Doentes com síndromes respiratórias devem ir aos centros de saúde, pede Marta Temido

Ministra da Saúde assume que a sobrecarga nos hospitais do SNS vai continuar nos próximos dias. Ministério pediu esclarecimentos à DGS sobre eventual revisão das recomendações sobre uso de máscaras por causa da nova variante.

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Ricardo Lopes

A ministra da Saúde assume que a sobrecarga vai continuar e apela aos utentes com síndromes respiratórias que se dirijam aos centros de saúde em vez de aos hospitais. 

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A ministra da Saúde assume que a sobrecarga vai continuar e apela aos utentes com síndromes respiratórias que se dirijam aos centros de saúde em vez de aos hospitais. 

“A situação de sobre-esforço dos hospitais do SNS é real”, afirmou Marta Temido, referindo que o ministério tem acompanhado o esforço dos hospitais e dos profissionais em aumentar camas de enfermaria e de UCI. Sobre as medidas em curso, “por um lado, os hospitais escalaram ao máximo os seus planos de contingência e ultrapassaram já muito aquilo que eram os níveis máximos dos seus planos na grande maioria dos casos”.

Mas é preciso continuar a aumentar a resposta à covid-19, disse a ministra, referindo alguns exemplos. “Hoje [segunda-feira], o Hospital Garcia de Orta [em Almada] inicia o funcionamento de mais uma ala de 33 camas que visitámos na semana passada e que estava dependente da disponibilidade de recursos de enfermagem. Aliás, a maioria das camas que temos preparadas para abrir carece, de facto, de recursos de enfermagem”, assumiu Marta Temido.

Também o hospital de campanha instalado em Lisboa, no Estádio Universitário, deverá passar ainda esta semana das 20 camas activas para as 58, o máximo previsto até agora. “Tem sido realizado um trabalho de preparação do alargamento desta estrutura para mais cem camas de resposta. Exige que recursos humanos, concretamente de enfermagem, que estão alocados a outras áreas, sejam afectos a estas estruturas, e isso é mesmo o mais difícil.” Adicionalmente, está previsto que o reforço do Hospital das Forças Armadas, em Lisboa, comece nesta segunda-feira com 30 camas de um total de 140.

“Também as instituições dos grupos privados, concretamente na zona de Lisboa e Vale do Tejo, estão a trabalhar com o Ministério da Saúde no sentido de abrir mais camas além daquelas que tinham convencionadas. Concretamente, algumas de cuidados intensivos”, acrescentou. Marta Temido salientou que as autoridades de saúde continuam “a trabalhar no sentido de uma melhor gestão dos internamentos e de um encaminhamento eficiente dos doentes internados em hospital para outras respostas, sejam estruturas de retaguarda sejam domicílios”.

A grande pressão levou Marta Temido a deixar um apelo, repetindo o que o Hospital Garcia de Orta já tinha feito no fim-de-semana: “O que pedimos é que os utentes que tenham necessidade de se dirigirem aos serviços de saúde o façam especialmente tendo presente que os centros de saúde são a primeira porta.”

“Existem atendimentos à doença respiratória em todos os agrupamentos de centros de saúde. Se houver necessidade, serão encaminhados para os hospitais. Mas, neste momento, precisamos de um esforço de todos durante mais uma semana, durante mais dez dias para conseguirmos vencer este momento ainda crítico”, pediu a ministra.

Mudanças nas recomendações?

A ministra da Saúde anunciou que questionou a Direcção-Geral da Saúde sobre a necessidade de haver uma revisão das recomendações, nomeadamente em relação ao uso de máscaras, por causa das novas variantes de SARS-CoV-2 que são mais transmissíveis. Em França, por exemplo, as autoridades de saúde alertaram para o facto de as máscaras de pano, algumas feitas em casa, poderem não oferecer a necessária protecção contra estas novas variantes. E na Alemanha pondera-se tornar obrigatório o uso de máscaras FFP2 em transportes públicos e em lojas.

“Ontem [domingo] dirigimos uma questão à DGS [Direcção-Geral da Saúde], eu própria [o fiz]: se as medidas de saúde pública podem precisar de ser adaptadas. Não há ainda recomendações adicionais, concretamente em relação ao uso de máscaras ao nível do Centro Europeu de Controlo de Doenças, e, como é sabido, temos sempre alinhado as nossas posições com as recomendações internacionais. Estamos muito atentos e logo que haja alguma informação, que coloque alguma necessidade de adaptação, fá-lo-emos”, disse a ministra da Saúde, nesta segunda-feira, em conferência de imprensa de balanço do plano de vacinação contra a covid-19.

Marta Temido tinha sido questionada sobre novas medidas por causa das novas variantes do vírus que se mostraram mais transmissíveis, nomeadamente as do Reino Unido e da África do Sul, ambas já identificadas em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa). Facto que a ministra lembrou, sobretudo em relação à variante britânica. É “muito preocupante, na medida em que indicia que o país esteja a ser mais atacado por esta nova variante do que outros congéneres”, disse.

“O recomendado é a máxima prudência. Este vírus não tem parado de nos surpreender negativamente. É essencial que todas as medidas continuem a ser cumpridas”, afirmou a ministra da Saúde, que assumiu que a sobrecarga nos hospitais do SNS é grande e vai manter-se assim por pelo menos mais dez dias. Segundo o boletim da DGS desta segunda-feira, nas últimas 24 horas registaram-se mais 303 doentes com covid-19 internados, dos quais 25 em unidades de cuidados intensivos (UCI).