saúde (OMS) ter admitido que pode ter sido prematuro descartar a hipótese de uma fuga a partir de um laboratório. O vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde, Zeng Yixin, descartou a hipótese de que terá havido um acidente e a fuga do coronavírus a partir do Instituto de Virologia de Wuhan como um “boato que vai contra o bom senso”.

“É impossível aceitarmos este plano para detectar a origem do vírus”, disse, numa conferência de imprensa convocada para abordar a origem da covid-19. Zeng Yixin referiu ainda que ficou “bastante surpreso” com o pedido da OMS para aprofundar as origens da pandemia e, especificamente, a teoria de que o vírus pode ter saído de um laboratório chinês.

O director da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reconheceu, na semana passada, que foi “prematuro” descartar uma possível ligação entre a pandemia e uma fuga do novo coronavírus a partir do Instituto de Virologia de Wuhan, apesar das conclusões do relatório da OMS divulgado em Março, que concluiu que uma fuga do laboratório era “extremamente improvável”. Numa conferência de imprensa a 15 de Julho, citado pela agência Associated Press (AP), Tedros disse aos jornalistas que a agência de saúde das Nações Unidas com sede em Genebra está “a pedir realmente à China que seja transparente, aberta e coopere, especialmente na informação, dados em bruto que pedimos nos primeiros dias da pandemia”.

O vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China insistiu que o laboratório da cidade de Wuhan não tem vírus que possam infectar humanos directamente e apontou que a China esclareceu isso repetidamente e que, por isso, não aceita o plano da OMS.

A investigação sobre a origem do vírus tornou-se uma questão diplomática que contribuiu para deteriorar as relações entre a China e os Estados Unidos e muitos dos seus aliados. Os EUA e outros países dizem que a China não foi transparente nas primeiras semanas da pandemia. Pequim acusa os críticos de politizar uma questão que deveria ser deixada para os cientistas.

Os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados em Wuhan, no final de 2019. O instituto de virologia da cidade é um dos principais laboratórios da China que armazena e estuda coronavírus. Zeng Yixin observou que uma equipa de especialistas internacionais coordenada pela OMS que visitou o laboratório no início deste ano concluiu que uma fuga era altamente improvável.

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A maioria dos especialistas acredita que o vírus provavelmente passou para o ser humano a partir de animais. Mas instalou-se um debate, altamente politizado, com especialistas a questionar se uma fuga do laboratório é assim tão improvável que mereça ser descartado como possibilidade.

Acidentes acontecem, diz OMS

Tedros Ghebreyesus disse esperar por uma melhor cooperação e acesso aos dados da China, acrescentando que obter acesso a dados brutos foi um desafio para a equipa internacional de especialistas que viajou à China este ano para investigar a causa do surto. “Eu também fui técnico de laboratório, sou imunologista e trabalhei em laboratório, e acidentes de laboratório acontecem”, descreveu, citado pela AP.

Também o ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, pediu às autoridades chinesas que permitissem o prosseguimento da investigação sobre as origens do vírus. Zeng afirmou que as informações de que funcionários e alunos de pós-graduação do Instituto de Virologia de Wuhan ficaram doentes com o vírus e podem tê-lo transmitido a outras pessoas não são verdadeiras.

A China “sempre apoiou o rastreamento científico de vírus” e deseja que isso se estenda a vários países e regiões em todo o mundo, defendeu. “No entanto, somos contra a politização do trabalho de investigação”, acrescentou. A segunda fase deve basear-se nas conclusões da primeira fase, após “ampla discussão e consulta pelos Estados-membros”, disse Zeng. A China tem procurado frequentemente desviar as acusações de que a pandemia se originou em Wuhan e foi potencializada por erros burocráticos iniciais e uma tentativa de encobrimento.

Alguns membros do Governo chinês pediram até uma investigação para apurar se o coronavírus pode ter sido produzido num laboratório militar dos EUA, uma teoria que não é amplamente aceite pela comunidade científica. O país asiático praticamente extinguiu o vírus dentro do seu território, através de medidas restritas de confinamento.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 4.119.920 mortos em todo o mundo, entre mais de 191,3 milhões de casos de infecção pelo novo coronavírus. Em Portugal, desde o início da pandemia, em Março de 2020, morreram 17.232 pessoas e foram registados 939.622 casos de infecção, segundo a Direcção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detectado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e actualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil e Peru.