Covid-19: Aumento de anticorpos reforçado após segunda toma da vacina da Pfizer/BioNTech

Estudo vai acompanhar um grupo de profissionais de saúde por um ano para perceber quanto tempo se mantêm os anticorpos, se algum dos participantes contrai a doença e qual a resposta que o organismo desencadeia.

Foto
Vacina da Pfizer/BioNTech Reuters

Quase todos os profissionais de saúde do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental seguidos num estudo do Instituto Gulbenkian de Ciência desenvolveram anticorpos “de forma expressiva” três semanas após a segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Quase todos os profissionais de saúde do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental seguidos num estudo do Instituto Gulbenkian de Ciência desenvolveram anticorpos “de forma expressiva” três semanas após a segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra a covid-19.

Os resultados deste estudo indicam também que o aumento dos anticorpos ao nível das mucosas (nariz e vias respiratórias), a principal fonte de contágio e transmissão da doença, foi “pouco expressivo”, o que levou os investigadores a recomendarem que não se aumente o intervalo entre doses além do limite definido pelo fabricante e que se mantenham os cuidados de protecção, mesmo após o processo de vacinação.

“Os ensaios clínicos desta vacina foram feitos com três semanas, mas a recomendação dos fabricantes é que o prazo possa ser maior. Apontamos para se seguir esta recomendação porque em alguns países começou a adoptar-se a metodologia de vacinar toda a gente com a primeira dose e depois, quando houvesse segunda dose, logo se vacinava. Com estes resultados isso era um risco”, explicou à agência Lusa Carlos Penha Gonçalves, co-responsável pelo estudo e investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras.

Questionado sobre o alargamento anunciado pelo Governo no início do mês de alargar o período entre doses de 21 para 28 dias, o investigador disse: “Em Portugal o que estamos a fazer é correcto.”

De acordo com o estudo, dos 1245 profissionais de saúde acompanhados desde a primeira toma da vacina, 99,8% desenvolveram anticorpos “de forma expressiva” ao final de três semanas depois da toma da segunda dose.

Em comunicado conjunto, o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO) - que integra os hospitais S. Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz - lembram que, embora as vacinas de ARN-mensageiro (ARNm) tenham sido aprovadas e sejam seguras, à medida que são introduzidas em todo o mundo e administradas a milhões de pessoas “existe uma necessidade premente de avaliar a sua eficácia nos diferentes níveis populacionais”, o que exige meses de estudos epidemiológicos.

O IGC e o CHLO têm vindo a colaborar em projectos de vigilância do vírus SARS-CoV-2 em profissionais de saúde e os primeiros resultados do estudo de eficácia, três semanas após a primeira administração da vacina da Pfizer/BioNTech, apresentados em Fevereiro, apontavam para cerca de 90% dos profissionais envolvidos a desenvolver uma resposta imunitária.

Três semanas após a administração da segunda dose da vacina, os valores subiram para mais de 99%, “garantindo uma forte resposta imunitária, que está na base da protecção à doença”, sublinham as instituições.

Em declarações à Lusa, o investigador Carlos Penha Gonçalves sublinhou ainda a importância de manter as medidas de protecção mesmo após o processo de vacinação, explicando: “Os anticorpos têm de estar a níveis muito altos nas mucosas respiratórias para poder prevenir a infecção. Sabemos que o que a vacina faz é prevenir a doença, mas para termos a certeza de que as pessoas continuam protegidas da infecção, ou seja, não são infectadas pelo vírus, é importante manter.”

“As medidas dão uma garantia acrescida de que a pessoa não é portadora do vírus e não o transmite”, acrescentou.

Segundo uma nota conjunta do IGC e do CHLO, neste estudo de seis semanas de acompanhamento os investigadores verificaram, por exemplo, que “a idade tem efeito na resposta à vacina e, nomeadamente, que homens com idades compreendidas entre os 60 e os 70 anos tiveram respostas imunológicas mais baixas, principalmente após a toma da primeira dose da vacina”. “Os resultados mostraram que, após a primeira dose, a resposta imunitária é muito heterogénea na população e que a segunda dose é necessária para maximizar a protecção conferida pela vacina” afirma a imunologista Jocelyne Demengeot, co-responsável pelo estudo e investigadora do IGC citada no comunicado.

“Além de confirmar que, numa população globalmente saudável, a vacina mRNA origina uma forte reposta imune, a sua quantificação nos profissionais de saúde permite-lhes enfrentar com maior confiança os desafios do dia-a-dia e contribui para reforçar em cada um deles a consciência da importância da vacinação”, considera João Faro Viana, médico responsável pelo projecto no CHLO.

O estudo, que continua a decorrer, vai acompanhar o grupo de profissionais de saúde por um período de um ano para tentar perceber por quanto tempo os anticorpos se mantêm, se algum dos profissionais que participam no estudo contrai a doença e qual a resposta que o organismo vai desencadear.

O IGC pretende ainda alargar esta investigação através da monitorização de outras faixas etárias da população e a diferentes vacinas, quando disponíveis a nível nacional, em parceria com outros hospitais e autarquias. O conjunto de dados recolhidos será partilhado com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.