Potências ocidentais ocupam-se com o populismo e recusam ocupar-se dos direitos humanos
Fazer frente à opressão é cada vez mais uma tarefa para grupos de cidadãos: os países demitem-se dessa responsabilidade.
As maiores potências mundiais estão de tal forma afectadas pelo populismo e pelo descontentamento dos cidadãos com as opções políticas dos seus dirigentes que não têm a capacidade ou o interesse em defender os direitos humanos, nem quando se trata de defender a investigação de suspeitas da prática de crimes de guerra, afirma o grupo Human Rights Watch (HRW), que lançou esta quinta-feira o seu relatório anual sobre a situação no mundo.
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As maiores potências mundiais estão de tal forma afectadas pelo populismo e pelo descontentamento dos cidadãos com as opções políticas dos seus dirigentes que não têm a capacidade ou o interesse em defender os direitos humanos, nem quando se trata de defender a investigação de suspeitas da prática de crimes de guerra, afirma o grupo Human Rights Watch (HRW), que lançou esta quinta-feira o seu relatório anual sobre a situação no mundo.
Os Estados Unidos e os maiores países da União Europeia, que desde a Guerra Fria usaram a retórica dos direitos humanos como um instrumento de política externa, já não são parceiros em quem confiar, afirmou Kenneth Roth, líder da HRW.
A tarefa de fazer frente à opressão é cada vez mais deixada nas mãos dos grupos de pressão nacionais, afirmou Roth.
“Trump está demasiado ocupado a abraçar os autocratas que considera amigos dos EUA”, afirmou Roth. “O Reino Unido está completamente absorvido pelo ‘Brexit’. O Presidente francês Emmanuel Macron fala bem mas não põe nada em prática”, frisou. “Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel foi uma verdadeira heroína, mas tem sido assediada pela extrema-direita.”
França, Reino Unido e os EUA não aceitaram envolver-se com a HRW quando a organização os abordou com propostas para investigar crimes de guerra que teriam sido cometidos no Iémen, onde a Arábia Saudita lidera uma sangrenta guerra. Washington “desapareceu do mapa” neste assunto, e um Foreign Office soterrado numa agenda relacionada com o “Brexit” não tem “comprimento de onda” para mais nada, afirmou Roth. A investigação sempre se realizou com o apoio de outros países, com destaque para a Holanda, contou.
Os governos de Londres, Paris e Washington não quiseram pronunciar-se de imediato sobre os comentários de Roth.
A criação de coligações de países e grupos de activistas em alguns estados que estão a dar “uma forte resposta de direitos humanos” é um dos temas fortes do Relatório Mundial 2019 da HRW. Exemplos de sucesso, explicou Roth, são campanhas de rua contra os ataques à democracia na Europa e esforços para evitar massacres na Síria e para levar os responsáveis a responder perante a justiça por ordenarem a limpeza étnica da minoria rohingya na Birmânia.
Os 57 países da Organização de Cooperação Islâmica (OCI), que tradicionalmente se mantêm silenciosos sobre temas de direitos humanos — desde que não esteja em causa Israel — também surgiram recentemente como um aliado, sublinhou Kenneth Roth. Têm falado em defesa dos rohingya, que são uma minoria muçulmana perseguida na Birmânia.
Mas ainda não se viu a OCI levantar a voz pelos milhões de uigures — outra minoria muçulmana — que estão a ser detidos pela China naquilo que Pequim descreve como centros de reeducação. Esta situação é descrita por Roth como uma das crises humanitárias mais negligenciadas. “Conseguirão dar mais um passo e defender outro grande grupo de muçulmanos perseguido, quando não é um pequeno Governo que está em causa, mas a grande China?”, desafiou.