Com muita honra

O PSD sobreviverá e ganhará se o deixarem no espaço dos partidos de Liberdade, em tempos de tantas e tão dissimuladas tentações totalitárias.

Há derrotas mesmo muito honrosas.

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Há derrotas mesmo muito honrosas.

Confesso que me senti muito confortada na derrota que em comunhão sofri, ao apoiar Luís Montenegro, que está longe, muito longe, de morrer politicamente, como o próprio afirmou no seu discurso (ao tomar conhecimento dos resultados eleitorais que deram a vitória ao seu adversário nas eleições internas do PSD, que ocorreram no passado sábado).

Revi-me na esperança, revi-me no Partido das causas, reformista e empenhado, da união e do futuro.

Revi-me na transversalidade de tantos que me rodeavam, no interclassismo em igualdade.

Revi-me no Partido de cultura e de tolerância, na sua integral diversidade.

Ali naquela sala, na noite eleitoral, também vi o futuro qualificado e sério, personalizado, em particular, na mandatária do então candidato e no seu incansável braço direito, com provas dadas também na liderança do grupo parlamentar do PSD.

Luís Montenegro não precisa, definitivamente, que lhe digam que “se ele tiver juízo e maturidade pode não morrer politicamente”, como afirmou o seu adversário na SIC, a 16 de Janeiro, num manifesto assomo de suposta superioridade e arrogância, que ninguém na vida deve assumir.

Também não me surpreende, pois, em entrevista à Antena 1, a 14 de Janeiro, já o adversário de Luís Montenegro afirmara não ter outro plano a não ser “chegar a primeiro-ministro” e, se não o conseguir, “preparar pessoas” para lhe sucederem. Como conceber num partido democrático uma escola formativa de sucessores feitos à medida, quais cópias dinásticas?

O plano do presidente do partido é apenas chegar a primeiro-ministro? Que belos, motivadores e enaltecedores projectos: “ser chefe” e formar tropas.

Mas na mesma linha, já a 11 de Janeiro, o agora presidente apelara a uma maioria expressiva na segunda volta argumentando que “a união faz-se mais rapidamente em torno do mais forte do que do mais fraco”. Fortes e fracos? Quem dita a fraqueza ou a fortaleza de cada um, conceitos, aliás, muito subjectivos? É que há muitas vezes mais fortaleza na fraqueza e mais fraqueza na fortaleza.

Santa simplicidade.

A vitória do actual presidente do PSD, segundo dados publicados pelo jornal Expresso, foi conseguida com a distância mais curta entre candidatos na história do PSD: 6,12%, e 1991 votos de diferença (53,11% contra 46,89%), com a sombra dos votos da Madeira a pairar.

Mas em algo o actual presidente tem razão: não se podem repetir as deslealdades ao partido que tiveram lugar durante o exercício do XIX Governo Constitucional ou as que tiveram lugar nas autárquicas de 2017, na cidade do Porto, perpetradas pelo próprio.

O problema é que, como afirmou a 6 de Janeiro: “Nos próximos dois anos será igual, quem não concorda é melhor não votar em mim.” Logo, depois de duas derrotas eleitorais – europeias e legislativas –, não se percebe como é que, não mudando de estratégia, pretende obter um resultado diferente.

O PSD sobreviverá e ganhará se o deixarem no espaço dos partidos de Liberdade, em tempos de tantas e tão dissimuladas tentações totalitárias.