Roteiro leva visitantes do Museu Nacional da Resistência a percorrer Peniche

Já foram identificados 44 locais na cidade ligados à luta travada pela população contra a ditadura e à solidariedade que os locais tinham para com os presos e suas respectivas famílias.

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Nuno Ferreira Santos

A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) lançou nesta sexta-feira um roteiro que leva os visitantes do futuro Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, em Peniche, a percorrer locais da cidade associados à solidariedade da população para com os presos.

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A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) lançou nesta sexta-feira um roteiro que leva os visitantes do futuro Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, em Peniche, a percorrer locais da cidade associados à solidariedade da população para com os presos.

A directora-geral, Paula Silva, disse à agência Lusa que o roteiro está disponível para quem se desloque à exposição “Por teu livre pensamento”, que registou já 100 mil visitantes, e vá ao futuro Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que vai nascer na Fortaleza de Peniche, que funcionou como prisão do Estado Novo entre 1934 e 1974, no distrito de Leiria.

“Este trabalho em conjunto com a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) permite visitar a cidade e mostrar às gerações mais novas as ligações entre a população de Peniche e a prisão”, sublinhou a responsável, à margem do programa das Jornadas Europeias do Património.

O roteiro poderá ser feito através de visitas guiadas ou de forma livre pelos visitantes, recorrendo a áudio-guias.

João Neves, da URAP, explicou que já foram identificados 44 locais na cidade ligados à luta travada pela população contra a ditadura e à solidariedade que os locais tinham para com os presos e suas respectivas famílias.

Como a viagem entre Peniche e Lisboa demorava à época quatro horas, grande parte dos familiares dos presos era obrigada a ir para Peniche na véspera das visitas, ficando alojada em residenciais ou habitações particulares, quer a título gratuito, quer mediante o aluguer de quartos ou de toda a casa.

Do roteiro, fazem parte diversas habitações particulares que apoiaram essas famílias.

Manuela Bernardino, do comité central do PCP e fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, contou à Lusa que, durante os seis anos em que teve o companheiro preso em Peniche, a sua família tinha na cidade duas casas alugadas, que “na noite de sábado para domingo estavam abertas” a familiares de outros presos.

No mesmo quarto, chegavam a dormir várias pessoas, recorda, sublinhando que a solidariedade entre familiares na partilha de transporte e no alojamento fazia parte do “dever cívico de poder contribuir para que a prisão fosse menos penosa”.

Locais onde outrora funcionaram cafés, restaurantes e mercearias integram também o roteiro, não só por terem sido palco de reuniões clandestinas de resistentes antifascistas, mas também por fornecerem, a título gratuito, refeições e produtos aos presos e suas famílias.

O roteiro conta ainda com passagens pelo posto da GNR e pela antiga esquadra da PSP, onde houve detenções e interrogatórios de presos, pelo local onde esteve sediada a Comissão Democrática Eleitoral de 1969, pela Associação Recreativa de Peniche, onde o PCP realizou, após o 25 de Abril de 1974 a sua primeira sessão pública para agradecer a solidariedade da população local para com os presos e resistentes antifascistas, e ainda por espaços públicos da cidade onde ocorreram importantes concentrações de luta dos pescadores.

O concurso de 2,5 milhões de euros para a criação do museu nacional deverá ser lançado até final deste ano, adiantou a directora-geral.

A empreitada, explicou, visa criar zonas expositivas e um percurso museológico entre os vários edifícios e dotar o museu de acessibilidades, climatização, gabinetes técnicos, arquivo e biblioteca, recepção, loja e livraria, uma cafetaria e instalações sanitárias.