Cidadãos exigem reposição dos antigos limites administrativos da freguesia de Salreu

Cansados da confusão que têm vindo a enfrentar, mais de 20 moradores da área que faz fronteira com Canelas subscreveram um abaixo-assinado dirigido ao Instituto Nacional de Estatística.

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asm ADRIANO MIRANDA

A situação é de tal forma caricata que houve casos em que, numa mesma casa, marido e mulher chegam a ser considerados como residentes em freguesias diferentes. Vários habitantes da área limite da freguesia de Salreu, em Estarreja, foram confrontados, nos últimos anos, com uma mudança para a vizinha freguesia de Canelas. “Erradamente e sem qualquer fundamento”, segundo garantem. O caso assumiu maiores contornos após os últimos Censos, razão pela qual acabam de enviar um abaixo-assinado ao Instituto Nacional de Estatística (INE) a apelar para que, nos Censos de 2021, façam “corrigir o erro anteriormente ocorrido”.

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A situação é de tal forma caricata que houve casos em que, numa mesma casa, marido e mulher chegam a ser considerados como residentes em freguesias diferentes. Vários habitantes da área limite da freguesia de Salreu, em Estarreja, foram confrontados, nos últimos anos, com uma mudança para a vizinha freguesia de Canelas. “Erradamente e sem qualquer fundamento”, segundo garantem. O caso assumiu maiores contornos após os últimos Censos, razão pela qual acabam de enviar um abaixo-assinado ao Instituto Nacional de Estatística (INE) a apelar para que, nos Censos de 2021, façam “corrigir o erro anteriormente ocorrido”.

“Neste momento, a minha carta de condução diz que moro na freguesia de Salreu e o meu cartão do cidadão refere que em Canelas”, exemplifica Daniela Rebelo, primeira subscritora do documento endereçado ao director da direcção de Coimbra do INE. “Sempre fiz a minha vida em Salreu, escola, catequese, e, de repente, quando fui tirar o cartão do cidadão obrigaram-me a preencher tudo de novo porque a minha morada, dizem eles, correspondia a Canelas”, acrescenta, sem esconder a indignação.

Em causa está uma área de cerca de dois quilómetros quadrados, que abrange as ruas do Valdujo e da Enxurreira. Neste momento corre mesmo, no Tribunal Administrativo, uma acção popular, tendo por objecto esclarecer os limites administrativos comuns às freguesias de Salreu e Canelas. A acção é encabeçada pela Junta de Freguesia de Salreu, que defende que “os limites correctos e que se conhecem há centenas de anos”, mostram que aquelas ruas e mais territórios, “por vezes erradamente atribuídos a Canelas, pertencem à freguesia de Salreu”.

Salreu sustenta a sua posição com base num documento do ano de 1744 - mais concretamente o auto de demarcação da freguesia de São Tomé de Canelas anexa à Igreja de São Miguel de Fermelã com a freguesia de São Martinho de Salreu do Concelho da Vila da Bemposta -, pertencente ao acervo do Arquivo da Universidade de Coimbra.

Mais velhos são quem mais sente a mudança

Mais do que as discrepâncias entre documentos, o que mais preocupa Daniela Rebelo são as pessoas mais velhas, que não aceitam a mudança. “Há pessoas que deixaram de ir votar. Não aceitam que, agora de repente, tenham de ir a outra freguesia”, testemunha. Tal como sustentam, no documento endereçado ao INE, que “sempre os residentes destas ruas realizaram o seu recenseamento eleitoral na freguesia de Salreu, era esta a freguesia que constava no Bilhete de Identidade como sendo a de residência e era a considerada para todos os formalismos legais, tanto públicos como particulares”.

Estes cidadãos não admitem outro cenário que não o de tratar-se de um erro - na Carta Administrativa Oficial de Portugal (CAOP), da Direcção Geral do Território, a área em questão aparece como sendo de Canelas - que querem ver corrigido. Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Junta de Freguesia de Canelas, Gabriel Tavares, disse aguardar, serenamente, pela decisão do tribunal, sustentando que a área em questão “sempre pertenceu” a Canelas.