Atmosferas dos afectos

I. “Ontem o Marcelo falou, mas não percebi nada”, dizia um trabalhador na esplanada do café da esquina, no último dia em que esteve aberto. E acrescentou: “Só percebi que temos um inimigo e que ele é invisível.” Muito provavelmente, esta foi a ideia que a maior parte da população fixou do discurso do Presidente da República, anunciando o estado de emergência. A outra ideia foi, seguramente, a de estarmos a viver uma guerra. No entanto, se é certo que o Presidente utilizou várias vezes a palavra guerra, sobretudo quando advertia o país para as consequências económicas da crise adivinhada, não disse que o inimigo invisível era o vírus, mas sim o “desânimo”, o “cansaço”, a “fadiga do tempo que nunca mais chega ao fim”. Embora apelasse à resiliência e à luta diária que estes inimigos exigem, não foi isto que os portugueses ouviram.

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I. “Ontem o Marcelo falou, mas não percebi nada”, dizia um trabalhador na esplanada do café da esquina, no último dia em que esteve aberto. E acrescentou: “Só percebi que temos um inimigo e que ele é invisível.” Muito provavelmente, esta foi a ideia que a maior parte da população fixou do discurso do Presidente da República, anunciando o estado de emergência. A outra ideia foi, seguramente, a de estarmos a viver uma guerra. No entanto, se é certo que o Presidente utilizou várias vezes a palavra guerra, sobretudo quando advertia o país para as consequências económicas da crise adivinhada, não disse que o inimigo invisível era o vírus, mas sim o “desânimo”, o “cansaço”, a “fadiga do tempo que nunca mais chega ao fim”. Embora apelasse à resiliência e à luta diária que estes inimigos exigem, não foi isto que os portugueses ouviram.