Marcelo deixa Tiago Mayan Gonçalves sem resposta à pandemia

Candidato da Iniciativa Liberal começou ao ataque contra o “ministro da propaganda do Governo” mas acabou por não conseguir explicar qual era a alternativa liberal ao estado de emergência.

Foto
Tiago Mayan Gonçalves obrigou Marcelo a explicar-se, mas não se explicou LUSA/PEDRO PINA

A resposta à pandemia e a oposição da Iniciativa Liberal ao estado de emergência marcou o debate entre o actual Presidente da República e o Tiago Mayan Gonçalves, domingo à noite na RTP. O candidato liberal até começou ao ataque, obrigando Marcelo Rebelo de Sousa a explicar algumas decisões do seu mandato, mas no contra-ataque Marcelo fintou-o e deixou-o sem resposta sobre qual era a alternativa do seu partido ao estado de emergência.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A resposta à pandemia e a oposição da Iniciativa Liberal ao estado de emergência marcou o debate entre o actual Presidente da República e o Tiago Mayan Gonçalves, domingo à noite na RTP. O candidato liberal até começou ao ataque, obrigando Marcelo Rebelo de Sousa a explicar algumas decisões do seu mandato, mas no contra-ataque Marcelo fintou-o e deixou-o sem resposta sobre qual era a alternativa do seu partido ao estado de emergência.

O frente-a-frente começou duro, com as acusações de Tiago Mayan Gonçalves de que o Presidente da República tinha sido o “ministro da propaganda do Governo” durante o primeiro mandato. “Em democracia não pode haver censura, e muito menos em campanha eleitoral, está no seu direito”, começou por responder. Marcelo repetiu o argumento de que não esteve com o Governo, mas com os portugueses, lembrou a importância da estabilidade política mas disse que isso não o travou de vetar mais do que os seus antecessores (excepto Ramalho Eanes) e que “em várias ocasiões” esteve “em desacordo com o Governo”.

“O mandato do Presidente foi um falhanço”, ripostou Tiago Mayan Gonçalves, dando como exemplos a afirmação de que havia vacinas da gripe para todos, a não recondução de Joana Marques Vidal no cargo de procuradora-Geral da República e a festa de anúncio da Liga dos Campeões em Belém. Lamentou ainda os “nove meses passados num pacto de silêncio” no caso do SEF. “A única coisa que move o Presidente é a busca da popularidade”, disse, relacionando as críticas ao Governo com as sondagens: “Aí está pronto a tirar o tapete até a ministros quando sente que a sua popularidade está afectada”.

Na réplica, Marcelo teve que se explicar. Disse que a própria Joana Marques Vidal assumiu, desde o início do mandato, que teria um mandato único e que a sua substituição não parou a investigação de casos de corrupção. Lembrou que nas vacinas se limitou a repetir o que a ministra tinha dito e depois, “humildemente”, reconheceu o erro. E defendeu-se dizendo que interveio sempre em relação aos ministros “no momento em que os factos ocorreram”, lembrando o caso dos fogos florestais em 2017 e ainda agora o caso do procurador europeu, repetindo ter havido um “desleixo lamentável”.

“É-me indiferente a popularidade, totalmente indiferente”, assegurou Marcelo, lembrando ter vetado a lei do financiamento dos partidos contra todos o parlamento e a lei da contratação pública relativa aos fundos europeus. De resto, frisou que a maior parte dos seus vetos ocorreram “na primeira metade do mandato”. 

Foi aí que passou ao contra-ataque: “Que lei vetaria que eu não vetei?”, perguntou. Tiago Mayan Gonçalves gaguejou mas acabou por apontar a lei da descentralização que permitiu as eleições para as Comissões de Coordenação Regional: “Aquilo foi um simulacro de democracia, onde PS e PSD combinaram os candidatos. O senhor é o candidato dos donos disto tudo”.

Tiago Mayan Gonçalves ainda teve a oportunidade de dizer que se candidatava para “representar uma visão liberal para a Presidência da República”, “uma visão distinta de todos os outros candidatos”. Mas quando assumiu que essa visão passa por tirar o Estado da Saúde, começou a ter dificuldades em responder tanto ao adversário como ao moderador, Carlos Daniel.

Marcelo lembrou que a IL votou praticamente sempre contra o estado de emergência e apontou contradições: “O que seria o número de mortes sem o estado de emergência? É muito fácil apresentar esse sonho bonito dos ideais liberais, mas os países liberais acabaram todos mal na pandemia”.

Nessa altura o Presidente entrou em cena para afirmar-se “muito preocupado” com “o galope da nova variante no Reino Unido”, e apesar das “novas medidas” tomadas na Madeira, sublinhou que “há outra vez uma pressão sobre os internamentos e os cuidados intensivos” no país que justificam a sua preocupação. “Houve um laxismo nos últimos dias”, disse, acrescentando que quer evitar “até ao limite” um novo confinamento, mas é preciso ouvir os especialistas.

“Como é que os liberais respondiam a esta situação?”, questionou Marcelo. “O Presidente escolhe desconfiar dos portugueses”, replicou Tiago Mayan Gonçalves, criticando o “cheque em branco” passado ao Governo. Perante a insistência da pergunta, respondeu apenas que “naturalmente não íamos ter um Natal normal, um Verão Normal nem uma passagem de ano normal”. Só não disse como isso seria.