Em Portugal, cerca de 40% dos resíduos plásticos ainda são colocados em aterros

Relatório da Associação Natureza Portugal (ANP) em associação com a World Wildlife Fund for Nature (WWF) alerta para a falta de estratégia nacional e vulnerabilidade do país à poluição por plásticos.

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daniel rocha/ Arquivo

A falta de informação impede a criação de uma estratégia nacional integrada de redução de plásticos, alerta um relatório divulgado nesta quarta-feira que adverte para a vulnerabilidade do país à poluição por plásticos. O documento conclui que faltam no país informações sobre os impactos ecológicos, sociais, económicos e para a saúde da poluição por plástico, o que impede não só uma estratégia de redução como a determinação de um investimento de gestão dos resíduos.

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A falta de informação impede a criação de uma estratégia nacional integrada de redução de plásticos, alerta um relatório divulgado nesta quarta-feira que adverte para a vulnerabilidade do país à poluição por plásticos. O documento conclui que faltam no país informações sobre os impactos ecológicos, sociais, económicos e para a saúde da poluição por plástico, o que impede não só uma estratégia de redução como a determinação de um investimento de gestão dos resíduos.

O relatório X-Ray da Poluição por Plástico: Repensar o Plástico em Portugal, realizado pela Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em associação com a organização ambientalista internacional World Wildlife Fund for Nature (WWF), é apresentado como o primeiro relatório nacional sobre poluição por plásticos em Portugal continental.

“Conhecemos os dados globais. Todos os anos produzem-se 345 milhões de toneladas de plástico virgem em todo o mundo. A Europa é o segundo maior produtor de plástico, com cerca de 64,4 milhões de toneladas produzidas em 2017. E em Portugal, quais são os dados disponíveis? Qual é o custo real dos plásticos em Portugal?”, questiona Ângela Morgado, directora executiva da ANP/WWF, citada num comunicado da associação.

O relatório mostra que um dos maiores problemas se relaciona com as embalagens de plástico de uso único, que têm uma vida útil que chega a ser de poucos minutos mas que podem demorar centenas de anos a decompor-se e releva que se desconhecem os efeitos para a saúde humana da decomposição dos microplásticos e nanoplásticos, que estão presentes em espécies consumidas como alimento.

O relatório cita ainda cálculos recentes que indicam que mais de metade de todo o plástico que existe no mundo foi produzido nas últimas duas décadas. Nos próximos 20 anos a quantidade deve duplicar. A poluição por plásticos dos oceanos é uma das ameaças ao planeta, salienta o documento. Segundo dados de 2017, calcula-se que cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam anualmente aos oceanos.

O que acontece em Portugal?

Portugal declarou, produziu e importou 195.902 toneladas de embalagens, de acordo com os dados de 2016. “A produção é altíssima, mas a percentagem de itens reciclados, no período de 1950-2015, foi apenas de 9%, sendo que 12% foi incinerado. Os restantes 80% ficaram acumulados em aterros e perdidos no meio ambiente”. Em Portugal, cerca de 40% dos resíduos de plástico ainda são colocados em aterros, de acordo com os dados de 2016, citados no documento. 

Os plásticos constituem a maior percentagem de resíduos presentes no ambiente em Portugal, quer como macroplásticos (descartáveis e artes de pesca) quer como microplásticos, em praias, rios e ingeridos por espécies marinhas.

A ANP/WWF defende como prioridade a prevenção e o controlo efectivo da poluição por plásticos e propõe, entre outras medidas, a diminuição da oferta de plásticos descartáveis, a introdução de sistemas de depósitos, em particular garrafas, e melhor rotulagem. É que, salienta o relatório, as características que tornam o plástico benéfico, como a persistência e resistência, são as mesmas que o tornam nocivo para o ambiente. 

Às entidades públicas propõe que sejam criados incentivos para a economia da reciclagem e planos de gestão municipal de resíduos de plástico, e se reforce a legislação em matéria de gestão de resíduos.

A associação defende também incentivos para a economia da reciclagem, para melhorar os indicadores, o aumento de pontos públicos de entrega de resíduos de plástico e o incentivo à produção de sinalética alusiva à incorporação de plástico reciclado.

Ângela Morgado considera, citada no comunicado, que é fundamental que sejam criados guias sobre embalagens para informar melhor os cidadãos sobre quais os plásticos que são fáceis de reciclar e seguros para reutilizar.

O relatório vem no seguimento da campanha da WWF “No Plastics in Nature” ("Sem plásticos na natureza”, numa tradução livre), lançada este ano, e foi apresentado na terça-feira ao Ministério do Ambiente. A WWF é uma das maiores organizações independentes de conservação do mundo, com mais de cinco milhões de apoiantes e uma rede global activa em mais de 100 países.