Golas antifumo não se inflamam, conclui relatório

Os ensaios concluíram que as golas chegam a furar quando testadas, mas sem arderem.

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Relatório preliminar

Um relatório preliminar pedido pela Protecção Civil ao Centro de Investigação de Incêndios Florestais concluiu que as golas antifumo distribuídas à população não se inflamam quando expostas ao fogo.

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Um relatório preliminar pedido pela Protecção Civil ao Centro de Investigação de Incêndios Florestais concluiu que as golas antifumo distribuídas à população não se inflamam quando expostas ao fogo.

O relatório preliminar, que está disponível para consulta no site da Protecção Civil, refere que, após vários testes e exames, a “golas iguais às que foram distribuídas à população”, no âmbito do programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras, que “as golas testadas não se inflamaram, isto é, não entraram em combustão com chama – mesmo quando sujeitas a um fluxo de calor de muito elevada intensidade”.

O mesmo documento acrescenta que os testes revelaram que as golas não inflamaram “mesmo quando colocadas a uma distância inferior a 50 centímetros das chamas, durante mais de um minuto”.

Os ensaios concluíram ainda que as golas chegam a furar quando testadas a cerca de 20 centímetros das chamas, mas sem arderem.

O Jornal de Notícias noticiou na sexta-feira que 70 mil golas antifumo fabricadas com material inflamável e sem tratamento anticarbonização foram entregues à população abrangida pelo programa Aldeia Segura, Pessoas Seguras e custaram 125 mil euros.

Após essas notícias, que já levaram à demissão de Francisco Ferreira, adjunto do secretário de Estado da Protecção Civil, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, mandou efectuar, através da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), testes e um relatório ao Centro de Investigação de Incêndios Florestais (CIIF), dirigido por Xavier Viegas.

Os testes destinaram-se “a avaliar o comportamento das golas quando expostas a um ambiente próximo de um incêndio florestal” e, “em concreto, avaliar se as referidas golas se inflamavam quando sujeitas a um forte fluxo radiactivo, semelhante ao de uma frente de chamas como as que ocorrem em incêndios florestais, podendo colocar em perigo o seu utente, pelo facto de entrarem em combustão”.

A ANEPC entregou um conjunto de 28 golas idênticas às que foram distribuídas à população, para a realização dos ensaios.

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais este domingo. Na realização dos ensaios estiveram envolvidas nove pessoas.

O CIIF refere que o documento “constitui um relatório preliminar muito sucinto, uma vez que não foram ainda analisados muitos dos parâmetros que foram objecto de medição e registo durante os ensaios”.

Ministério Público abre inquérito

Esta terça-feira, o Ministério Público abriu um inquérito à aquisição destes equipamentos destinados ao programa Aldeia Segura, entre os quais se incluem as referidas golas antifumo, disse a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao PÚBLICO.

Segundo fonte oficial da PGR, o inquérito corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal.

No sábado, Eduardo Cabrita mandou abrir um inquérito urgente sobre contratação de material de sensibilização para incêndios. No domingo, no Chão da Lagoa, o presidente do PSD, Rui Rio, sugeriu que o Ministério Público investigasse a forma como o material foi adquirido.

O caso motivou a demissão do técnico Francisco Ferreira, adjunto do secretário de Estado da Protecção Civil e também presidente da concelhia do PS de Arouca. O Jornal de Notícias noticiou que foi Francisco Ferreira quem recomendou as empresas para a compra deste material entregue às 1.909 povoações abrangidas pelo programa.

O adjunto demitiu-se, mas o secretário de Estado da Protecção Civil, José Artur Neves, está agora na mira de PSD e CDS. Rui Rio considerou o caso “gravíssimo” e defendeu, esta segunda-feira, que o técnico adjunto de Artur Neves não terá “responsabilidade em tudo”. O deputado e dirigente centrista Telmo Correia considerou igualmente que Francisco Ferreira não pode ser o “bode expiatório disto tudo”.