Bloco critica gestão do ministro em Odemira e acusa direita de querer desviar atenções

Catarina Martins condenou os atentados aos direitos humanos em Odemira.

Foto
Catarina Martins disse que o partido não deixará de contestar as acções de Eduardo Cabrita LUSA/MÁRIO CRUZ

A coordenadora do Bloco de Esquerda considerou esta segunda-feira que o ministro Eduardo Cabrita “não esteve bem” na gestão da situação de Odemira, mas acusou a direita de “desviar as atenções do problema” com os pedidos de demissão.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A coordenadora do Bloco de Esquerda considerou esta segunda-feira que o ministro Eduardo Cabrita “não esteve bem” na gestão da situação de Odemira, mas acusou a direita de “desviar as atenções do problema” com os pedidos de demissão.

“O ministro Administração Interna não esteve bem neste processo, como não esteve noutros anteriores, mas à direita é sempre preferível desviar as atenções do problema do poder económico e de quem anda a lucrar milhões com estes abusos, o trabalho forçado e os atentados aos direitos humanos”, afirmou.

Catarina Martins respondia a perguntas dos jornalistas, no final de uma reunião com dirigentes de associações de apoio aos imigrantes, na sede do Bloco de Esquerda em Odemira, distrito de Beja, sobre o pedido de demissão do ministro Eduardo Cabrita feito pelo CDS-PP.

A líder bloquista frisou que “não deixará de contestar as acções do ministro”, mas vincou que o partido “não deixará de pôr o dedo na ferida”, porque “há muita gente a ganhar muito dinheiro com o recurso ao trabalho forçado e com o abuso de direitos humanos”.

“Não é aceitável quando ouvimos notícias de que vão buscar trabalhadores às quatro da manhã, a meio da noite, para os levar não sei para onde”, disse, referindo-se ao realojamento de migrantes, na semana passada, no complexo turístico Zmar.

Para Catarina Martins, este episódio, a par da falta de fiscalização por parte da “área do trabalho” e também da administração interna, “é tudo inaceitável”.

“O pior seria acharmos que a demissão de um ministro, que do ponto de vista do Bloco de Esquerda, depois da morte de um cidadão às mãos do SEF, é difícil de compreender que tenha condições para continuar, desviasse a nossa atenção do problema real e o problema real é que não é fiscalizada a forma como estes trabalhadores são tratados”, sublinhou.

Segundo a coordenadora do Bloco de Esquerda, “o mais importante” do que a demissão de Eduardo Cabrita são “os atropelos aos direitos humanos e as condições em que os trabalhadores são tratados”.

As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, no concelho de Odemira, estão em cerca sanitária por causa da elevada incidência de covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura na região.

Na altura, o Governo determinou “a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional”, da “totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes” que compõem o complexo turístico ZMar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu “isolamento profiláctico”.

No dia 4 de Maio, o presidente do Chega, André Ventura, pediu a demissão do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, por considerar que, com a requisição do empreendimento turístico Zmar, em Odemira, foi atingido “o limite do insuportável”.

Em 7 de Maio foi a vez do presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, que pediu também a demissão de Eduardo Cabrita, depois ter sido aceite a providência cautelar interposta por proprietários de casas no Zmar.

No mesmo dia, o líder do PSD, Rui Rio, disse que se fosse primeiro-ministro, o ministro Eduardo Cabrita “não tinha condições para estar no Governo” porque tem tido um desempenho “muito fraco”.