Shaeco e Terra, as marcas portuguesas que nos levam de volta às origens do sabão

Com um champô ecológico sólido e uma embalagem de restos de cortiça, a Shaeco aposta na internacionalização. Também a Terra promete retribuir o que a natureza dá, com a qualidade inerente ao mercado artesanal.

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Do consumo sustentável e de desafiar a rotina, nasceram a Shaeco e a Terra. As marcas portuguesas apostam em produtos ecológicos com ingredientes naturais e formatos práticos. A Shaeco está online há quase um mês, com um champô sólido e ecológico, produzido a nível industrial e tem grandes objectivos para o mercado internacional. Já a Terra é uma saboaria artesanal com um ano, que lança a gama completa este mês.

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Do consumo sustentável e de desafiar a rotina, nasceram a Shaeco e a Terra. As marcas portuguesas apostam em produtos ecológicos com ingredientes naturais e formatos práticos. A Shaeco está online há quase um mês, com um champô sólido e ecológico, produzido a nível industrial e tem grandes objectivos para o mercado internacional. Já a Terra é uma saboaria artesanal com um ano, que lança a gama completa este mês.

A ideia surgiu a Vera Maia, mentora da marca, e a quatro colegas, quando começaram a adoptar um “estilo de vida mais consciente” e “mais sustentável”, há dois anos. Com historial em marketing digital e e-commerce, e sem experiência no fabrico de produtos, a Shaeco, de Viana do Castelo, optou por trabalhar com fornecedores com certificação. A garantia de qualidade levou à marca dois anos para ser lançada.

O champô sólido já marcava presença na vida de Vera, mas enfrentava alguns obstáculos como não fazer tanta espuma e não ter um cheiro agradável. “Não somos fundamentalistas”, afirma a mentora da marca, destacando a importância de manter uma imagem limpa e agradável.

Um champô para cada membro da família, com embalagens nocivas para o ambiente, não é uma realidade para a Shaeco. Além de as embalagens serem feitas de restos de cortiça a marca rege-se pela premissa de que qualquer pessoa pode utilizar o produto, evitando-se assim o desperdício.

Produtos vegan e amigos do ambiente já são uma realidade em Portugal, embora a maioria seja de fabrico artesanal. Para Vera Maia isso implica “um problema de manutenção de qualidade do produto”. Embora a Shaeco tenha optado por uma produção industrial, o processo de produção tem em atenção o desperdício de água.

Com menos de um mês e com apenas um produto para venda, a marca já saiu do mercado português e conseguiu a aprovação da Amazon para vendas europeias. “A internacionalização é o nosso maior objectivo”, confirma Vera Maia, acrescentando que a marca já regista vendas em Espanha, Reino Unido, Holanda e Alemanha. “Acreditamos muito nos nossos produtos portugueses, na qualidade que têm, na capacidade de internacionalizar as nossas marcas”, declara.

O condicionador sólido já está a ser desenvolvido e sabonetes de corpo e de rosto estão em fase de testes. “Nos próximos seis meses teremos dois a três produtos novos”, anuncia , prevendo também a introdução da marca no segmento dos cosméticos, no futuro.

A pandemia não foi um obstáculo para o lançamento da Shaeco dada a vertente digital da sua estratégia. A formação na área de marketing foi uma mais-valia quando foi necessário realizar a análise e pesquisa de mercado que, para além de avaliar que mercados são favoráveis ao produto, prevê uma facturação na ordem dos 2,7 milhões de euros, em 2026.

Nostalgia artesanal

A Terra – Saboaria Artesanal é o bebé de Maria José Nobre e Rúben de Almeida-Domingues. A ideia de criar “produtos que não prejudiquem o ambiente e que ao mesmo tempo sejam mais benéficos para nós do que os produtos industriais” já surgiu há dois anos — tempo usado por Maria José para aperfeiçoar os produtos e desenvolver a gama completa — mas só agora é que os criadores consideram que estão a fazer o lançamento.

Amigos há quase 40 anos, Maria José foi a primeira chefe de Rúben, numa empresa de detergentes e higiene pessoal. Apesar de terem seguido caminhos diferentes, os criadores da Terra, fundada em Lisboa, sempre estiveram relacionados com a cosmética. Maria José Nobre deve o seu conhecimento de processos industriais na indústria da beleza, à experiência “na área de cosmética e produtos de bem-estar em multinacionais”, enquanto Rúben de Almeida-Domingues ingressou pelo marketing e publicidade. “Curiosamente sempre trabalhei com clientes na área da cosmética, marcas de cosmética selectiva”, conta o agora responsável pelo marketing da marca.

No que chamam “regresso às origens”, os empresários têm como objectivo “mostrar que é possível ter produtos que sejam 100% naturais”, que são “tão eficazes como os que têm químicos ou sintéticos”, mas que têm a vantagem de fazer melhor à pele e à natureza, onde se vai buscar “tudo aquilo que nós precisamos para viver”.

A consciencialização ambiental feita pela “mão dos filhos” aliada aos mercados biológicos que “começam a proliferar”, e aos consumidores que estão mais informados, faz os criadores da Terra, acreditar que “estes mercados são os do futuro”.

Rúben Almeida-Domingues vê a adesão à marca em duas vertentes. Enquanto as camadas mais jovens “nascem com maior preocupação”, “comparam ingredientes” e “se informam na Internet”, os consumidores mais velhos partilham uma “identificação nostálgica” porque “acham curioso uma empresa com métodos artesanais, que viam as avós fazer”.

Mas não é apenas o sabão que é ecológico. “Nós não usamos plásticos, não usamos um único ingrediente, ou um único produto para a embalagem que não seja 100% biodegradável”, salvaguarda Maria José Nobre.

A escolha de os produtos serem sólidos também está relacionado com o ambiente, pois é mais fácil a embalagem para o sabão não ter ingredientes tóxicos. À vertente ecológica junta-se a prática: é mais fácil viajar com um sólidos do que com líquidos, além de não haver risco de o produto verter. Sendo também mais concentrado, os consumidores estão a comprar mais produto por preços acessíveis, acrescenta.

Com a maior fatia de vendas feitas na página do Facebook, a Terra sentiu um “aumento exponencial das vendas online”, desde o início da pandemia. O aborrecimento sentido durante o confinamento, que leva os consumidores a fazer mais compras pela Internet, foi uma das justificações dos criadores para este aumento.

Apesar da “estrutura micro”, com parceiros e embaixadores da Terra que envolvem entidades empresariais com acesso a lojas físicas e online e revendedores, cuidadosamente seleccionados, Rúben Almeida-Domingues considera que a saboaria “dificilmente” vai estar “em pontos de venda massificados”. Para já vão apostar no alargamento da distribuição, mas uma loja física também entra nos planos futuros. 

Texto editado por Bárbara Wong