Joana Lobo Vicente e a quimiofobia

Perguntei também como podemos aumentar a segurança dos cidadãos e incutir-lhes confiança? Qual é o papel da escola? E o dos media? E o das autoridades de saúde e de regulação?

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CLODAGH KILCOYNE/Reuters

No podcast quinzenal “Assim Fala a Ciência”, uma iniciativa do jornal PÚBLICO com o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, eu e o David Marçal temos dado voz a cientistas portugueses no estrangeiro, que têm abordado vários temas de ciência, com vista a contrariar a desinformação.

No programa mais recente falei com a Joana Lobo Vicente, química que trabalha na Agência Europeia do Ambiente, em Copenhaga, na Dinamarca, como especialista em produtos químicos, ambiente e saúde humana. Tem contribuído para a Iniciativa em Biomonitorização Humana, cuja meta é apoiar as políticas públicas de saúde à escala europeia. Antes tinha trabalhado no Joint Research Centre da Comissão Europeia, em Itália, estudando, entre outras coisas, os efeitos de nanopartículas. Tem uma licenciatura em Química na Universidade de Lisboa e um doutoramento concluído em 2012 no King’s College de Londres. Actualmente dirige uma acção para agregar cientistas portugueses nos países nórdicos.

A Joana Vicente começou por falar do seu trabalho, dando-nos a conhecer o projecto de Biomonitorização Humana. Este assenta em inquéritos à população e em recolha de amostras, que são analisadas em vários laboratórios, incluindo alguns portugueses. Quis saber concretamente que riscos de exposição química são considerados e que consequências irão ter os estudos sobre eles.

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Joana Lobo Vicente DR

Todos já ouvimos falar dos prejuízos que alguns produtos químicos causam ao ambiente. Em inglês, os produtos químicos designam-se por “chemicals”, um termo que é por vezes traduzida por “químicos” (para mim, químicos são as pessoas, como Joana Vicente, com formação na área da Química). Esses produtos ganharam uma fama terrível, prejudicando a reputação da Química e dos químicos. Há quem tenha medo de tudo o que é “químico”, preferindo o “natural”, como se uma molécula de água feita artificialmente juntando um átomo de oxigénio e dois de hidrogénio não fosse igual a uma molécula de água da chuva. Perguntei-lhe como podemos combater a quimiofobia.

Existindo várias ameaças na nossa vida – a deterioração do ambiente, as alterações climáticas, as pandemias, etc. –, muitas pessoas têm ideias pouco claras sobre a gravidade dos riscos a que estamos sujeitos. E o senso comum nem sempre é bom conselheiro. Perguntei à Joana como podemos aumentar a segurança dos cidadãos e incutir-lhes confiança? Qual é o papel da escola? E o dos media? E o das autoridades de saúde e de regulação?

Apesar do êxito da ciência, persiste no mundo um défice na ligação entre ciência e sociedade. As duas precisam uma da outra, pois o progresso da ciência é alimentado pela sociedade e o progresso da sociedade deriva em larga medida da ciência. Perguntei, no final, o que podemos fazer para reforçar esta ligação. Que responsabilidade têm os químicos (as pessoas, não os produtos) nesse processo? Como transmitir melhor a ciência? E como ligar melhor a ciência e o poder político, de modo a basear as decisões numa base mais racional?

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Este programa tem o apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos.