Moção de Nuno Melo quer CDS mais conservador

Ex-deputado Hélder Amaral garante que não dará o seu voto a Marcelo Rebelo de Sousa.

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Nuno Melo quer dar voz a uma direita conservadora no CDS Nuno Ferreira Santos

Nuno Melo e um grupo de dirigentes que representam uma ala mais conservadora do CDS vão apresentar uma moção ao próximo congresso sem, para já, avançar com um candidato à liderança. O gesto está a ser visto como uma tentativa de contrabalançar a moção de João Almeida, actual porta-voz, que é considerado um liberal dentro do partido.

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Nuno Melo e um grupo de dirigentes que representam uma ala mais conservadora do CDS vão apresentar uma moção ao próximo congresso sem, para já, avançar com um candidato à liderança. O gesto está a ser visto como uma tentativa de contrabalançar a moção de João Almeida, actual porta-voz, que é considerado um liberal dentro do partido.

No grupo de subscritores desta moção estão actuais dirigentes do CDS – como o próprio Nuno Melo (vice-presidente) e Telmo Correia (presidente do conselho nacional) – mas também outros nomes do portismo como João Rebelo e Hélder Amaral. São representantes de uma ala mais conservadora (João Rebelo é uma excepção nas chamadas questões de costumes), pertencem à mesma geração (Nuno Melo tem 53 anos) e querem que o partido deixe de ser uma “marca branca”, como consideram ter acontecido nos últimos anos, na liderança de Assunção Cristas.

Hélder Amaral, que foi deputado nos últimos 17 anos, defende que o CDS “já não tem idade para ter problemas de identidade” e que o caminho é o partido voltar à sua matriz. “O CDS tem de regressar à sua base democrata-cristã e trabalhar como sempre trabalhou com os mais liberais e conservadores”, afirma ao PÚBLICO. Hélder Amaral, que é o mais antigo líder de distrital (demitiu-se este mês após as legislativas), rejeita que o CDS seja “transformado num PSD-B” ou que reaja “de acordo com a espuma dos dias”. O ex-deputado, que se demitiu também da Assembleia Municipal de Viseu, defende que o partido tem de fazer o contraste com a política do actual “Governo que está a ser acompanhado pelo Presidente da República”. Crítico do chefe de Estado, Hélder Amaral assume que não dará o seu apoio a uma recandidatura nem esta contará com o seu voto: “Não votarei em Marcelo Rebelo de Sousa”. Assunção Cristas já tinha dado o apoio do partido a uma eventual recandidatura do Presidente da República ao cargo.

A iniciativa deste grupo de Nuno Melo está a ser lida como uma pressão sobre a moção de possíveis candidatos à liderança do CDS como João Almeida. O porta-voz do partido é considerado um liberal (em questões económicas) e tem no seu grupo a colaborar no texto outro liberal do partido – Francisco Mendes da Silva. Ao que o PÚBLICO apurou, a moção de João Almeida não se assumirá como voz de uma corrente contra outras e deverá defender que o partido tem convivido bem com as várias tendências – democratas-cristãos, liberais e conservadores – e assim deve continuar. Não será também defensora de um partido de “marca branca”, de acordo com fontes ouvidas pelo PÚBLICO. 

Ainda sem candidato, outro grupo – liderado pelo ex-deputado Filipe Lobo d’Ávila - também terá uma moção ao congresso na linha da que foi apresentada em 2016 – “Juntos pelo Futuro” – e onde esteve Hélder Amaral. Nessa altura, Lobo d’Ávila chegou a declarar-se apoiante de Nuno Melo para a liderança do partido, mas o eurodeputado acabou por não avançar. A moção então apresentada apontava para um CDS democrata-cristão e conservador e assumia-se contra o que considerava ser o pragmatismo da liderança de Assunção Cristas.

Outra figura de uma ala mais conservadora, e que poderá ser candidato à liderança, é Francisco Rodrigues dos Santos, líder da Juventude Popular. Se não avançar, o seu apoio não é descartável já que a estrutura valerá cerca de 10% dos votos em congresso. As moções de estratégia global podem ser entregues até ao final de Dezembro, o próximo líder é eleito a 25 e 26 de Janeiro.