CT acusa Super Bock de “ignóbil aproveitamento” da pandemia para reduzir custos

Cervejeira dona da Super Bock e das águas Pedras Salgadas comunicou ontem que força de trabalho irá ser suprimida em 10% este ano, num processo a arrancar já este mês. Em causa estão cerca de 130 pessoas

Foto
Nelson Garrido

A Comissão de Trabalhadores (CT) da Super Bock Bebidas acusou esta quarta-feira a empresa de fazer “um ignóbil aproveitamento emocional” da pandemia covid-19 para reduzir postos de trabalho e salários, argumentando que o grupo tem atingido resultados “extraordinários”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Comissão de Trabalhadores (CT) da Super Bock Bebidas acusou esta quarta-feira a empresa de fazer “um ignóbil aproveitamento emocional” da pandemia covid-19 para reduzir postos de trabalho e salários, argumentando que o grupo tem atingido resultados “extraordinários”.

“É garantido que estamos perante um ignóbil aproveitamento do cariz emocional da pandemia para, a pretexto disso, promover uma cega redução de custos, pondo em prática opções estratégicas de gestão ideológica que poderão validar os rumores que dão conta da intenção de venda da cota da empresa, que ainda é nacional, para mãos estrangeiras”, avança a CT em comunicado.

A cervejeira com sede em Leça do Balio é controlado em 56% pela Viacer SGPS e em 44% pela Carlsberg, mas como o o grupo dinamarquês é dono também de 28,5% da Viacer, acaba por controlar, directa e indirectamente 59,96% do Super Bock Group. Os restantes 71,5% da Viacer SGPS estão nas mãos do grupo Violas que é agora  último accionista português, depois da saída do BPI e da Arsopi, em 2018.

A reacção da CT surge depois de, na terça-feira, o Super Bock Group ter anunciado que decidiu reduzir a sua força de trabalho em 10%, devido ao impacto da pandemia de covid-19. O último relatório e contas do grupo, relativo ao ano de 2018, contabiliza em 1310 o número de colaboradores nesse ano. Se a antiga Unicer manteve o mesmo número médio de trabalhadores com que terminou 2018, o “reajustamento”, como lhe chama a empresa, irá abranger cerca de 130 pessoas.

De acordo com a CT, nos últimos anos tem havido uma “acentuada descapitalização humana da empresa” e a anunciada redução de pessoal poderá comprometer a capacidade produtiva da empresa que, no Verão, “necessitará, como já necessita, de mais trabalhadores”.

“Com o processo de desconfinamento social, a fábrica assumiu níveis de produção de quase 100%, em alguns casos acima disso”, conta a estrutura representativa dos trabalhadores, indicando que há situações em que as pessoas estão a trabalhar 24 horas por dia, com recurso ao trabalho suplementar.

A CT afirma ainda que as informações da administração que chegam à CT “garantem a boa saúde financeira da empresa” e prova disso “é a recente aquisição dos terrenos adjacentes à fábrica, sem propósito definido, precavendo eventuais necessidades de expansão, por um custo perto dos cinco milhões de euros”.

“A empresa tem atingido resultados extraordinários, permitindo que se financie a si própria, mantendo os índices de endividamento em valores residuais, sem necessidade de qualquer injecção de capital por parte dos accionistas, que se limitam a, anualmente, vir recolher os lucros”, sublinha a CT.

A organização laboral refere ainda que “em pleno estado de pandemia” a frota automóvel para os directores e administradores foi renovada.

A CT diz que irá promover, “no imediato” a realização de plenários sobre o assunto.