Austrália vai afastar militares envolvidos em “crimes de guerra” no Afeganistão

Ministério da Defesa australiano iniciou “acções administrativas” contra membros da unidade de elite que foram cúmplices ou testemunhas de crimes contra civis afegãos.

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O general Campbell na apresentação do relatório Brereton MICK TASIKAS/EPA

Pelo menos dez actuais membros das forças de elite australianas que estiveram mobilizados no Afeganistão depois do 11 de Setembro já receberam “avisos de provável despedimento”, iniciando o processo que deverá culminar na sua expulsão. A notícia chega exactamente uma semana depois da divulgação de um relatório que descreve como alguns militares enviados pela Austrália assassinaram pelo menos 39 civis afegãos que não representavam qualquer ameaça.

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Pelo menos dez actuais membros das forças de elite australianas que estiveram mobilizados no Afeganistão depois do 11 de Setembro já receberam “avisos de provável despedimento”, iniciando o processo que deverá culminar na sua expulsão. A notícia chega exactamente uma semana depois da divulgação de um relatório que descreve como alguns militares enviados pela Austrália assassinaram pelo menos 39 civis afegãos que não representavam qualquer ameaça.

O Ministério da Defesa confirmou ao canal ABC ter “iniciado acções administrativas” contra soldados membros de dois esquadrões, um já dissolvido, o SAS (Special Air Service), adiantando que outros membros poderão ser expulsos ou alvo de sanções. Os militares “têm direito a responder até 14 dias depois” de serem notificados, prazo que pode ser dilatado.

Estes militares são suspeitos de terem sido “cúmplices” ou “testemunhas” de crimes – nesta lista não está nenhum dos 19 indivíduos envolvidos em 36 casos que o major e juiz Paul Brereton recomendou que sejam investigados pela polícia e eventualmente acusados criminalmente. Ao todo, Brereton identificou 25 militares envolvidos no que um tribunal consideraria como “crimes de guerra”.

De acordo com o relatório dirigido por Brereton, um pequeno grupo de comandantes de patrulha cometeu ou encobriu os crimes, em casos “em que os novos membros da patrulha” eram forçados “a disparar sobre um prisioneiro para levar a cabo o seu primeiro homicídio” ou em que os afegãos eram usados para “tiro ao alvo”. Brereton aponta falhas de supervisão das chefias, agravadas pela “cultura guerreira” das forças de elite e pela sensação que o “sacrifício colectivo” das SAS justificava desvios às regras.

O primeiro-ministro, Scott Morrison, e o mais alto responsável militar australiano, general Angus Campbell, pediram desculpas às autoridades afegãs e o Governo criou um gabinete especial e nomeou um investigador para avaliar possíveis acusações criminais.