Camboja: Fotografia viral de polícia a amamentar incendeia a discussão sobre direitos das mulheres

Sithong Sokha foi fotografada a amamentar quando estava ao serviço e a imagem tornou-se viral nas redes sociais.

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Por lei, no Camboja , é permitido uma mulher tirar uma hora por dia de trabalho para amamentar o bebé, até que este complete um ano FACEBOOK

Sithong Sokha é polícia, mas também é mulher e mãe. Foi fotografada a amamentar quando estava ao serviço e a imagem tornou-se viral nas redes sociais. Por isso, foi repreendida pelos seus superiores, que a obrigaram a fazer um pedido de desculpas público. Agora, a situação incendiou a discussão em torno dos direitos das mulheres no Camboja. 

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Sithong Sokha é polícia, mas também é mulher e mãe. Foi fotografada a amamentar quando estava ao serviço e a imagem tornou-se viral nas redes sociais. Por isso, foi repreendida pelos seus superiores, que a obrigaram a fazer um pedido de desculpas público. Agora, a situação incendiou a discussão em torno dos direitos das mulheres no Camboja. 

Durante o último ano, as forças de segurança daquele país, têm estado sob constante escrutínio pela forma como controlam a forma de vestir das mulheres e o seu comportamento. Os políticos da oposição alertaram para as múltiplas violações do compromisso feito com as Nações Unidas para acabar com a violência e discriminação face às mulheres.

Quando a fotografia da agente Sithong Sokha se tornou viral, nesta semana, os seus superiores obrigaram-na a pedir desculpas públicas por manchar a reputação das mulheres cambojanas e das forças de segurança. “É perturbador que a agente tenha sido originalmente incentivada a pedir desculpas por ofender a dignidade do seu gabinete e das mulheres. Foi obrigada a assinar um contrato a concordar que pararia de ter aquele comportamento”, diz um comunicado assinado por 39 grupos civis da sociedade, que incentiva ao cumprimento dos direitos das mulheres no local de trabalho. “É fundamental que existam equipamento para cuidar das crianças e pausas para amamentar remuneradas, disponíveis para todas as mães que trabalham”, exigem.

A ministra dos Direitos da Mulheres do Camboja tem sido sucessivamente criticada por não as defender neste tipo de situações e falhar no combate às normas enraizadas que contribuem para a violência de género e desigualdades na posição da mulher na sociedade. Ainda assim esta semana, partilhou uma carta aberta de apoio a Sokha. O último parágrafo do comunicado tem sido criticado, já que condena a amamentação em público, porque “afecta os valores e a dignidade das mulheres Khmer”.

Esta quarta-feira, o ministro do Interior do Camboja também publicou um comunicado, onde se dizia “extremamente desanimado” com o tratamento à agente. Aliás, vários membros do governo têm demonstrado apoio à causa — demonstração de desacordo num país de governo totalitário. “Ela não expressou qualquer sensualidade na fotografia”, argumentou a secretária de Estado, Chou Bun Eng. “Devíamos elogiar, encorajá-la e procurar formas de assegurar que as mulheres polícias, como ela, tenham oportunidade de cuidar dos seus filhos”, acrescentou, numa carta dirigida ao polícia responsável pela queixa contra Sithong Sokha.

Dada a mediatização do caso, a força policial recuou e justificou que a agente apenas teria sido repreendida por publicar fotografias suas em horário laboral. A responsável pela organização Género e Desenvolvimento do Camboja, Ros Sopheap, evocou a lei do país que permite às mães tirarem uma hora por dia para amamentar o bebé, até que este complete um ano — um direito frequentemente ignorado pelas entidades patronais. “Ou sabem e não se importam, ou sabem e violam os direitos”, sublinhou.

Nos últimos anos, têm sido criticadas uma série de leis que o Governo do país diz serem necessárias para manter a dignidade das mulheres no Camboja. Em Julho de 2020, por exemplo, foi partilhado o rascunho de uma lei que criminalizava o uso de roupas imodestas. As redes sociais encheram de fotografias de mulher em fato de banho, como forma de protesto. Em Fevereiro, uma mulher foi acusada de pornografia por ignorar avisos de que usasse roupas mais conservadoras nos vídeos que publicava na página da sua loja de moda.