Estas colunas de som custam um milhão. Valem o preço?

A Wilson Audio escolheu Lisboa para apresentar na Europa a derradeira criação de David Wilson: as colunas WAMM Master Chronosonic. Apenas vão ser vendidos 70 pares com um preço que pode ultrapassar um milhão de euros. Fomos ouvi-las.

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A empresa chama-lhe “a coluna perfeita”. Perfeita porque “não se ouve”.

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A empresa chama-lhe “a coluna perfeita”. Perfeita porque “não se ouve”.

A afirmação pode parecer estapafúrdia, mas explica-se de uma maneira simples: a esmagadora maioria das colunas de som denunciam a sua presença – o ouvinte percebe que o som sai delas. Mas não é isso que se espera de uma coluna? Não para David Wilson, o criador de um par de colunas que custam um milhão de euros.

Foi esse teste que fomos fazer na passada sexta-feira – os puristas chamam-lhe “um concerto”. A loja de equipamento Imacustica, em parceria com a congénere britânica Absolute Sounds, trouxe a Lisboa uma centena de convidados portugueses e estrangeiros para a primeira apresentação na Europa. Jornalistas, empresários e audiófilos foram desafiados a escutar a derradeira criação do fundador da Wilson Audio – David Wilson morreu em Maio do ano passado. Tinha 73 anos.

As colunas WAMM Master Chronosonic impressionam em todos os sentidos. O conjunto formado pelas duas torres e pelos dois subwoofers pesa cerca de uma tonelada. As colunas têm 2,14 metros de altura (as especificações técnicas estão neste link). São construídas à mão por uma equipa muito pequena – a Wilson Audio tem apenas 50 funcionários.

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Pedro Dias/Imacustica

E há o preço. Dependendo dos acabamentos, pode ultrapassar um milhão de euros. O preço-base para o mercado português é de 950 mil euros.

O director comercial da Wilson Audio, o veterano Peter McGrath, justificou ao PÚBLICO o elevado (elevadíssimo) custo destas colunas. Por um lado, há a raridade e precisão de todos os materiais – não é usada madeira, apenas metal afinado à mão. Deu como exemplo as placas de alinhamento micrométrico dos altifalantes médios e agudos (que permitem calibrar o sistema): custam à Wilson Audio 32 mil dólares cada. Cada coluna tem duas. A estrutura de metal que sustenta essas placas custa nove mil dólares. E claro, há a exclusividade: alguns materiais foram criados de raiz pela empresa e a sua composição permanece secreta.

Por outro lado, há o arrojo tecnológico do conceito e a materialização de décadas de pesquisa e desenvolvimento levadas a cabo por David Wilson. Não é um segredo, mas é muito difícil de alcançar: o alinhamento perfeito dos altifalantes.

Uma questão de alinhamento

Ao longo dos anos, a Wilson Audio elaborou tabelas que medem a distância das colunas ao ponto de audição, a altura dos ouvidos em relação ao chão e a “assinatura temporal” dos amplificadores e dos cabos, ou seja, o tempo (o atraso, que se mede em microssegundos) que o sinal demora a chegar ao altifalante.

Para McGrath é esse o segredo: as Master Chronosonic conseguem corrigir as diferenças entre os equipamentos e alinhar o sinal de saída (traduzido em som) num “alinhamento temporal perfeito”. “It's about time”, diz McGrath, citando Wilson.

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Mecanismo de alinhamento dos altifalantes Pedro Dias/Imacustica

Esta calibração é importante porque o ouvido humano, além de identificar as frequências (agudos, médios e graves) é sensível ao tempo. Somos muito rápidos a identificar quando dois sons não são tocados perfeitamente em simultâneo – como o rufar “desalinhado” de dois tambores.

A capacidade de ouvir as frequências vai-se perdendo com a idade, mas o timing permanece praticamente inalterado durante a vida. McGrath afirma que a maioria dos engenheiros que constroem colunas de som “nunca prestaram muita atenção a este aspecto”, mas a Wilson Audio considera-o crítico.

 “Quando o alinhamento [timing] é perfeito, as colunas desaparecem”, diz McGrath. “O que fica é o que foi captado pelos microfones e pelo engenheiro de som. O som não se ouve a sair das colunas, o que se ouve é a representação tridimensional, quase holográfica, do som de estúdio ou do palco.” E isso, diz, é “mágico”. E é absolutamente verdade.

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Mais do que os números

Para um aspirante a audiófilo (no sentido de pessoa que tem como principal critério a qualidade do som, mas não tem dinheiro para lá chegar), a oportunidade era imperdível. E o cenário foi de encher o olho: o sistema incluiu, entre outras pérolas, dois amplificadores Dan D’Agostino Relentless (um por coluna); um leitor de streaming dCS Vivaldi One; um gira-discos TechDas AirForce Ones; e cabos Transparent Magnum Opus Generation. Naquela sala estavam instalados 1,5 milhões de euros em material.

Saber isto não servia para nada a não ser para aumentar a expectativa – e todos sabemos qual costuma ser o resultado disso. Mas o que aconteceu quando a música tocou foi aquilo que os especialistas que já ouviram as Master Chronosonic são unânimes em dizer: uma experiência única.

McGrath tinha razão: as colunas desapareceram e a sala encheu-se de som, vindo de todo o lado, com um brilho e profundidade só igualáveis pela experiência da música ao vivo (tocada sem colunas, bem entendido). Essa era a ambição de David Wilson e também por isso elas são “perfeitas”: são talvez a aproximação sonora mais realista alguma vez feita da música tocada ao vivo. 

As Master Chronosonic foram demonstradas com uma larga variedade de temas (o tal “concerto"): ópera, piano, percussão, cordas, rock, pop, música eletrónica e até uma peça coral gravada ao vivo nos anos 1950.

Não foi preciso grande poder de imaginação – bastou fechar os olhos e os artistas estavam mesmo ali; as vozes, os músicos e até a posição relativa dos instrumentos no espaço, tudo com um detalhe extraordinário. O poder de imersão é absoluto, não é preciso a força bruta dos decibéis. Alguns jornalistas experientes comentavam: “É mesmo como se não houvesse sistema, não há palavras.”

As colunas são tão boas que “tocam tudo”, garante o director comercial da Wilson. Ouvimos música a partir de CD, vinil e streaming de alta qualidade, e tudo soou maravilhosamente (em bom rigor, ninguém se atreveu a pedir para ligar as Master à aplicação do Spotify).

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O director comercial da Wilson Audio, Peter McGrath, conduziu a apresentação das WAMM na Imacustica Pedro Dias/Imacustica

O preço é um detalhe

Aquele som foi uma experiência ímpar e, quase de certeza, irrepetível para este aspirante a audiófilo. Apenas vão ser construídos 70 pares da WAMM Master Chronosonic. David Wilson assim o desejou e assim vai ser feito, garantiu-nos o director comercial.

Peter McGrath justificou a decisão com a dificuldade, por um lado, em encontrar mercado para este nível de preço (um milhão de euros dá para comprar três ou quatro Ferraris, a outra grande paixão de Wilson). Por outro, e tal como acontece com alguns carros, Wilson queria que as Master Chronosonic fossem vendidas apenas a pessoas que já fossem clientes da marca.

David Wilson fundou a Wilson Audio com persistência e método científico. Zoólogo e químico de formação, trabalhou na indústria farmacêutica antes de se dedicar a tempo inteiro ao desenho e construção de colunas, uma paixão que perseguia desde a adolescência. Em 1974, numa garagem na Califórnia, fundou a empresa que se mudou em meados da década de 1990 para a cidade de Provo, no Utah. O controlo sobre todos os aspectos das Wilson foi quase absoluto até há seis anos, altura em que se dedicou em exclusividade à construção das Master Chronosonic. Passou o controlo da Wilson Audio a um dos filhos, Daryl Wilson, que se tornou CEO da empresa.

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wilsonaudio.com

A dificuldade de produção também foi determinante para a decisão de limitar a manufactura a 70 unidades. Não existe uma linha de produção. Sempre que é feita uma encomenda, a fábrica tem de parar a produção corrente para fazer as WAMM Master Chronosonic — do pedido à entrega, o cliente espera entre dois e quatro meses. 

A montagem do sistema é acompanhada por um dos especialistas da Wilson e demora um ou dois dias. A presença do pessoal da marca justifica-se pela complexidade da montagem, mas também porque são os únicos que conhecem o som que é suposto sair daquelas colunas.

O ritmo de vendas é lento, mas quase metade das 70 unidades já foram compradas. Se valem um milhão? Peter McGrath afirma: “Quem consegue ouvir isto e pode pagar, compra.” 

Um milhão de euros paga a exclusividade do objecto, mas sobretudo a raridade do som. E, para muitos, isso não tem preço.