João e Sara não são “nada de especial”. “O nomadismo está num boom

Liberdade para escolher um sítio para viver e sentir que “casa” é onde os dois quiserem. João e Sara vivem pelo mundo há nove anos, sem intenções de parar. São nómadas digitais e focam-se na sustentabilidade do planeta.

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De Matosinhos e Braga para os vários cantos do mundo, João Reis e Sara Silva, a dupla No Footprint Nomads, abraçam o nomadismo e fazem do mundo a sua casa. Inspirado por um livro de Gonçalo Cadilhe, O planisfério pessoal, e pela “forma de ele viajar, sem prazo para terminar e sem regras”, em 2009 João começou a planear uma volta ao mundo. Deixou o emprego, como responsável de sourcing na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, vendeu o carro, alugou a casa, mas, dois meses antes de partir, reencontrou Sara – que já tinha estagiado dois anos como farmacêutica na farmácia da família de João – e “foi paixão imediata”. A pergunta foi só uma: “Deixas a tua vida vida e carreira para dar a volta ao mundo com alguém que mal conheces?”. A resposta também só podia ser uma: um sim de Sara.

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De Matosinhos e Braga para os vários cantos do mundo, João Reis e Sara Silva, a dupla No Footprint Nomads, abraçam o nomadismo e fazem do mundo a sua casa. Inspirado por um livro de Gonçalo Cadilhe, O planisfério pessoal, e pela “forma de ele viajar, sem prazo para terminar e sem regras”, em 2009 João começou a planear uma volta ao mundo. Deixou o emprego, como responsável de sourcing na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, vendeu o carro, alugou a casa, mas, dois meses antes de partir, reencontrou Sara – que já tinha estagiado dois anos como farmacêutica na farmácia da família de João – e “foi paixão imediata”. A pergunta foi só uma: “Deixas a tua vida vida e carreira para dar a volta ao mundo com alguém que mal conheces?”. A resposta também só podia ser uma: um sim de Sara.

“Eu sempre tive vontade de viajar. As minhas amigas chamavam-me mochileira porque sempre fui muito aventureira”, conta Sara, 33 anos. Depois de os seus caminhos se cruzarem, o plano “mudou um pouco”. “Decidimos que íamos trabalhar e viajar. Por isso, tivemos que pensar em formas de trabalhar em viagem”, explica João. Decidiram, então, ir para Londres, onde começaram esta viagem – que hoje já conta com nove anos. Fizeram um curso de inglês, para poderem dar aulas, e um curso de bartending, para poderem trabalhar na área da restauração.

Hoje são nómadas digitais. São professores de inglês em escolas online e esta é a sua fonte de rendimento principal​. “Não podemos viajar para sítios tão remotos como gostaríamos porque precisamos de boa Internet. Temos que viajar para locais com silêncio porque não podemos dar aulas em cafés, por exemplo. Tem algumas restrições, como em tudo”, acrescenta João.

Quando decidiram que viajariam sem prazo para voltar, as reacções dividiram-se. “Houve pessoas que ficaram muito surpreendidas com a minha decisão, mas senti sempre muito apoio, principalmente dos meus pais”, conta Sara. Com João, “houve um pouco de surpresa e alguma preocupação”. “Na altura, foi um sacrifício que não entenderam”, admite.

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O kit No Footprint Nomads acompanha-os para todo o lado

Vivem pelo mundo e viajam “devagar”. A Tailândia é a sua casa há um ano e meio, mas, para além de Londres, já viveram nas Ilhas Caimão, na Nicarágua e no Brasil. Para ambos, o país “mais completo” é a Tailândia: “É multicultural, muito seguro e tranquilo e as pessoas são muito honestas”, explica João, 39 anos. “É um país moderno, com boas infraestruturas e o clima é maravilhoso. E, claro, é bom e barato. Só tem a desvantagem da poluição”, acrescenta. Sara concorda: “Sem dúvida que a Tailândia é a nossa vibe”.

O primeiro passo – “sair da zona de conforto principal” – é o mais difícil. “Estaríamos a mentir se disséssemos que não há medo, mas depois torna-se fácil”, admitem. “Aquilo que nos vai puxando para sair da nossa zona de conforto é a vontade de continuar a conhecer”, garante Sara. Por isso, adoptam uma “pequena estratégia”: um continente de cada vez. Porque “começar de novo” é o que lhes dá mais prazer. Ter a flexibilidade de pegar nas coisas e partir. “Parece que não temos raízes”, brinca Sara.

“O principal passo para um estilo de vida nómada é a mente”

Sabendo, de antemão, que viajar, por si só, “é um problema para o ambiente”, João e Sara adoptam uma filosofia de vida “lixo zero”, priorizando a saúde e a alimentação. “Lixo zero em viagem não é fácil”, admite Sara. “Fazemos uma tentativa de viajar por transportes terrestres sempre que possível, quando conseguimos comportar os custos económicos”, explica. Em casa, faz os seus próprios detergentes e opta sempre por comprar coisas que não venham embaladas em plástico – o que, por vezes, constitui um “desafio” porque “na Tailândia usa-se muito plástico descartável”.

“Se prestares atenção aos transportes, ao sítio onde ficas e à forma como vives, já minimizas o impacto da viagem”, observa João. Como viajam de uma forma mais lenta, o tempo para fazer um planeamento também é maior. “O foco é a sustentabilidade. Nós sentimos que viajar desta forma mais lenta, com opções mais conscientes, nos faz atingir um equilíbrio interior maior”, diz Sara.

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Esta preocupação veio depois de uma consciência que começaram a ter com a alimentação. São vegetarianos desde 2014 e, com o tempo, foram adoptando algumas estratégias. Desde “não comer comida local logo nos primeiros dias”, a cozinhar em casa sempre que possível. O vegetarianismo acabou por lhes premiar outras áreas de vida. “É como uma bola de neve”, admite Sara. “Eu comecei a pensar naquilo que comia, depois naquilo que colocava na minha pele, e foi uma série de mudanças que se operaram a partir da simples atenção à alimentação.”

“Uma vez nómada, nunca mais deixas de ser nómada”

Viajar com a casa às costas é necessário, mas “esta vida” obriga-os a ser muito minimalistas. “Se fores nómada e conseguires ter várias casas, não precisas de viajar com nada”, diz João. Uma mochila com alguma roupa, tecnologia e alguma higiene – “é essa a nossa casa”, admitem. “Como um caracol”. Não têm hipóteses de ter mais do que isso – “e estamos muito felizes de não ter mais do que isso”.

Nos vários países onde ficam a viver, tentam fazer sempre couchsurfing, porque é a forma favorita de ambos para viver, ou, então, optam por recorrer ao Airbnb. Quando vêm a Portugal, “é sempre um choque cultural”. Por isso, não sabem se vão regressar e preferem “deixar as coisas em aberto”. “Sentimos que podemos voltar daqui a seis meses, dez anos ou 30 anos, mas também sentimos que podemos não voltar. A decisão é tomada quando nós quisermos. É manter em mente que não há nenhuma casa definitiva.”

O próximo passo, “provavelmente”, é ir para África, mas, para já, o objectivo é ficar ainda algum tempo na Tailândia “por uma questão de custos”. “De todos, [a Ásia] é o [continente] mais acessível”, explica João.

Quando perspectivavam um estilo de vida nómada, pensavam em algo “exótico” e sentiam-se “privilegiados”. Agora, envolvidos nesta comunidade, dizem, com certeza, que “há milhões de nómadas pelo mundo”. “Nós não somos nada de especial. Somos mais uns numa comunidade enorme. O nomadismo está num boom.

Texto editado por Sandra Silva Costa