A NBA balança entre liberdade de expressão e o maior mercado do planeta

A televisão estatal chinesa cancelou a transmissão de dois jogos de exibição como reacção à posição de Adam Silver em não censurar a opinião do director-geral dos Rockets sobre os protestos em Hong Kong.

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Adam Silver, comissário da NBA LUSA/CHRISTOPHER JUE

Tudo começou com sete palavras no Twitter, “Fight for freedom, stand with Hong Kong” – “Lutem pela liberdade, estejam com Hong Kong” –, escritas por Daryl Morey, director-geral dos Houston Rockets, equipa da Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), uma opinião sintética sobre os protestos que têm acontecido no território desde Março passado. Estas sete palavras bastaram para abrir um conflito entre a NBA e a China, que não gostou das palavras de Morey e retaliou com o seu músculo comercial. A NBA abanou perante a perspectiva de ver enfraquecida a sua posição no maior mercado do planeta e a sua primeira reacção foi de condenar o “tweet”. Mas, fruto de muita contestação interna, a NBA recuou um dia depois através do seu comissário, Adam Silver, que se colocou mais ou menos ao lado de Morey dizendo que a Liga nunca “iria regular o que os jogadores, empregados e donos dizem ou deixam de dizer”.

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Tudo começou com sete palavras no Twitter, “Fight for freedom, stand with Hong Kong” – “Lutem pela liberdade, estejam com Hong Kong” –, escritas por Daryl Morey, director-geral dos Houston Rockets, equipa da Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), uma opinião sintética sobre os protestos que têm acontecido no território desde Março passado. Estas sete palavras bastaram para abrir um conflito entre a NBA e a China, que não gostou das palavras de Morey e retaliou com o seu músculo comercial. A NBA abanou perante a perspectiva de ver enfraquecida a sua posição no maior mercado do planeta e a sua primeira reacção foi de condenar o “tweet”. Mas, fruto de muita contestação interna, a NBA recuou um dia depois através do seu comissário, Adam Silver, que se colocou mais ou menos ao lado de Morey dizendo que a Liga nunca “iria regular o que os jogadores, empregados e donos dizem ou deixam de dizer”.

Mesmo reconhecendo que os seus parceiros chineses ficaram insatisfeitos e que China e EUA são “países com sistemas políticos e convicções diferentes”, e sem nunca expressar uma opinião sobre os protestos anti-Pequim em Hong Kong, o comissário da NBA diz que a liberdade de expressão é inegociável, uma posição que motivou a televisão estatal chinesa (CCTV) a cancelar a transmissão de dois jogos de pré-época em território asiático, entre os Los Angeles Lakers e os Brooklyn Nets. “Estamos fortemente insatisfeitos e estamos contra o apoio de Adam Silver ao direito à liberdade de expressão de Daryl Morey. Acreditamos que quaisquer comentários que desafiam a soberania nacional e a estabilidade social não se enquadram no âmbito da liberdade de expressão”, justificou a CCTV em comunicado.

Para além de cancelar as transmissões dos dois jogos, que se disputam na quinta-feira, em Xangai, e no sábado, em Shenzhen, a CCTV, que tem os direitos de transmissão da NBA na China, anunciou que irá rever os termos da sua relação com a Liga. A Tencent, o gigante tecnológico que detém os direitos de streaming da NBA na China, já retirou os jogos dos Rockets da sua plataforma. Várias empresas chinesas já romperam igualmente os laços com a equipa texana, que é uma das mais populares da NBA na China. Outros eventos promocionais relacionados com os jogos dos próximos dias foram igualmente cancelados.

Como irá a NBA lidar com esta possibilidade de perder a sua posição dominante no maior mercado do planeta? Adam Silver conta com Yao Ming, a maior “estrela” de sempre do basquetebol chinês e que esteve na NBA durante oito temporadas, ao serviço dos Houston Rockets. O comissário da NBA mantém o seu compromisso de estar na China para assistir aos dois jogos de exibição e, durante este período, vai encontrar-se com Ming, que é o presidente da Associação Chinesa de Basquetebol (ACB). “Espero que possamos encontrar uma forma de nos entendermos. Bem sei que ele está de cabeça quente neste momento, e eu percebo-o”, disse Silver numa conferência de imprensa no Japão.

Se há alguém que pode servir de ponte para acabar com esta luta entre a China e a NBA é Yao Ming, um habilidoso poste de 2,29m de altura que foi eleito como n.º 1 do draft em 2002 e que foi escolhido por oito vezes para o “All Star”. Para além das suas excepcionais qualidades como jogador, Ming foi um dos grandes responsáveis pela implantação da NBA como a liga desportiva mais popular na China – estima-se que, na última época, os jogos da NBA tenham tido uma audiência na China a rondar os 500 milhões de espectadores.

Mas Yao, com toda a boa vontade que poderá despertar em ambas as partes, será sempre uma voz alinhada com o Governo de Pequim, que nunca irá tolerar interferências externas nestes protestos de Hong Kong, um território que está sob administração chinesa desde 1997. Mesmo tendo a sua camisola 11 retirada pelos Rockets, Yao e a ACB cortaram relações com o clube assim que Morey escreveu a mensagem no Twitter – uma posição que continua a valer, mesmo depois de uma mensagem de desculpas do dono da equipa e do próprio Morey, que apagou o tweet original para dizer que era “um pensamento baseado numa interpretação de um evento complicado” e que, entretanto, já teve a oportunidade de “considerar outras perspectivas”.