Surfistas regressaram ao mar da Figueira da Foz apesar do vento e poucas ondas

As fracas condições podiam não proporcionar um desconfinamento feliz a quem faz o desporto no mar. Mas a vontade de surfar e de voltar ao mar não afastou os mais apaixonados.

Foto
Surfistas e pescadores afastados do mar pela pandemia voltaram esta segunda-feira às praias da Figueira da Foz Paulo Novais/LUSA

O vento forte e as poucas ondas não impediram esta segunda-feira o regresso ao mar da Figueira da Foz de alguns surfistas, mas também de pescadores lúdicos, que estavam afastados da actividade devido à pandemia da covid-19.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O vento forte e as poucas ondas não impediram esta segunda-feira o regresso ao mar da Figueira da Foz de alguns surfistas, mas também de pescadores lúdicos, que estavam afastados da actividade devido à pandemia da covid-19.

A norte ou a sul da cidade da Figueira da Foz, no litoral do distrito de Coimbra, não faltam areais para a prática de desportos de ondas, com características diversas entre si, conforme a ondulação e direcção do vento. E se as previsões, esta segunda-feira, no primeiro dia em que desportos individuais voltaram a ser permitidos, faziam antever a possibilidade de boas condições para o surf, o vento forte acabou por trocar as voltas aos praticantes da modalidade, que, apesar das poucas ondas e depois de mais de um mês afastados do mar, voltaram à água.

Passavam poucos minutos das 8h e em Buarcos, junto ao Cabo Mondego, já Marcos e Marcelo Charana, pai e filho, enfrentavam as ondas da Mina, às portas da antiga fábrica de cal, hoje desactivada.

“Foram 50 dias sem tocar na “chicha”. Na quarta-feira da semana passada, fui à Murtinheira (praia mais a norte, na freguesia de Quiaios) lavar a cara e deu-me vontade de chorar (por não poder surfar). Esta segunda-feira, foi mesmo para matar o vício”, disse à agência Lusa Marcos Charana.

Foto
Os surfistas chegaram bem cedo à praia, mas o tempo na Figueira da Foz, e no resto do país, não ajudou à prática de qualquer desporto Paulo Novais/LUSA

Natural de Buarcos e surfista há mais de 30 anos, Marcos Charana acabou por estar na água durante hora e meia, cumprindo o conselho das associações do sector, que pediram que neste regresso ao mar os surfistas observassem, cada um, um máximo de 90 minutos de surf. O vento, de sudoeste, “estragou um bocadinho as ondas”, mas não a vontade de as apanhar.

“Mas para quarta-feira, já dão boas ondas”, assinalou.

O filho, Marcelo, com uma prancha de bodyboard, acompanhou o pai neste regresso ao mar: “Viemos os dois limpar a cabeça, dois meses fechados em casa já andava tudo a dar em doido”, alegou. “Hoje tinha de ser”.

Ao lado, a subir a encosta de volta à estrada por um íngreme caminho de pedra solta, Luís Rocha carregava, não uma prancha de surf, mas uma cana de pesca e um saco de rede com cinco robalos.

“Não correu mal, cinco peixitos para o primeiro dia está bom”, afirmou o pescador, exibindo o produto de um pouco mais de três horas de pescaria, iniciadas ao nascer do sol.

Na margem esquerda do rio Mondego, na praia do Cabedelo, adjacente ao molhe sul do porto comercial, as saudades da pesca, neste caso através da caça submarina para consumo próprio, levaram Herculano Antunes de Coimbra à Figueira da Foz, o que já não sucedia há dois meses.

“Fiquei dois mesinhos em casa, cumpri as regras todas, fiz a minha parte e agora estava a ver se conseguia ter um bom momento”, referiu o pescador lúdico.

Gosta de mergulhar no Cabedelo por ser “mais abrigado e as águas um bocadinho mais claras”, mas o vento e o mar mexido não permitiram condições de visibilidade junto ao molhe sul.

“Não está a correr nada bem. No domingo, estava bom, mas não se podia mergulhar. Amanhã será outro dia, o que importa é poder desfrutar destes momentos, já estava farto de estar em casa”, argumentou Herculano Antunes.

Foto
Não houve ondas gigantes, nem grandes saltos. Houve só um mar, irritado com o mau tempo, que serviu para matar saudades Paulo Novais/LUSA

No mar do Cabedelo, a meio da manhã desta segunda-feira, mesmo com poucas ondas, quatro surfistas fizeram-se ao mar. Hugo Costa, 21 anos e estudante de Desporto, começou o dia desanimado: “Acordei às 08h30, custou-me imenso, chego aqui, maré vazia, não há ondas, muito vento e o mar todo “estrampalhado”, assim não dá”, revelou.

Hugo esperou uma hora e, apesar das poucas condições, acabou por ir surfar, saindo da água visivelmente satisfeito. “Estava top”.

Miguel Guedes, por seu turno, deixou de se sentir “prisioneiro”, depois de um mês “enfiado em casa” e, embora sabendo que outros surfistas não respeitaram as regras de confinamento, só hoje regressou. “Voltar ao mar é a melhor coisa do mundo. O que interessava era molhar a cabeça e fazer umas ondas no meu pico”.

Já Eurico Gonçalves, antigo campeão nacional de longboard e proprietário de uma escola se surf, admitiu que lhe custou estar “tanto tempo” fora do mar. “Custou porque via o mar todos os dias e por um sinal de respeito e toda a situação, achei que devia dar o exemplo e ficar fora de água”.

E mesmo as poucas condições de mar hoje registadas, não afastam dos surfistas da satisfação de regressar à actividade e até favoreceram o regresso ao mar cumprindo as regras, apontou. “Quem faz surf, sabe que nenhum dia é igual a outro. Perdem-se dias perfeitos, há dias imperfeitos, mas até na imperfeição se consegue encontrar satisfação. Realmente as condições não são as melhores, o vento veio estragar um bocado os planos dos surfistas, mas estas condições ajudaram a um desconfinamento responsável”, argumentou Eurico Gonçalves.