Greve dos enfermeiros custou mais de 12 milhões em quatro centros hospitalares

Cirurgias canceladas levaram a perda de receitas nos hospitais afectados. Até 13 de Fevereiro, 61% das operações estarão realizadas.

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Paulo Pimenta

A greve dos enfermeiros, que se realizou no final do ano passado, teve custos superiores a 12 milhões de euros em quatro dos cinco centros hospitalares afectados. Só no São João, a perda de receitas foi superior a cinco milhões de euros. Mais de 60% de um total de 7526 cirurgias canceladas em todas as unidades já se realizaram ou vão realizar-se até 13 de Fevereiro.

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A greve dos enfermeiros, que se realizou no final do ano passado, teve custos superiores a 12 milhões de euros em quatro dos cinco centros hospitalares afectados. Só no São João, a perda de receitas foi superior a cinco milhões de euros. Mais de 60% de um total de 7526 cirurgias canceladas em todas as unidades já se realizaram ou vão realizar-se até 13 de Fevereiro.

Em respostas enviadas ao PÚBLICO, o gabinete de comunicação do Centro Hospitalar de São João disse que entre os dias 22 de Novembro e 31 de Dezembro — período em que se realizou a chamada "greve cirúrgica" — não se realizaram 2478 das 3440 operações agendadas. Os serviços mínimos asseguraram a realização de 962. A greve gerou “aproximadamente uma perda de 5,15 milhões de euros de receita e um aumento de dois milhões de despesa”.

Já o director clínico do Centro Hospitalar do Porto (que inclui o Hospital de Santo António) explicou que é difícil dar resultados finais nesta fase, já que se por um lado houve perda de facturação e risco de acréscimo de custos com envio de doentes para o privado, por outro houve redução de custos com material e medicamentos que acabaram por não ser usados. "É provável que os prejuízos se aproximem dos cinco milhões de euros", estimou. José Barros adiantou que durante a greve o cancelamento de cirurgias afectou 1900 doentes. Realizaram-se no mesmo período 628 operações urgentes, mais 50 do que no período homólogo de 2017.

Menor impacto financeiro registou o Centro Hospitalar de Setúbal, que disse ao PÚBLICO terem sido canceladas 681 cirurgias das 1099 previstas. “A greve teve como consequência uma redução da facturação estimada em um milhão e 50 mil euros”, adiantou o gabinete de comunicação. Durante a paralisação, que afectou especialmente as áreas de oftalmologia, cirurgia geral e ginecologia, realizam-se 155 cirurgias abrangidas pelos serviços mínimos.

Na semana passada, o presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte afirmou, na comissão parlamentar de saúde, que foram canceladas 816 operações das 1450 agendadas. Carlos Martins estimou uma perda de proveitos de cerca de 1,8 milhões de euros e um custo estimado de 1,2 milhões de euros de produção realizada no exterior.

Cirurgias recuperadas

Segundo dados do Ministério da Saúde, a greve dos enfermeiros levou ao cancelamento de 7526 cirurgias nos cinco centros hospitalares. Destas, 2291 já se realizaram até 13 de Janeiro e outras 2314 estão agendadas até 13 de Fevereiro. As restantes cirurgias "serão programadas para realização até 31 de Março", quer em hospitais do Serviço Nacional de Saúde, quer em entidades convencionadas se o tempo máximo de resposta garantido for ultrapassado.

O Centro Hospitalar de São João esclareceu que têm 562 cirurgias agendadas para serem realizadas até ao final de Março e outras 875 que ainda não têm data marcada. Quanto à lista de inscritos para cirurgia, o gabinete de comunicação referiu um acréscimo de 1924 doentes, comparando dados de Dezembro com Novembro, e um aumento de três dias na mediana de tempo de espera.

No Centro Hospitalar do Porto "já operamos 654 doentes desmarcados", disse o director clínico, adiantando que "serão operados 813 até meados de Fevereiro e mais 346 até ao final de Março". Os restantes serão agendados em breve, com a ressalva de que uma nova "greve cirúrgica" poderá afectar novamente a unidade em Fevereiro. Quanto a lista de espera para cirurgia, "passou de 7700 para 10.000 inscritos" e a mediana de tempo de espera "passou de 65 para 71 dias".

Já no Centro Hospitalar de Setúbal, a lista de espera teve um acréscimo de 219 doentes, “que não foram suficientes para agravar a mediana de espera que se situa nos 4,6 meses”. Até ao dia 16 de Janeiro, o hospital já tinha realizado 165 operações e tem mais 286 agendadas até 13 de Fevereiro.

O PÚBLICO questionou também o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, mas não obteve resposta em tempo útil.