Oito vacinas da covid-19 estão em ensaios em pessoas

Surgiram já mais de uma centena de candidatas a uma vacina para a covid-19, tendo oito entrado em testes em seres humanos. O caminho da investigação ainda é longo até uma vacina começar a ser aplicada a milhões de pessoas.

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Amostras da vacina em desenvolvimento pela empresa chinesa CanSino Biologics CanSinoBiologics

Quantas vacinas para a covid-19 estão, neste momento, em investigação?
Actualmente, 102 candidatas a uma vacina para o SARS-CoV-2, o vírus que provoca a covid-19, encontram-se em investigação por empresas de biotecnologia, empresas farmacêuticas e universidades, segundo documentação de 30 de Abril da Organização Mundial da Saúde (OMS), dando nalguns casos pormenores sobre quem as desenvolve, o tipo de vacina e em que etapa clínica se encontram.

Entre as dezenas de candidatas a uma vacina para a covid-19, quantas estão em ensaios clínicos – ou seja, já em testes em seres humanos?
Há agora oito vacinas em ensaios clínicos, segundo a OMS. O que significa que as outras candidatas estão numa etapa de investigação dita “pré-clínica”.

Das oito vacinas, quase todas estão a dar os primeiros passos dos ensaios clínicos, a chamada “fase I”, que começa por testar sobretudo a própria segurança da vacina num grupo pequeno de voluntários, para garantir que não representará um risco maior para a saúde do que a doença que procura evitar. Só depois se avançará para estudos detalhados sobre a eficácia, procurando apurar com mais pormenor a resposta imunitária desencadeada pela vacina e o número necessário de doses – primeiro, em centenas de pessoas (fase II), depois em milhares de pessoas (fase III). Passadas com sucesso todas estas etapas de ensaios clínicos, chega-se por fim à fase de aprovação pelas entidades de saúde e comercialização.

Quem está a desenvolver as vacinas já em ensaios clínicos?
A geografia das oito vacinas na linha da frente (para já, pelo menos) desta corrida mundial decorre em diferentes paragens do mundo – vai dos Estados Unidos até a alguns países da Europa, passando (principalmente) pela China.

Só a China tem, ou participa, em cinco das vacinas em ensaios clínicos: quatro estão a ser desenvolvidas por instituições apenas chinesas e a quinta reúne parceiros da Alemanha, Estados Unidos e da China. As restantes três vacinas em desenvolvimento em todo o mundo dividem-se ainda pelos Estados Unidos (duas) e pela Europa (uma).

Pormenorizemos quem desenvolve cada uma destas vacinas. Unicamente na China: uma é da empresa CanSino Biologics e do Instituto de Biotecnologia de Pequim da Academia Militar de Ciências Médicas; outra das empresas Instituto de Produtos Biológicos de Pequim e do Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan; outra da empresa Sinovac; e a quarta também do Instituto de Produtos Biológicos de Pequim em conjunto com a empresa estatal chinesa Sinopharm. A quinta vacina é da empresa de biotecnologia alemã BioNTech, que tem como parceiros a multinacional norte-americana Pfizer e o grupo chinês Fosun Pharma.

Por sua vez, nos Estados Unidos, a empresa Moderna, em colaboração com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, desenvolve a primeira vacina para a covid-19 a entrar em ensaios em pessoas, o que ocorreu a 16 de Março. Nos Estados Unidos está também em testes humanos uma vacina da empresa Inovio Pharmaceuticals. Por fim, na Europa, além da vacina da empresa de biotecnologia alemã BioNTech, há a vacina da Universidade de Oxford (Reino Unido), que iniciou testes em humanos a 24 de Abril.

Qual das vacinas parece ir mais adiantada na corrida?
Segundo a informação da OMS, apenas uma vacina – a chinesa da CanSino Biologics – entrou em ensaios clínicos de fase II, etapa que procura avaliar já num grupo maior de pessoas a resposta imunitária e que doses são necessárias para originar uma protecção eficaz. Ainda que esteja a procurar queimar-se etapas, o caminho à frente ainda é longo e pode ter pedras inesperadas até se chegar a uma vacina aplicável em milhões de pessoas.

Que estratégias estão a ser seguidas?
Algumas equipas estão a seguir estratégias mais tradicionais para desenvolver uma vacina, utilizando o vírus da SARS-Cov-2 enfraquecido ou inactivado. Outras estratégias passam pelo uso de um outro vírus como vector (como os adenovírus), que é modificado tanto para não nos causar problemas, como para incluir um gene do vírus que se quer combater. Esse vector entra nas células humanas, obrigando-as a produzir uma proteína do vírus a combater cujo fabrico é comandado por esse gene. Dessa forma, estimulará o organismo a produzir anticorpos. Outras estratégias usam partes de proteínas do vírus directamente injectáveis no organismo – como fragmentos da proteína da espícula, que o novo coronavírus usa para entrar nas nossas células. Outras vacinas, ainda, servem-se das instruções genéticas (ADN ou ARN) relativas a uma proteína do vírus, inserindo-as através de métodos distintos nas células humanas para, a partir daí, elas passarem a produzir essa proteína e poder induzir-se a resposta imunitária. Em suma, as estratégias vão desde o uso do próprio vírus enfraquecido ou inactivado até a vectores virais, passando ainda por estratégias baseadas em proteínas virais e em ácidos nucleicos do vírus (ADN e ARN). A China aposta em várias estratégias paralelas ao mesmo tempo.

Quando estará pronta uma vacina?
É a grande questão desde o início desta pandemia, em Dezembro de 2019. Ainda que esteja a tentar passar-se rapidamente de uma fase para outra dos ensaios clínicos, e já se tenha ouvido falar de muitas datas, o calendário mais realista aponta para a existência de uma vacina para a covid-19 pronta a usar daqui a não antes de 12 a 18 meses. Mesmo assim estará a comprimir-se num ano e meio o que geralmente demora dez anos a fazer, partindo nalguns casos de investigações para outros vírus, como ébola, MERS ou HIV. Esperemos ser positivamente surpreendidos e que, entre a actual centena de candidatas, saia uma ou mais vacinas que nos protejam deste novo vírus e não só não comprometam a segurança como sejam eficazes.

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A vacina da empresa biotecnológica chinesa CanSino Biologics CanSinoBiologics