Redução de sal e açúcar nos alimentos pode salvar 798 vidas num ano

Estudo com dados da população portuguesa em 2016 indica que diminuição das quantidades de sal nos alimentos tem o maior impacto. Das vidas que seriam salvas num ano, 248 referem-se a pessoas com menos de 65 anos.

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Rui Gaudencio / Publico

Reduzir as quantidades de sal e açúcar nos produtos alimentares pode salvar 798 vidas num ano. Esta é uma das conclusões de um estudo realizado por especialistas de vários organismos portugueses que contou com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). O trabalho mostra ainda que a redução de sal teve o maior impacto na quantidade de vidas salvas.

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Reduzir as quantidades de sal e açúcar nos produtos alimentares pode salvar 798 vidas num ano. Esta é uma das conclusões de um estudo realizado por especialistas de vários organismos portugueses que contou com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). O trabalho mostra ainda que a redução de sal teve o maior impacto na quantidade de vidas salvas.

A directora do Programa Nacional para a Alimentação Saudável Maria João Gregório, que é uma das autoras do estudo em que participou também o ex-secretário de Estado da Saúde Fernando Araújo, explica ao PÚBLICO que os dados usados foram os da população portuguesa em 2016. “Se o acordo de reformulação alimentar estivesse em vigor, nesse ano seriam poupadas 798 vidas. Será de esperar que a redução se mantenha ano a ano, tendo em conta que todos os anos se consumirão menos açúcar e sal em comparação ao ano antes do processo de reformulação”, diz.

Os resultados são publicados esta segunda-feira na revista OMS Bulletin e representam uma pré-avaliação do impacto da reformulação de produtos alimentares na redução da mortalidade e das mortes precoces (aquelas que acontecem antes dos 65 anos) associadas às doenças crónicas como diabetes, doenças cardiovasculares ou hipertensão. A investigação foi desenvolvida pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), Ministério da Saúde, o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, o Imperial College e o Institute of Global Health Innovation.

A base do estudo foram as metas iniciais de redução de sal, açúcar e gorduras trans que a DGS levou à negociação com a indústria alimentar e de distribuição. Num cenário ideal, a redução de sal e açúcar nos alimentos seleccionados será capaz de evitar a morte relacionada com doenças crónicas de 798 pessoas, das quais 248 são mortes evitadas em pessoas com menos de 65 anos.

Os resultados, a que o PÚBLICO teve acesso, mostram ainda que só a redução de sal poderia evitar 610 mortes e a diminuição de açúcar 261. A reformulação dos produtos alimentares mostrou ter um grande impacto nas doenças cardiovasculares, com 692 mortes evitadas. Os efeitos também se fazem sentir mais nas mulheres do que nos homens quanto ao número de vidas salvas.

Meta das Nações Unidas

“São importantes ganhos de vida. Temos dificuldade em quantificar o que representam as medidas que tomamos e estes modelos da OMS permitem fazer essa análise ajustada e ajudam-nos a implementar as melhores soluções”, refere Maria João Gregório, que salienta que este trabalho foi feito com base na proposta inicial da DGS que não foi a final acordada com as várias associações da indústria alimentar.

O acordo levou mais de um ano a ser conseguido e da lista inicial saíram alguns alimentos que estavam em discussão como fiambre, queijo, bolachas e biscoitos. Mas ainda assim, o acordo abrangeu outros alimentos que representam 80% das vendas nas suas categorias e o expectável é que as reduções de sal e de açúcar não fiquem muito distantes das primeiras projecções. E por isso será de esperar que os seus efeitos também não sejam muito distantes dos apurados neste estudo.

O acordo com a indústria foi assinado a 2 de Maio e deverá abranger a reformulação de mais de 2000 produtos. Em 2022, se as metas acordadas forem atingidas, os portugueses vão estar a consumir menos 1825 toneladas de sal comparativamente àquilo que consumiam em 2016 ou 2017 e cerca de menos 13 mil toneladas de açúcar.

Os resultados conseguidos só através da reformulação dos alimentos não são suficientes para alcançar a meta das Nações Unidas de reduzir a mortalidade precoce associada a doenças crónicas em um terço até 2030. Mas é um passo importante para chegar lá com maior rapidez.

“Esta medida é relevante e estes números [de vidas salvas] são importantes quando queremos mostrar aos nossos parceiros como é relevante estarem connosco nesta luta. Uma vida salva tem um valor positivo enorme. Se usarmos esta estratégia em todas as outras medidas que estão a ser tomadas e fizermos uma análise dos resultados, o impacto será maior”, salienta Maria João Gregório. Entre outras medidas está a lei do marketing alimentar direccionado para crianças, cuja regulamentação deverá estar publicada até ao final do mês.