Um homem desamparado

Inicialmente sentiu muita raiva e frustração por estar a viver uma coisa que nunca tinha desejado, não queria ser pai solteiro ou divorciado, planeou uma família com mãe, pai e filho. O desejo mais próximo do tradicional que teve até à data.

Foto
Szilvia Basso/Unsplash

Desde o desaparecimento dela que nunca mais foi a mesma pessoa. E essa mudança não sucedeu num dia. Demorou meses a transformar-se naquilo que é agora: um homem desamparado. Os primeiros meses a seguir ao desaparecimento da mãe do filho foram especialmente entorpecidos, e nem se esforçou para não sentir nada, estava tão cansado pelas noites sem dormir e desiludido com o projecto que tinham feito a dois — mas que afinal era apenas dele —, que tudo deixou de fazer sentido. Os únicos sentimentos que ainda viviam dentro de si eram o cuidado pelo filho e a raiva que sentia quando se lembrava da voz ou da cara dela, da mãe do filho. Não conseguia suportar ouvi-la dentro da cabeça, a mesma voz que meses antes lhe trazia calor e conforto, agora parecia uma faca. Felizmente estes sentimentos só aconteciam quando confrontado com a memória da sua voz ou da sua imagem, caso contrário não tinha qualquer emoção a não ser desamparo.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Desde o desaparecimento dela que nunca mais foi a mesma pessoa. E essa mudança não sucedeu num dia. Demorou meses a transformar-se naquilo que é agora: um homem desamparado. Os primeiros meses a seguir ao desaparecimento da mãe do filho foram especialmente entorpecidos, e nem se esforçou para não sentir nada, estava tão cansado pelas noites sem dormir e desiludido com o projecto que tinham feito a dois — mas que afinal era apenas dele —, que tudo deixou de fazer sentido. Os únicos sentimentos que ainda viviam dentro de si eram o cuidado pelo filho e a raiva que sentia quando se lembrava da voz ou da cara dela, da mãe do filho. Não conseguia suportar ouvi-la dentro da cabeça, a mesma voz que meses antes lhe trazia calor e conforto, agora parecia uma faca. Felizmente estes sentimentos só aconteciam quando confrontado com a memória da sua voz ou da sua imagem, caso contrário não tinha qualquer emoção a não ser desamparo.