Tecnologia portuguesa quer pôr Copenhaga a pedalar ainda mais

A empresa CEiiA levou os seus créditos de carbono a uma competição internacional para melhorar a qualidade do ar na capital da Dinamarca. Quem ganhou foi uma empresa que propõe paredes de musgo, mas a invenção lusa despertou o interesse do município.

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Manuel Roberto /Publico

Depois de se ter estreado em Matosinhos e de ter despertado interesse em Nova Iorque, um programa português que premeia comportamentos de mobilidade ambientalmente sustentáveis chamou a atenção em Copenhaga.

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Depois de se ter estreado em Matosinhos e de ter despertado interesse em Nova Iorque, um programa português que premeia comportamentos de mobilidade ambientalmente sustentáveis chamou a atenção em Copenhaga.

O AYR, desenvolvido pela empresa CEiiA em Matosinhos, foi um dos finalistas numa competição para encontrar soluções que melhorem a qualidade do ar e reduzam o aquecimento urbano na capital da Dinamarca. Apesar de não ter vencido o concurso, a câmara de Copenhaga manifestou interesse em implementar este programa, garantiu ao PÚBLICO um responsável do CEiiA, Gualter Crisóstomo.

O AYR é um sistema que recompensa quem utiliza meios de transporte pouco poluidores. Em deslocações de bicicleta ou trotinete, por exemplo, uma aplicação no telemóvel vai contando a quantidade de dióxido de carbono que não é emitida e depois converte-a em créditos, que o utilizador pode usar para pagar futuras viagens naqueles modos de mobilidade. Ou para comprar outros produtos, conforme decidam as câmaras municipais.

“Estamos a valorizar bons comportamentos. Geralmente as leis são punitivas: portas-te mal, levas. Aqui é ao contrário”, sublinhou Gualter Crisóstomo na semana passada, à margem do Fórum Mundial de Autarcas C40, que decorreu em Copenhaga.

Aquela cidade dinamarquesa tem a ambição de se tornar a primeira capital do mundo neutra em emissões de carbono até 2025 e, por isso, tem em curso várias iniciativas para melhorar a produção e consumo de energia e promover uma mobilidade que não dependa de veículos movidos a combustíveis fósseis. Embora Copenhaga seja já hoje uma das cidades do mundo onde mais se utiliza a bicicleta no dia-a-dia, é neste ponto que o AYR pode dar uma ajuda, criando um incentivo extra para os utilizadores.

Paredes de musgo

A competição em que o CEiiA participou foi promovida pela organização público-privada Access Cities e pela câmara de Copenhaga, que procuravam “ideias inovadoras, tecnologias e abordagens para reduzir os impactos negativos da poluição atmosférica e o efeito das ilhas de calor urbanas”.

Ganhou uma empresa suíça, 4MOSST, que está a desenvolver um produto que permite criar jardins verticais de musgo, “mais acessíveis e baratos do que as paredes verdes actualmente existentes”, lê-se no resumo do projecto. “A nossa solução é sistémica, porque trata de um conjunto de problemas com uma única solução”, disse Thimo Hillenius, sócio da empresa, argumentando que estas paredes de musgo não só melhoram o ambiente urbano como podem ter efeitos positivos na saúde mental dos habitantes.

Além da proposta vencedora e do AYR, chegaram à fase final ainda mais três ideias. A da empresa dinamarquesa Heliac consiste em painéis solares capazes de reter energia e, ao mesmo tempo, reflectir de volta a luz do Sol. Já a proposta do gabinete de arquitectura SLA, também dinamarquês, é uma ferramenta para ajudar cidades e arquitectos a incluírem elementos naturais e biodiversidade nos seus projectos. Foi este atelier que desenhou uma incineradora de lixo, acabada de inaugurar nos subúrbios de Copenhaga, que tem uma pista de ski e um jardim por cima.

Por fim, a proposta dos britânicos Hilson Moran foca-se na “acupunctura urbana”, isto é, em melhoramentos da arquitectura e do paisagismo nas áreas mais afectadas pela poluição atmosférica.

Para Gualter Crisóstomo, “é um grande orgulho vir mostrar tecnologia portuguesa como referência mundial na mobilidade sustentável”. O responsável do CEiiA destaca que esta empresa foi uma das 45, originárias de 23 países, que se apresentaram à competição, e a única do lote final a focar-se na mobilidade. Com apoio da ONU – que começou durante o mandato do anterior secretário-geral, Ban Ki-Moon –, a empresa aposta agora em levar o AYR a Nova Iorque e São Paulo. Em Portugal, depois de Matosinhos segue-se Cascais.