Covid-19: Alemanha tem app tão segura que até políticos a podem usar

Em funcionamento há pouco mais de uma semana, a aplicação já foi descarregada por 13 milhões. Os primeiros alertas de pessoas que estiveram próximas de infectados foram lançados na quarta-feira.

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A aplicação do Governo alemão foi desenvolvida em open source LUSA/MARTIN ROSE / POOL

Quando a aplicação Corona-Warn-App foi lançada na Alemanha a 16 de Junho, o chefe de gabinete de Angela Merkel, Helge Braun, disse que esta não é a primeira aplicação de alerta do mundo, acrescentando: “Mas estou convencido de que é a melhor”.

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Quando a aplicação Corona-Warn-App foi lançada na Alemanha a 16 de Junho, o chefe de gabinete de Angela Merkel, Helge Braun, disse que esta não é a primeira aplicação de alerta do mundo, acrescentando: “Mas estou convencido de que é a melhor”.

Apesar do medo de perda de privacidade de muitos alemães, por terem vivido sob regimes que espiaram os seus cidadãos, com organizações como a Gestapo ou a Stasi, a app conta com 13 milhões de downloads em pouco mais de uma semana de funcionamento.

A app alemã tem uma originalidade: foi desenvolvida em open source (código aberto), o que permite a transparência para que todos vejam como funciona. Quem quiser replicá-la, pode fazê-lo.

Algumas aplicações, incluindo por exemplo a francesa, guardam os dados num servidor central. Embora tenha chegado a ser discutida, esta opção foi rejeitada na Alemanha a favor da abordagem “descentralizada”. Isso quer dizer que cada telefone guarda durante duas semanas a informação (através de bluetooth) sobre os aparelhos dos quais esteve próximo. Se o utilizador de um destes telefones introduzir a informação de que teve um resultado positivo no teste para o SARS-CoV-2 (confirmado por código QR), os telefones que estiveram próximos deste recebem um alerta. 

Na quarta-feira passada, depois de cerca de uma semana a funcionar, os primeiros utilizadores introduziram resultados positivos de testes — estima-se que tenham sido entre 20 e 30, diz a revista Der Spiegel —, e horas depois, os que estiveram próximos receberam os primeiros alertas. Não é possível a ninguém, nem a quem desenvolveu a app, saber quantas pessoas se registaram como infectadas, porque os números para identificar telefones são gerados a cada dia, daí que o número de infectados seja uma estimativa. Muito menos se pode saber a quantas pessoas foi enviada notificação, pelas mesmas razões.

A aplicação permite a quem recebe o alerta fazer um teste gratuito, mas não há obrigação — não haveria como, porque as autoridades de saúde não têm como saber quem recebe os avisos. 

A app dá ainda uma ideia do grau de risco, dependendo de quanto tempo durou o contacto com a pessoa infectada, quanta distância havia entre elas, e quando é que o teste deu positivo.

Os dados são encriptados e apagados automaticamente após duas semanas. A aplicação, cujo desenvolvimento custou 20 milhões de euros e cujo funcionamento custa três milhões por mês, foi descrita como “tão segura que até os políticos a podem usar”. A agência de cibersegurança alemã esteve envolvida desde o início no processo de desenvolvimento da app, e o Presidente, Frank-Walter Steinmeier, e a sua mulher, a juíza Elke Büdenbender, foram dos primeiros a anunciar que estavam a usar a aplicação.

Um dos maiores elogios veio da associação de hackers Chaos Computer Club, cujo porta-voz, Linus Neumann, reconheceu que as preocupações da organização foram ouvidas no desenvolvimento da app. “Estou numa posição difícil”, disse, antes de sorrir, à emissora pública ARD.