Covid-19: Associação das Lutuosas diz que norma para funerais é “despropositada”

O presidente da Associação das Empresas Lutuosas recomenda que os operadores funerários se recusem a cumprir as novas normas caso não exista segurança. A possibilidade de abertura da tampa da urna é descrita como “uma coisa atroz”.

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A DGS actualizou as normas para a realização de funerais de pessoas com covid-19 no sábado Paulo Pimenta

A Associação das Empresas Lutuosas (ANEL) considera que a actualização da norma para a realização de funerais covid-19, feita pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), é “extemporânea e despropositada” atendendo ao actual pico pandémico e questiona a segurança das alterações.

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A Associação das Empresas Lutuosas (ANEL) considera que a actualização da norma para a realização de funerais covid-19, feita pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), é “extemporânea e despropositada” atendendo ao actual pico pandémico e questiona a segurança das alterações.

“Foi extemporânea e despropositada. Teria sido mais oportuna em Setembro [quando a Organização Mundial da Saúde publicou uma orientação provisória de prevenção e controlo de infecção para manejo seguro de cadáveres no contexto covid-19] ou deixar que este pico pandémico passasse e se estabilizasse a realização das cerimónias”, referiu este domingo o presidente da ANEL, Carlos Almeida. "Se não houver segurança para o operador funerário conseguir executar a tarefa, deve-se abster de o fazer"

Em declarações à agência Lusa, o dirigente considerou que “a possibilidade de abertura da tampa da urna é uma coisa atroz” e que “o menos mau de tudo é a utilização do visor amovível para visualização do rosto”, mas frisou como “conselho aos operadores funerários” que estes “façam tudo com muito cuidado” ou “recusem fazer no caso de não terem segurança”.

A DGS actualizou as normas para a realização de funerais de pessoas com covid-19 e recomenda que, dada a situação actual de mortalidade aumentada, os cemitérios e crematórios deverão funcionar na sua capacidade máxima.

Esta actualização das regras prevê, ainda, que para a cerimónia fúnebre, o caixão deve preferencialmente manter-se fechado, mas caso seja esse o desejo da família, e houver condições, pode permitir-se a visualização do corpo, desde que rápida, a pelo menos um metro de distância.

O presidente da ANEL lembrou, no entanto, que em causa está um momento de despedida que se pauta por “imprevisibilidade” porque “às vezes a emoção tolda a razão” e “o “stress” emocional provoca muitas situações inesperadas”, apelando ao “bom senso” de todos, nomeadamente da população portuguesa.

Demora na concretização de funerais

Outra situação para a qual alerta Carlos Almeida é o facto de neste momento Portugal viver um pico de mortes, o que se tem repercutido em demora na concretização de funerais, nomeadamente cremações.

Segundo Carlos Almeida, 99,9% das funerárias portuguesas são pequenas e médias empresas familiares, estando algumas fechadas devido a casos de infecção, quarentena ou isolamento, o que “nos grandes centros poderá não ter grande repercussão em termos de capacidade de resposta, mas nos pequenos tem”, descreveu.

Apesar da conservação dos cadáveres pelo frio, o dirigente apontou que esta realidade se repercute no aspecto visual dos cadáveres, podendo ser “mais chocante ainda as pessoas visualizarem nestas circunstâncias do que não visualizarem”.

“Para além da consequência da doença, a putrefacção dos corpos vai ser por demais evidente. E esta norma não permite, nem nos passaria pela cabeça, ter qualquer intervenção junto do cadáver para amenizar o impacto visual”, referiu Carlos Almeida que também questiona as normas sobre a vacinação.

“Folgo em saber que os bombeiros e as forças de segurança serão os próximos profissionais da linha da frente a serem vacinados, mas não vislumbro lá que o sector funerário, que acolhe cerca de 5.000 pessoas, esteja em previsão”, concluiu.