Peru “a arder” por causa de destituição do Presidente

Os protestos contra o novo Governo interino do Peru e a acção do Congresso de derrubar Martín Vizcarra não parecem abrandar. Ao fim de quatro dias, os manifestantes chocaram com a polícia anti-motim.

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Milhares de pessoas marcharam na noite de quinta-feira pelas ruas de Lima, a capital peruana, e em outras cidades do país, em protestos contra a destituição do Presidente Martín Vizcarra com uma dimensão que não se via há duas décadas. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e munições de chumbo, causando 11 feridos, dois deles com projecteis, um deles internado em estado grave nos cuidados intensivos.

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Milhares de pessoas marcharam na noite de quinta-feira pelas ruas de Lima, a capital peruana, e em outras cidades do país, em protestos contra a destituição do Presidente Martín Vizcarra com uma dimensão que não se via há duas décadas. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e munições de chumbo, causando 11 feridos, dois deles com projecteis, um deles internado em estado grave nos cuidados intensivos.

Pela quarta noite consecutiva, os manifestantes insurgiram-se contra a classe política que forçou a saída de Vizcarra a menos de seis meses das eleições gerais de Abril de 2021 e contra a nomeação de Manuel Merino, o líder do Congresso, como Presidente interino.

Com cartazes e palavras de ordem contra Merino, os manifestantes entraram em choque com a polícia que respondeu em força para travar os protestos. Há denúncias que terão sido disparadas granadas de gás lacrimogéneo desde helicópteros, o que o ministro do Interior, Gastón Rodríguez, negou, em declarações à rádio RPP: “É falso”.

“Todo o Peru está a arder, estamos todos muito zangados com aquilo que se passou no nosso país”, disse José Veja, um manifestante em Lima, em declarações à agência Reuters. Os manifestantes queimaram objectos e usaram paus e pedras para enfrentar a polícia: “Queremos expressar indignação contra a classe política que está a fazer o que quer do país”, afirmou uma outra manifestante, citada pela agência Infobae.

Convocados por organizações da sociedade civil, os manifestantes encheram a praça San Martín e o parque do distrito de Miraflores, zona nobre de Lima. Um dos grupos tentou chegar ao Congresso, mas acabou travado pela polícia anti-motim: “Uma dezena de manifestantes foi detida”, adiantou Mar Peréz, advogada da Coordenadora de Direitos Humanos, em declarações.

A provedoria de justiça peruana (Defensoria del Pueblo) exigiu esta sexta-feira “o fim imediato do uso de gás lacrimogéneo e munições com chumbo contra cidadãos/ãs que exercem o seu direito de manifestar-se”.

Em declarações ao El Comércio, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, candidato à presidência em 1990, acusou o Congresso de “ter violado a Constituição”, numa atitude que acabou “tendo a reprovação do grosso da população peruana”. Curiosamente, foi o primeiro-ministro agora nomeado por Merino, o general Antero Flores Aráoz, quem há 30 anos promoveu a candidatura do escritor que acabou derrotado por Alberto Fujimori. Os mesmos fujimoristas que agora conspiraram para derrubar Vizcarra.